O FOGO vai voltar
Na semana em que os incêndios voltaram ao topo da atualidade, a ERC publicou uma série de conselhos para a cobertura informativa, os quais merecem ser analisados
OVerão está a ser atípico, com chuva e temperaturas abaixo da média. Isso tem evitado colocar à prova o dispositivo de combate às chamas, reformulado na sequência da tragédia de Pedrógão. Mas, na semana em que a Entidade Reguladora para a Comunicação social (ERC) publicou um “guia de boas práticas para a cobertura” dos incêndios, dois acontecimentos vieram recordar-nos que a ajuda da meteorologia há-de acabar. Numa autoestrada portuguesa, centenas de automobilistas entraram em pânico e entupiram a via para fugirem ao fogo. Segunda-feira, dezenas de pessoas morreram na Grécia, em incêndios que fizeram lembrar os de há um ano, em Portugal. A tentação do poder para silenciar os fogos nas tv`s é antiga. O documento da ERC insere-se nessa tradição, mas revela algum cuidado para não beliscar a liberdade de imprensa. Isso é uma novidade positiva no comportamente do regulador dos media. Mas o texto é omisso no essencial: como prova o pânico dos automobilistas na A13, que se encontravam isolados do mundo, só com mais informação, informação útil, prática e de serviço público, mesmo repetida à exaustão, a população poderá prevenir-se, e preparar-se para enfrentar uma calamidade como esta. Os organismos do Estado e da Protecção Civil deviam ser obrigados a dizer tudo, a toda a hora, e a arranjarem forma de se fazerem ouvir numa situação extrema como a do combate a um fogo florestal. Eis um contributo para o próximo documento da ERC, que se promete mais detalhado. Vamos debater este tema a sério, desta vez?