O vereador APANHADO
Quando um político “passa bem na televisão” e até constrói um discurso que agrada aos seus eleitores, mas é desmascarado em grave contradição, isso é... o fim da carreira de Ricardo Robles
Ocaso é exemplar a vários níveis. Desde logo,é um bomre trato do Portugal destes anos. Prova como, hoje em dia, é no imobiliário que se fazem fortunas, tal como no passado foi na Bolsa ou nos fundos estruturais. Mas esta história também nos ajuda a descodificar os discursosideológicos prevalecentes, aqueles que preenchem a maior parte do tempo televisivodedicadoàpolítica.Roblesbrilhouporque era um jovem que “passava bem na televisão”. Além disso, o antigo vereador é, também, um bom exemplo da forma como os políticos usam a linguagem para construir uma realidade paralela, que, muitas vezes, acaba por ses obre poràprópr ia realidadereal, digamos assim. Na diferença entre o discurso eaprática,Robles não difereemnadadageneralidadedopoder em Portugal, a chamada “geringonça”.Roblesdizumacoisaefaz outra. Não tem sido assim o quotidiano do País? Da afirmação do fim da austeridade, enquantoos impostos disparam, até aos sucessos na educação o una saúde, enquanto os serviços definham: sobre praticamente todos os temas, a geringonça diz uma coisa, e faz outra. Tale qual o investidor imobiliário do Bloco de Esquerda. Não se tratam de simples mentiras, porque essas são relativamente fáceis de desmascarar. Trata-se de colocar a linguagem ao serviço da ideologia: Ricardo preparava-separaganhar milhões coma recuperação de um prédio, enquanto Robles construía uma carreira política a atacara especulação imobiliária. RicardoRobles, no discurso ena prática,éo irmão mais velho, a síntese perfeita, o político-modelo dos anos da geringonça. ● Ricardo Robles apanhado numa teia de
mentiras.