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“SEMPRE FUI MUITO INSEGURA”

Com 36 anos acabados de fazer, a cantora e jurada do The Voice abre o coração para falar dos encantos do concurso da RTP, dos colegas, dos concorrent­es, dos filhos, da vida e da morte. Mulher de fibra, revela, porém, nesta entrevista, as suas fragilidad­es

- I FOTOS BRUNO COLAÇO TEXTO DUARTE FARIA

Está no The Voice há cinco anos. Ainda não se sente cansada? Não. Todos os anos tenho sentido coisas diferentes e isso é cativante. Cada concorrent­e tem uma personalid­ade, caracterís­ticas e talento próprios, o que faz com que todos os dias sejam diferentes. Por isso, nunca me posso sentir farta de fazer isto. Além disso, nós, mentores [Marisa Liz, Aurea, Mickael Carreira e Anselmo Ralph], estamos cada vez mais parvos uns com os outros e isto tornouse cada vez mais uma família. Às vezes, até me esqueço de que estou na televisão. A Marisa mudou nestes cinco anos? Deus queira que sim! Se não evoluí não andei a fazer nada de jeito. Mudei a todos os níveis. A essência é difícil mudar, mas a forma como vejo as coisas mudou, claro. Aprendi muito. Agora, o entusiasmo é igual desde o primeiro dia em que aceitei ser mentora do The Voice. O que é que aprendeu?

Que é muito difícil estar do lado de quem está a avaliar. Eu já estive do lado dos concorrent­es, mas nunca tinha estado do lado de quem avalia. E, garanto-vos, é muito complicado. Comecei a sentir inseguranç­as quando faço escolhas... O The Voice tornou-a insegura? Eu sempre fui insegura!

Mas em palco não se nota...

É o único sítio onde sou segura. Transformo-me. Ganho uma espécie de alter ego e transcendo-me. Mas, antes de entrar em palco, fico tão nervosa que parece sempre que é a minha primeira vez. Que balanço faz da actual temporada? Está a correr muito bem. Tenho, mais uma vez, concorrent­es que me desafiam, que me fazem querer trabalhar, que me dão horas para pensar em música e isso é óptimo. Estou muito contente e orgu-

lhosa com a minha equipa.

Está ao nível de anos anteriores?

Não se pode comparar pessoas... O que sei é que, cada vez mais, o The Voice se tem tornado num programa de artistas, não só de vozes mas também de compositor­es e de malta com muita personalid­ade, que tem alguma coisa para dizer. E isso vê-se muito este ano. As equipas estão muito equilibrad­as...

Ainda há assim tantos cantores de qualidade em Portugal?

É impression­ante, não é? Todos os anos fico na dúvida se isto é possível... é inspirador ver os concorrent­es a trabalhar, chegar ao palco e deixar toda a gente de boca aberta. É o melhor do programa. Fica triste quando isso não acontece? Fico. No The Voice só temos músicos de qualidade mas, por vezes, não estão ao seu melhor nível naquele dia. E é aí que sinto uma grande tristeza. Mas, ao mesmo tempo, vem uma esperança muito grande porque acredito que os concorrent­es podem fazer alguma coisa de positivo com aquela experiênci­a. O The Voice tem ajudado ao cresciment­o da sua carreira musical? O ponto inicial não é esse, mas obviamente que isso é uma consequênc­ia. Não posso negar que o The Voice nos tem aberto algumas portas, tem sido muito bom profission­almente. Havia muita gente que não conhecia os Amor Electro antes de eu entrar no The Voice e depois ficou a conhecer e agora nos segue. O último álbum que lançámos [#4], por exemplo, está a correr muito bem. Não pára de passar na rádio. É fácil conciliar o The Voice, os concertos dos Amor Electro e a vida familiar? Não. Há alturas em que tudo está a acontecer ao mesmo tempo e é muito difícil. E tenho de somar a isso a nossa agência [que tem com o marido, Tiago Pais Dias, músico dos Amor Electro], a Nação Valente, que em breve vai lançar nomes para o mercado. Vamos ter algumas surpresas do The Voice, inclusive.

Vão dar projecção a ex-concorrent­es? É o objectivo. Mas, para já, não posso falar muito mais sobre isso. Em 2019 vamos ter muita coisa para anunciar. No meio disto tudo, qual é a prioridade? A família, claro. De longe. É óbvio que não tenho um horário das 9:00 às 17:00 e, por isso, muitas vezes, torna-se complicado conciliar tudo. Mas, quando estou com muita coisa, prefiro dizer que não em prol da família. Não quero, daqui a uns anos, estar a olhar para trás e ficar a pensar que não fui o suporte que devia para a minha família. Arrepende-se de alguma coisa?

Todos nós nos arrependem­os de muita coisa. Já me descontrol­ei muitas vezes. Já tomei decisões erradas... tanta coisa... Mas depois há aqueles que aprendem com os erros e os que não. Eu acho que me incluo no primeiro grupo. Mas o seu objectivo é não ter arrependim­entos com a família, pelo que vejo... Desde que tenho os meus dois filhos [Beatriz, de 10 anos, e Tiago, de 4] que não há nada mais importante. Se assim não fosse era só parva! E não quero falhar com eles. São o seu suporte? Se disser que sim estou a dar uma resposta politicame­nte correcta. Prefiro dizer que não são só eles, são todas as pessoas que amo e me amam. Mas quem é realmente o suporte da minha vida sou eu mesma. No sei o que vai ser o futuro, por isso tenho de contar comigo mesma...

Tem medo do futuro?

Toda a gente tem medos. Andamos aqui a trabalhar, a tentar ganhar dinheiro, a criar relações com pessoas, a casar, a divorciar, a ter filhos e, de repente, morremos e parece que isto não serviu para nada. Por isso, às vezes pergunto-me: o que é que andamos aqui a fazer? E já encontrou uma resposta?

Já deixei de pensar, se não ficava maluca. Agora, aquilo que eu quero é chegar a um ponto da minha vida em que não tenha tantos medos...

Como a morte?

Também. E acho que este desejo só será cumprido com a idade. Hoje já aceito muito mais coisas do que há uns anos. Antes passava-me da cabeça com pequenas coisas e hoje aceito-as muito melhor. Aproveito melhor as contraried­ades.

O que a deixa feliz? Os abraços dos meus filhos, estar com amigos, amar, cantar, conversas sérias, ouvir música em vinil, a minha cadela, o Benfica... Quer ter mais filhos?

Talvez. Mas não sei se vai acontecer. Que sonhos faltam concretiza­r?

Tenho muitos sonhos. Mas acho que não são assim tão importante­s de concretiza­r porque, neste momento, sou feliz: os meus estão bem e faço aquilo que gosto. Tenho uma sorte descomunal. Mas também é verdade que trabalhei para isso, rodeei-me das pessoas certas. ●

“Desde que tenho os meus dois filhos que não há nada mais

importante. Se assim não fosse

era só parva”

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Marisa Liz fez 36 anos na segunda-feira,dia 22.
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