TV Guia

“Eu servia para LIMPAR O PO´”

Quando se prepara para voltar à RTP1, com Cosido à Mão, o alfaiate dos famosos tenta ser construtiv­o com os concorrent­es, porque levou muitos “nãos” na vida. Aos 40 anos, ainda tem segredos para revelar

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Vamos assistir a uma segunda temporada de Cosido à Mão, da RTP1, muito diferente da primeira? Vai ser uma edição fantástica, muito boa mesmo. Adorei ter feito a primeira, porque não sabia ao que ia, nunca tinha feito televisão na minha vida. Que dificuldad­es sentiu na primeira temporada? Além de ser a minha estreia, gravámos num armazém. Tínhamos muito pouco tempo para gravar os episódios, gravámos um por dia e durante imensas horas. Eu até dizia: “Eh pá, isto de fazer televisão édifícil, épux ado ”, mas depois disseram-me que fizemos omeletas quase sem ovos.

Mas, pelos vistos, correu bem. Correu, e a ver da de équen esta segunda temporada a RTP e a produtora fizeram um esforço e já temos um estúdio, aluzédi ferente, a qualidade de imagem também. Temos o triplo do espaço para nos movimentar­mos e gravar. Era preciso haver mais variedade de tecidos para os concorrent­es escolherem. Temos uma retrosaria que é um mundo. A minha área, sou fascinado por trapos. O Paulo e a Susana [Agostinho] tiveram intervençã­o nessa logística, aconselhan­do compra de tecidos, de preparos? Não, mas, desta vez, tivemos certos cuidados, houve reuniões anteriores para podermos definiras provas, o tem podas provas, que ti pode desafios iríamos lançar. Depois, houve o cuidado de alargar os dias de prova para dia e meio a dois dias. O horário não será tão pesado. Sentiu-se mais confortáve­l nesta temporada? Senti. Adorei a primeira e só vou lá para avaliar aquilo em que me sinto confortáve­l, não me esquecendo que tenho de ser um crítico construtiv­o. Tenho à minha frente pessoas com sonhos e já chega, no final do episódio, ter de eliminar um deles. Já levei muitos nãos na cara e por isso tento ser construtiv­o. É uma área em que as pessoas se estão a reinventar.

Era uma profissão em desuso e que agora está na moda e num registo fora da caixa.

É como um canalizado­r ou um electricis­ta que nós precisamos no dia-a-dia. Mas estaéu ma profissão muito de artesão. Tem noção de que oquefa zé um pouco de artesanato? E usou um artesão. Quando me perguntam se sou estilista, passo-me. Eh pá, tenho todo o respeito pelos estilistas, a Susana Ag os tinhoé-oe sei queéprec is oal

guémquevej apara lá de qualquer coisa. Mas eu assumo-me como artesão, ponto. Eu faço fatos como faziam os nossos avós, só que os faço coloridos e comflores. Issoéomeug os to.

E nesta segunda temporada, o que vai ser diferente da primeira? Já aparecem costureira­s a sério. Sabem para o que vão, como a logísticas e processa, compreende­m a pressão. Já estão maispre parados eépo ris soque acho que vamos ter um programão.

Disse há pouco que levou muitos nãos. Como foi? Andou a marcar passo? Andei. Comecei sem querer a trabalhar na alfaiatari­a, numa cadeia grande. Era subgerente na Massimo Dutti, no Colombo, convidaram-me para o El Corte Inglés, porque foram buscar aqueles que acharam ser os melhores cada área elevaram-me. Quando fui para oElCorteIn­gl és não gostei daquilo. Estava habituado a um contacto directo com o cliente e fez-me confusão ser tão disperso.

Funciona quase como uma fábrica? Sim, eé muito disperso. Eles são óptimos na formação e surgiu a oportunida­de de aprender alfaiatari­a em Espanha. Aceitei, naquela de“deixa ver o quedá” e quando voltasse“logos e via ”. Tinha estudado artes e adorava geometria descritiva. Istoéumboc ado degeomet ria descritiva, um bocado de matemática. O nosso corpoé matemática, a fita métrica é ‘numerizada’ e aquilo deve bater certo. A geometria desc ri tivaépass arde traços para um 3 D, que éo corpo. Adorei aquilo desde o primeiro dia.

E adorou sem ter uma referência próxima na profissão.

É verdade, adorava ter tido um avô ou um pai alfaiate. Se calhar nasci alfaiate e não sabia. Tive muito apoio dessadepoi­s fui para a Rua da Palma, para a Academia Maguidal. Na altura, os alfaiates não davam aberturas elevei muitos nã os. Eu servia par alimpar prateleira­s, limpar o pó e fazer pedidos. Não o deixavam fazer nada?

Nada. Zero. “Vai limpar o pó que está bom!”

Com que idade?

Com 23 anos.

Não davam abertura porque não queriam concorrênc­ia.

Acho que não. É uma profissão dura. Estamos a falar de pessoas com 60 anos, ou mais. Nunca tiveram um rebuçado. Eles começaram nos anos 60 e 70 e eram uns nomeio decente nas. E uma fase da vida, em 2000, em que eram quase os únicos. E tinham

medo…Hoje,ponho-me no lugar deles e compreendo. Na altura, com 20 e tal anos, não compreendi­a nada.

A maior parte deles não passou o testemunho e aquilo morreu ali.

A maioria deles ... com medo. A alguém lhe si atirar o lugar. Eu, na altura, não era nada, mas já achava que era. Tinha tirado o curso e achava que já era alfaiate, mas não era nada, nem aprendiz. Tive a sorte deter aAcademia Mag ui dal, naRu ada Palma. Já não davam cursos há 20 anos e aparece lá uma alminha a pedir para tirar um curso, foi um fartote de rir comigo, mas deixaram-me tirar o curso. Continuou no El Corte Inglés?

Sim, mais quatro anos. Depois, soube que ia abrir um El Corte Inglés no Porto. Para melhorar a minha vida, queria ir para lá como alfaiate, mas não fui. Fiquei desiludido, parecia que a vida ia acabar. Fiquei triste. Procurei trabalho e fui parara o Rosa& Teixeira. Fiquei lá sete anos. Nunca lá fiz o que gostava, queé criar. Estava como responsáve­l doapoioà loja. As pessoas compravam fatos e eu subia mangas, bainhas. Os famosos “arranjos”. Exacto. Para a o meu desempenho era bom, agora, para mim, enquanto profission­al, não era aquilo que queria. Nunca desanimei, nunca faltei. Nunca cheguei atrasado, nunca nada, até que, uns dois anos antes de sair, tenho a sorte de a minha mulher, a Susana, trabalhar na Maló Clinic e acompanhar o Manuel Luís Goucha sempre que ele lá ia. E deu-se uma reviravolt­a na sua vida Deu. OM anel queixou-seque tinha um fato que ninguém arranjava e a Susana disse-lhe: “Olhe, o meu marido é alfaiate!” Lá continuei eu a fazer arranjos, já estava habituado [risos].

Com um arranjo ganhou um cliente fiel. Ganhei. O Manel tem uma coisa muito boa: ele paga tudo, não quer ficar a dever nada. E quis pagar. E eu disse: “Não, nem pensar, o meu primeiro cliente de casa e logo quemé, ai Jesus !” Então ele, de uma forma simpática e generosa, disse-me :“Então, senão cobra, vai-me fazer um casaco, queé para pagar.” E eu vi ali uma oportunida­de de trabalhar em casa e dar tudo. E dei tudo. Aquele era o meu teste o meu change the live. Correu muito bem, ele ficou surpreso e começou a encomendar-me fatos. Trabalhava no Rosa & Teixeira, das 10:00 às 19:30, às vezes mais, mas, nesse tempo, a minhaem casa, mortinho por chegar ecos eràmão,p um, pum, pum, até às 3 e 4 da manhã. Era a minha paixão. De repente, Diogo Morgado e os futebolist­as começam a procurá-lo? Começa com o Diogo, depois veio o Ad ri enSilva,m as atenção porque já conhecia o Ricardo Quaresma de miúdo, éramos do mesmo bairro. O Adrien é um bom miúdo e depois foi um passapalav­ra fantástico.

As redes sociais deram um grande impulso ao seu trabalho?

Sem dúvida que ajudou, mas o que eu acho é que a profissão ajuda. A alfaiatari­a estava preparada para as redes sociais?

Não estava nada preparada. Acho que consegui pôr a profissão de alfaiate ao lado das griffes, do que há de melhor. Mas, de lá para cá, os homens estão cada vez mais preocupado­s com a imagem, em estarem bem?

Sem dúvida, e temos de estar. Vou ao barbeiro duas vezes por semana. São cultos que o homem tinha e que perdeu. Não sou metros sexual, sou um gajo que gosta de tratar daimagem. Gostode ir ao barbeiro, de ouvir o som da navalha, seja na barba ou no cabelo, porque a navalha antiga, quando fecho os olhos, transporta-me para outros tempos.

Vale mais do que ir a um SPA?

Não tenho tempo para SPA. Sou um homem muito focado no meu trabalho. Nem tenho tempo para ira um ginásio. Tem a vantagem de não engordar. Não, tenho a vantagem é de conseguir não comer muito. O peso é um drama. Para si, o peso é um drama? Como? É um drama controlar-me. Porque se puder, depois de almoçar uma feijoada e no fim puder comer um pudim de ovos e duas mousses de chocolate, como. Sou um doceiro por natureza, mas mesmo não indo ao ginásio o organismo ainda reage bem. Não me privo ... mas sem e apetecer come ruma mousse de chocolate digo para me trazerem um abacaxi. Lembro-me de que quando era miúdo atacava no frigorífic­o de casa e era capaz de “limpar” dez toucinhos do céu. ●

“Não sou metrossexu­al. Sou um gajo que gosta de tratar da imagem, de ir ao barbeiro. Quando fecho os olhos, a navalha antiga transporta-me para

outros tempos.”

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TEXTO JOÃO BÉNARD GARCIA I FOTOS RICARDO RUELLA
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Paulo Battista diz que é “umartesão” e que todos os dias, às sete da manhã, está no atelier.

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