A festa BRAVA na RTP
O Primeiro-Ministro António Costa diz que fica “chocado” por a televisão do Estado transmitir espectáculos tauromáquicos, mas que não lhe ocorre “proibi-los”. Haverá espaço para a tourada na RTP?
Aforma como o PS e o Governo estão a lidar com o tema do IVA na tourada é uma lição de ciência política. Orçamentalmente, Manuel Alegre tem razão: diz o histórico socialista que baixar o imposto dos espectáculos tauromáquicos é uma irrelevância para a conta do Estado. O problema é que a descida do IVA poderia ser entendida como uma forma de apoio à lide dos touros, e a nova ministra da Cultura radicalizou o debate ao dizer que evitar esse apoio é uma questão de “civilização”. Ou seja, apoiar a tourada escalda nas mãos da esquerda politicamente correcta, e também do Governo, entalado pela necessidade de garantir maioria parlamentar. A solução para o problema foi um achado. O Primeiro-Ministro António Costa e o Governo estão contra a baixa do imposto. O grupo parlamentar do PS e o seu líder, Carlos César, estão a favor. E assim, ninguém perde a face, o imposto talvez baixe mesmo, aprovado pela maioria dos deputados, maioria essa só possível com o apoio de alguns socialistas, e o tema sai da agenda. Se a dialéctica pega, o PS pode acolher a tese e a antítese de todas as matérias e transformar-se no partido da síntese. Acessoriamente, a polémica atinge a RTP. Com a mesma receita de dar uma no cravo outra na ferradura, Costa colocou uma enorme pressão sobre a TV do Estado ao dizer que fica chocado com a transmissão de touradas no serviço público, mas que não lhe ocorre proibi-las. Será esta uma forma de acabar com o espectáculo dos touros na RTP, sem que ninguém apareça como o verdadeiro responsável pela decisão? Os próximos tempos o dirão. ●