Peça com muito AFECTO
Um texto que cruza a história de quatro pessoas com a realidade política da África do Sul dos nossos dias. Para fazer pensar
ONDE RECREIOS
DA AMADORA QUANDO QUA. A SÁB., ÀS 21:30; E DOM., ÀS
16:00 PREÇO 10€
Elsa Valentim diz que quando leu, pela primeira vez, a peça Tristezas e Alegrias, de Athol Fugard, não teve a percepção clara do que tinha à sua frente. “Pareceu-me uma peça sobretudo política, e na verdade é muito mais do que isso”, diz a actriz, agora que o espectáculo estreou nos Recreios da Amadora, e que se vê, todas as noites, a discutir com outra mulher sobre o homem que ambas amaram. “Há um lado íntimo neste texto a que no início não fui sensível e que, no entanto, fala muito ao coração ”, reflecte. A peça, que tem encenação de José Peixoto, conta a história de um homem, que já morreu, recordado por duas mulheres – uma branca e uma negra – com quem teve relacionamentos íntimos mas a quem deixou memórias muito diferentes. Com a negra (interpretada por Laurinda Chiungue), teve uma filha (Ana Valentim), mas numa África do Sul ainda a viver sob o regime do Apartheid, não lhe foi permitido casar com ela.
Com a Branca (Elsa Valentim), casou, mas não conseguiu ter filhos. “Estastrêsmulheres [incluindo a filha],encontram-seemcircunstâncias extremas das suas vidas, num momento de ajuste de contas com o passado. A amargura que sentem umas relativamenteàsoutrasvaiextravasarempalco, num embate que tem muito decatártico.” Admitindo que é muito difícil estar em cena duas horas – com muito texto para dizer e muitas emoções para sentir –, Elsa Valentim considera que este Tristezas e Alegrias, que ficará em cena até Dezembro, vai ter efeitos diferentes em públicos distintos. “A recepção do espectáculo vai depender da experiênciapessoaldecadaespectador.Aspessoas que viveram nas colónias, por exemplo,vãoidentificar-secomalgumascoisas, as outras serão mais sensíveis a outros aspectos do texto”, conclui. ●