A VELHA HISTÓRIA
Há responsáveis na tragédia de Borba: o ministério da Economia, que licenciou, não fiscalizou, não controlou e permitiu que a avidez do empresário levasse a eito a ganância da exploração; e as câmaras municipais
Repete-se a velha história. Já foi assim quando caiu a ponte de Entre-os-Rios. Depois da tragédia, o governo desperta. Quer saber rapidamente o que falhou, como falhou, porque falhou. Surgiram muitas notícias de muitas outras pontes em risco. Tal como agora, contando de estradas em risco. A morte traz sempre urgência na explicação, porém nestes casos, este voluntarismo, com tantos estadistas a ir ao local da tragédia, com tantas expressões de solenidade hipócrita, é apenas a primeira cortina defumo para encenara desculpabilização, adiando, ou inventando, responsáveis em que o governo nunca está presente. Não se iludam. Vejam a tragédia dos incêndios. A caminho do banco dos réus segue uma série de personagens menores. Do SIRESP, apontando como o grande falhanço, nem um responsável lá está. Agora vai ser outra vez assim. E há responsáveis directos e claros na tragédia de Borba. Em primeiro lugar, o ministério da Economia, que licenciou, não fiscalizou, não controlou, e permitiu que a avidez do empresário levasse a eito a ganância da exploração. Em segundo lugar, são responsáveis as câmaras municipais. Dada a falta de controlo e a submissão ao dono da pedreira, deixando-o a explorar até ao limite da morte. Há muito que deveriam ter interditado aquela estrada que atravessava um Apocalipse com hora marcada. E finalmente, o empresário. Não se pode escudar nas licenças que um Governo sem controlo, desleixado, lhe foi emitindo com a maior das indiferenças. Mandava a sua consciência, a sua responsabilidade social, o seu compromisso moral com a comunidade, que não abusasse da mediocridade do poder. Abusou. E deu-se a tragédia. É certo que existem na lei comissões de fiscalização de risco para estradas, obras de arte e tudo quanto diz respeito ao controlo da segurança viária. É certo que vão sair dezenas de vozes e documentos que atestam a eficácia de tal instituto em alerta contra estes perigos. Mas também é certo que, ao falar com as populações, se percebe que essa fiscalização é invisível, nunca está onde esteve o perigo e só ser para ser mais um bom motivo de desculpa para o Estado. Ninguém espere que mais este terrível acidente seja uma lição para quem manda. Será sempre assim. É esta a grande montra da inutilidade dos nossos impostos. ●