Pedro Carvalho brilha em mais uma novela brasileira
“O meu pai é um GUERREIRO”
Aos 34 anos, o ator tornou-se figura de destaque na Globo. Agora agarrou o papel de Abel, em A Dona do Pedaço, mas isso não o faz esquecer as origens e muito menos a família e amigos com quem está sempre em contacto. O pai, esse, já venceu o cancro por três vezes
Volta a ser uma das figuras centrais de uma novela da Globo. Sente-se já uma cara do canal, como em tempos foi na TVI? Tento pensar no agora, aproveitar ao máximo cada oportunidade. Mas sem dúvida que, depois de fazer três telenovelas no Brasil, sinto a Globo como a minha segunda casa, o local de trabalho. Colegas e amigos de profissão também ajudam muito a que isso se torne possível. Estou muito feliz com a aposta que a Globo
tem feito em mim. Nesta novela, A
Dona do Pedaço, ganhei o meu espaço com o carinho que o público foi criando pela personagem, o Abel, e em tão pouco tempo já se tornou uma das personagem centrais da história.
Como se sentiu com o convite para esta novela?
Quando terminei a novela anterior (O Outro Lado do
Paraíso), senti o carinho e a repercussão que a personagem Amaro tinha tido no público, principalmente quando ficou cega. Foi uma personagem bastante polémica por ser um vilão e pelo par romântico ter sido com uma anã. Então acho que toda essa conjuntura levou a que me convidassem a fazer a novela seguinte. Em A Dona do Pedaço dá vida a um padeiro, conquistador. Houve algum tipo de preparação?
A Globo é exímia na preparação para cada projeto, tive vários ensaios de leitura, interpretação com a Paloma Rianni que é a coach da novela, aulas de corpo com o Vinícius, ensaios de câmara, diversos workshops de confeitaria onde aprendi mesmo a fazer bolos e vivências em fábricas. Depois, dei o meu toque de humor à personagem. A seguir, o Abel é um playboy muito quadrado nas suas ideias, muito distraído, bronco e ingénuo. Tudo isso levou à composição da personagem e o público adora. A escrita do Walcyr Carrasco ajuda muito porque ele tem um texto cómico!
Como tem estado a correr?
Não podia estar a correr melhor, acho que nunca tive uma reciprocidade tão grande com uma personagem como esta. Nos grupos de discussão da novela
que fizeram para apurar várias coisas, o Abel e a Britney estão entre as personagens mais queridas do público. Estou muito feliz com isso e adoro fazer esta personagem leve. Divirto-me imenso. Uma das histórias centrais da sua personagem é a paixão pela transexual Britney, um papel polémico num Brasil tão politizado. Como é que o público está a reagir?
Tenho tido a sorte de dar contracena a personagens extremamente diferentes e que representam pessoas que na nossa sociedade são de alguma forma ainda ostracizadas. É importante dar visibilidade e ajudar a normalizar a diferença. No Brasil, o público torce muito pelo casal. Ainda que sejam personagens cómicas, fala-se de assuntos muito sérios que precisam de ser falados. E acho que, desta forma leve, a mensagem chega de forma mais eficaz ao espectador. E como tem apoiado a Glamour Garcia? E num papel polémico…
Em 15 anos de carreira, posso dizer que nunca tive uma parceria de cena tão alto astral, extremamente talentosa e generosa e acho que, por causa disso, as personagens estão a dar tão certo. A Glamour é uma verdadeira força da natureza.
Como é trabalhar com as grandes estrelas brasileiras? Ainda olha para elas como um ídolo, ou já não?
Primeiro de tudo, é uma honra imensurável e um privilégio poder trabalhar ao lado de profissionais que são referências na nossa arte e trocar ideias com eles, dentro e fora do cenário. Nunca me esquecerei do primeiro dia em que gravei com a Fernanda Montenegro e o Lima Duarte... ou com a Juliana Paes e a Betty Faria... São verdadeiras referências e monstros da representação. Mas em cena somos todos pelo mesmo objetivo e nunca senti qualquer sentimento de inferioridade. Todos fazem-me sentir completamente abraçado e em casa.
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA
Está feliz com esta mudança de armas e bagagens para o Brasil?
Toda a minha carreira até hoje tem sido pautada por escolhas muito ponderadas onde a primazia é e sempre será o desafio e o crescimento profissional. Tenho cada vez mais vontade de investir no mercado internacional. Mas isso não in
“Em 15 anos de carreira nunca tive uma parceria de cena tão alto astral, extremamente talentosa e generosa. A Glamour Garcia é uma força da natureza”
valida que não volte a representar no meu país. Muito pelo contrário, dependerá sempre da proposta, do projeto. Por exemplo, depois de O Outro Lado do
Paraíso, fui para Portugal fazer Terra Nova, do Joaquim Leitão, porque o projeto me pareceu muito aliciante. Não quero deixar de trabalhar no meu país, jamais! O ideal é ir fazendo esta ponte aérea Portugal-Brasil entre trabalhos. Já pensou ficar no Brasil para sempre? Para sempre é algo que não podemos prever, eu vivo o momento presente, claro que tenho planos para o futuro que eu idealizo, mas a vida dá muitas voltas. Neste momento, tenho casa em Lisboa e no Rio, e a minha estadia em cada lugar vai sempre depender do projeto. Está a viver de armas e bagagens no Brasil. Não sente falta da família? Sim, sinto muita falta dos meus amigos e da minha família, que são o meu pilar. O que é que o apaixona no Brasil? O clima, as várias regiões do Brasil tão diferentes e tão bonitas, a gastronomia, o perfil descontraído e espontâneo inerente ao brasileiro, o desafio de poder ter o privilégio de trabalhar numa empresa como a Globo em projetos de muita qualidade e com atores que sempre admirei.
Fala-se sempre da insegurança no Rio de Janeiro. Continua a viver pacificamente e sem medos?
Até hoje, não passei por nenhum susto. Os seus pais não têm medo que lhe aconteça alguma coisa?
Pais são pais e vão sempre preocupar-se com a minha segurança e bem-estar, onde quer que eu esteja. E ainda bem. Esse cuidado e carinho deles faz-me bem. Os conselhos dos meus pais são essenciais.
Calculo que a saudade seja hoje uma palavra que esteja mais incrustada no seu vocabulário. Como a mata? Vem cá muitas vezes?
WhatsApp, FaceTime, Instagram, videochamada... Temos um grupo no WhatsApp de família que a toda a hora tem fotos das minhas sobrinhas, vídeos e áudios meus e dos meus pais, da minha irmã... Só vou para Portugal quando termino de gravar um projeto. Nesta novela, por exemplo, durante as gravações é completamente impossível. Com o sucesso da novela e da personagem estou a gravar de segunda a sábado. O seu pai passou por vários sustos por causa do cancro. Isso não o fez querer ficar mais perto da sua família?
Foram alguns anos de aperto com a saúde do meu pai e sempre que ele faz uma consulta de rotina, são dias de grande ansiedade até receber os resulta
dos. Mas, felizmente, ele está curado, o que me dá mais tranquilidade por estar tão longe. O meu pai está muito bem acompanhado por uma mulher maravilhosa, a minha mãe, e pela minha irmã, que trabalha na área. Além disso, os meus pais incentivam-me muito a que eu lute pelos meus sonhos. Espelho-me neles nesse e em muitos aspetos. Já agora... como é que ele está? O meu pai é um guerreiro, já venceu o cancro três vezes. É uma inspiração de otimismo. Nunca perdeu o sentido de humor que o caracteriza e sempre nos transmitiu muita esperança. É uma grande lição de vida.
FÃS ATREVIDAS
Falemos de coisas mais leves… o
Pedro coloca muitas fotos em tronco nu, mostrando estar em excelente forma física. Fá-lo para se sentir bem ou porque “o Brasil” assim obriga?
Sou muito espontâneo nos posts que faço no Instagram e nas instastories...
Gosto muito de desporto, faço crossfit, gosto de correr na praia, fazer trilha. E o clima do Brasil permite tudo isso. Nos últimos anos, consegui adequar o desporto a uma alimentação saudável com alguns ajustes e acho que a combinação de tudo isso leva, sobretudo, a uma mente sã e organismo saudável. Como se mantém em forma? Faço aulas de spinning, ando de bicicleta e corro no calçadão, faço
crossfit e recentemente comecei a ter aulas de boxe. Falou muitas vezes que era abordado na rua por fãs que eram sempre atrevidas. Como é agora? Sempre que gravo a novela, andar na rua, ir à praia ou até a um centro comercial é impossível passar despercebido. É bom receber este carinho do público, a recetividade tão calorosa. É sinal de que as pessoas gostam do nosso trabalho e é para elas que trabalhamos, contando as nossas histórias. Lembra-se de alguma história engraçada com um fã?
Aqui já tive várias. Durante a novela passada, várias mulheres queriam tirar fotos comigo de joelhos, porque diziam que queriam ser a “minha anã”. Nesta novela já tive carros de fãs à porta do condomínio onde moro, faixas e cartazes a cantar a música da minha personagem e da Britney, que se chama Só o
Amor (cantada pela artista Preta Gil), envio de lingerie para o escritório da minha empresária com cartas de amor, propostas de casamento. E, é claro, pedem para eu fazer bolos...
Reparo que tem algumas propostas atrevidas na sua rede social, quer de mulher quer de homens, com frases muito quentes. Isso incomoda-o?
Não. O contacto direto com os artistas ficou muito mais facilitado com a era das redes sociais. O importante é que todos se tratem com respeito.
Desde que foi para o Brasil, tem mantido uma vida amorosa discreta… como está o seu coração?
O coração está ótimo, frequência cardíaca e pulsação normais, típicas de um desportista. Muito saudável (risos). Não sente falta de estar apaixonado? Sou um eterno apaixonado pela vida. O que faz quando não grava... ainda passeia pelo Brasil?
Tento viajar para partes do país que ainda não conheço. E com cada lugar novo que conheço fico mais impactado que o anterior. Realmente, o Brasil é um verdadeiro paraíso tropical com paisagens de arrebatar.
ARMADO EM REVOLUCIONÁRIO
Como disse, esteve em Portugal a gravar a série Terra Nova, da RTP1. Fale-me um bocadinho dessa aventura... Assim que o Artur Ribeiro ligou a convidar-me e enviou o roteiro fiquei muito entusiasmado. Gostei da história, da personagem. Ele ainda referiu que tinha vontade que eu fizesse o filme, mas, para mim, por questões de agenda, era impossível. Acabei por fazer a série. Fale-me da sua personagem...
É o Nunes, um dos quatro amigos, o revolucionário, que luta pela democracia do País, muito convicto e destemido nas suas ideologias políticas e com vontade de mudar o rumo da história. Chega a ser preso e torturado pela PIDE. É graças a ele que hoje Portugal é um país pautado pela democracia e pela liberdade de expressão. Trabalhar sob a direção do Joaquim Leitão já era um desejo meu há muito tempo. Gostei muito da direção dele e de fazer um projeto de época.
“Sempre que o meu pai faz exames de rotina, são dias de grande ansiedade até receber os resultados, mas felizmente ele está curado, o que me
dá tranquilidade”