O futebol é para RICOS?
O Benfica-Sporting deu um resultado histórico ao canal 1 da RTP, mas os jogos constituem um dos maiores erros de perceção do universo televisivo: dão muita audiência, mas têm fraca rentabilidade
Ofutebol é um produto caro para a televisão e cada vez haverá menos transmissões de grandes jogos em sinal aberto. Para um canal que vive unicamente da publicidade, rentabilizar o dinheiro gasto com o futebol é muito difícil, porque as partidas só têm um intervalo, e ele acontece sempre a uma hora previsível, ou seja, ao fim de sensivelmente 45 minutos de espetáculo. Essa previsibilidade facilita a contraprogramação feita por outros canais, método através do qual os concorrentes procuram maximizar o zapping dos espectadores que estão a acompanhar a partida, combatendo assim a audiência obtida pela publicidade, e, consequentemente, a receita do canal detentor da transmissão. Será raro, ou mesmo inexistente, o jogo de futebol que dá lucro a uma televisão de sinal
aberto – o mesmo se aplica à Seleção, às taças e supertaças, à Liga Europa e à Liga dos Campeões. Este é o verdadeiro motivo pelo qual os jogos de futebol estarão cada vez mais acantonados em canais pagos – seja a Sport TV, a BTV ou a Eleven. Estações que vendem aos espectadores as transmissões em direto, em troca de uma assinatura mensal, receita com a qual procuram rentabilizar o investimento. Se o futebol é deficitário para as televisões em sinal aberto, a verdade é que, como é cada vez mais raro, tende a juntar multidões – e, por isso, as maiores audiências do ano são sempre os jogos de futebol. Trata-se de um dos maiores erros de perceção do universo televisivo, e que costuma ser rentabilizado, unicamente, em marketing dos canais, que rodeiam o jogo em si de diversas iniciativas em direto, antes e depois do futebol. Isso aconteceu, de novo, com a Supertaça de domingo passado, entre Benfica e Sporting. Teve uma audiência média extraordinária, levou a RTP1 a um resultado histórico no dia, que lhe abre, inclusivamente, algumas perspetivas de poder ganhar à TVI na média mensal de agosto. Se isso acontecer, ficará a dever-se, em parte, ao dérbi desta semana, que mobilizou em frente ao canal 1 um total a rondar os 4 milhões de portugueses. É obra.