“Só na música me CONSIGO SOLTAR”
Cantor lança o oitavo disco de carreira, ‘Confidências (de um homem vulgar)’, um projeto de histórias cantadas na primeira pessoa que revela um músico cada vez mais maduro e preocupado com a escolha das palavras
No final da entrevista, já com o gravador desligado, João Pedro Pais pergunta: “Correu bem! Achas que dá? Tens material suficiente?”. Ao final de quase meia hora de conversa, João sabe que não fala com o mesmo à-vontade com que escreve, com que compõe ou canta (uma questão, de resto, comum a grande maioria dos cantautores, sem que isso seja crime, claro!). Quase que pede desculpa. “Sinto que consigo passar para a música coisas que de outra forma não consigo passar para ninguém. Eu solto-me mais nas canções, embora nunca seja fácil”. É assim que, justificando-se, começa também por explicar o seu novo disco Confidências (de um homem vulgar), o oitavo registo da carreira, um álbum de histórias, as suas histórias. “São confidências minhas que são contadas de forma cantada. Como eu não sou de me expor em entrevistas longas sobre a minha vida, os meus desamores, desencontros e inquietudes, faço-o através da música”, acrescenta João Pedro Pais, que insiste na ideia de que não é mais do que um homem comum, igual a tantos outros.
“Sou, sim, um homem vulgar. Sou apenas conhecido naquilo que faço, mas sou igual a muitos outros com as minhas inseguranças, defeitos, manias e desassossegos. Uma vez perguntaram ao Charlie Watts, dos Rolling Stones, como é que ele tinha chegado tão longe e ele respondeu: ‘Porque nunca me levei a sério e nunca vesti a capa de rock n’ roll man’”, exemplifica.
Produzido por Benjamim e composto por 10 novas canções, Confidências (de um homem vulgar) devolve João Pedro Pais ao mais íntimo da sua escrita, uma escrita que é cada vez mais difícil apesar das mais de duas décadas de carreira. “Hoje há mais responsabilidade. Os 22 anos de estrada não me dão autonomia para fazer o que bem me apetece. Há 20 anos se calhar tinha uma imaturidade que me deixava mais livre. Hoje sinto que tenho de ter muito mais cuidado com aquilo que escrevo”. Agora, o escrutínio é do público. “Esta é a parte dolorosa disto tudo. Nós sabemos que depois da canção feita vem sempre o julgamento público, dos que gostam e dos que não gostam. Às vezes parece que sou um delinquente que fez qualquer coisa e que tem de se sujeitar ao julgamento dos outros”. As novas canções são apresentadas dia 2 de novembro no Altice Fórum, em Braga, e dia 9 de no Teatro Tivoli, em Lisboa.