TV Guia

“Nos Morangos eu era UM CANASTRÃO”

Na nova novela da TVI, Quer o Destino, que estreia segunda-feira, dia 23, na TVI, vai desempenha­r o papel de um playboy viciado em álcool e drogas, mas jura que nunca viu colegas a consumirem à sua frente – nem na moda. O ator fala ainda do que aprendeu n

- TEXTO JOÃO BÉNARD GARCIA I FOTOS RICARDO RUELLA

Na nova novela da TVI, Quer o Destino, que estreia segunda-feira, dia 23, interpreta João Santa Cruz. Quer explicar-nos como será esta personagem e como evoluirá na história? É uma narrativa muito forte que vai prender os telespecta­dores logo no início. Pesada, mas muito boa. Bem construída. As personagen­s são boas, mas todas muito diferentes. Eu vou fazer o papel de João Santa Cruz, um dos quatro irmãos que praticam uma coisa má 14 anos antes... Uma violação. O João, na altura, só tinha 14 anos, era ainda uma criança.

Tal como a personagem de Sara Barradas.

Exato. E ele basicament­e é quase forçado a fazer aquilo. Mas chega a violar? O que posso dizer é que esteve lá. Se violou ou não, as pessoas vão ter de ver. Independen­temente disso, basta uma pessoa de 14 anos assistir a uma coisa dessas para ficar completame­nte traumatiza­da. E o João, dos quatro irmãos, é a personagem que mais sente e mais sofre com os fantasmas do passado. E para matar esses fantasmas, vai-se perder em adições. Para fugir a esses fantasmas, vai-se meter no álcool e nas drogas. É aí onde ele se vai refugiar.

Mas essa é a única razão pela qual a sua personagem se refugia nessa teia complexa de adições?

Essa será a grande razão. A outra é a estrutura familiar que nunca foi coesa. Ele é o último filho e acaba por se refugiar na casa de baixo, que há de ser a casa da Marina [Mota] e do [Luís] Esparteiro. Ele foi criado lá. Devido aos conflitos em casa, fugiu para a dos caseiros e vê neles a sua família.

A trama vai portanto andar à roda das consequênc­ias desta violação. Mas o João vai fazer o quê da vida, concretame­nte?

Como Santa Cruz ele não faz muito na vida. Interessa-se mais pelas festarolas, pelas miúdas.

É o playboy da família?

Mais ou menos. Ele é, dos irmãos, aquele que menos faz. Vai fazendo um biscate aquilo, um biscate acolá. É o mais novo e ainda está na faculdade. Estamos a falar de uma família que na ficção tem posses.

Claro, o João Santa Cruz vive de uma mesada que lhe é dada pela mãe. E a determinad­a altura pelo irmão. É disso que vive.

Como é que se preparou para construir esta personagem?

Esta personagem está a ser um desafio enorme para mim. Já falei isto com os realizador­es. Nunca estive perto de pessoas que tenham tido problemas com drogas. Nunca assisti, nunca vi e então a composição da minha personagem foi feita com base em filmes que tenho visto com personagen­s que têm problemas com álcool e drogas. A minha aprendizag­em vem muito daí. Não tive nunca uma relação com essa realidade. É curioso que fale nisso porque se associa muito o mundo da moda com algumas adições com drogas…

Acho que existe em todos os mundos e em todas as realidades.

Nunca assistiu a consumos nos desfiles ou nas sessões fotográfic­as?

Não estou a mentir. Eu nunca assisti. Obviamente sei de algumas pessoas... Sabemos da fama de alguns modelos em relação a consumos. Estive muito pouco tempo na moda.

Mas começou na moda... Comecei e depois, passado um ano, passei a fazer televisão. Mas felizmente nunca assisti a nada. A malta deve-se esconder...

Mas ouviu uma ou outra história, com pessoas até conhecidas.

Não, e quando a conversa vai para aí é um assunto que nunca me interessou minimament­e. A mim, Isaac, o que me interessa são outras coisas, bem mais saudáveis. Nunca passei muito cartão a essas conversas e a esses comentário­s sobre as adições das outras pessoas. Então, além de filmes e séries, que outras coisas serviram de base para a sua preparação da personagem?

Foi só de filmes, muitos deles com pessoas aditas de drogas e de álcool e baseei-me nisso.

É um papel difícil de fazer para não parecer exagerado, irrealista ou postiço. Estou a dar o máximo. Nós lutamos sempre contra a tendência do exagero. Para evitar isso é que lá estão os realizador­es e os diretores de atores, que nos dão sempre um suporte. Tentamos fazer as coisas parecendo sempre o mais real possível.

Mas está a ser difícil interpreta­r o João Santa Cruz?

Está a ser difícil porque não tem nada a ver comigo. São estas personagen­s que gosto de fazer. São estas que me cativam. Quando são personagen­s parecidas connosco, a coisa torna-se um bocado chata. Mas este João não. Ele é completame­nte diferente de mim em todos os aspetos. É esse o enorme desafio e por isso estou a adorar este projeto. E está a fazer um coprotagon­ista. Está finalmente a ter a oportunida­de de, numa novela da TVI, fazer um protagonis­ta.

Comecei com um protagonis­ta na série nos Morangos com Açúcar. Não vejo as

“Não estou a mentir. Nunca assisti (a consumos de droga nos desfiles). É óbvio que sei de algumas pessoas…”

coisas dessa maneira. Felizmente, posso dizer que tenho feito papéis muito diferentes. Ainda agora acabei de fazer um monge, numa novela em que me preparei muitíssimo bem. Enquanto tiver papéis diferentes e que me deem luta, ser protagonis­ta, ou não, é-me indiferent­e. A responsabi­lidade é maior. A responsabi­lidade, para mim, é exatamente a mesma.

O foco e os holofotes estão em cima de si. Não sinto isso. Já faço televisão há uns aninhos e o que me importa é o meu trabalho e estar numa novela em que o ambiente seja bom. E nesta é ótimo.

Como é que tem sido com os seus colegas? Trocam dicas, falam muito, têm grupos no WhatsApp?

O elenco é pequeno. Somos poucos atores e a malta dá-se toda bem. Há colegas que não gostam de trabalhar com diretores de atores, eu adoro. Eles dão-nos sempre a visão de fora, é diferente. É sempre bom ouvir o que pensam os outros. Entre nós, colegas, existe respeito. E quando há confiança dizemos uns aos outros que podemos fazer isto ou aquilo. Dou e recebo dicas, faz parte do processo natural.

Em toda a sua carreira somada, nota, desde que entrou nos Morangos com Açúcar, uma grande diferença?

Noto uma diferença abissal. Aliás, sinto que, na altura, eu era um canastrão... Quer dizer, não era bem um canastrão porque os Morangos com Açúcar foi o meu primeiro papel. Os Morangos foram uma escola de posicionam­ento de câmaras, de luzes.

Começou sem fazer formação?

Fiz dois meses de formação na área antes de fazer os Morangos, já dada pela TVI e então pela NBP [agora Plural]. Mas toda a minha formação tem sido feita nas novelas onde participo. Quando olha para trás e vê o que fez, pensa que nunca voltará a fazer aquilo. Olho e penso que está péssimo.

O que é que não faria hoje, de todo? Todas as cenas que fiz há 14 anos vejo-as hoje e não gosto do que fiz. Não quer dizer que estivesse mal, mas não estava bem. Era um principian­te. Estava mais ou menos bem para aquilo que sabia fa

zer na altura.

Quando fez o monge Paulo/Sri Raj Ashram, em Valor da Vida, esteve em mosteiros budistas e conviveu com monges para se preparar...

Isso faz parte do nosso trabalho, embora às vezes não tenhamos tempo de preparação. Tento procurar, ver e ouvir o máximo possível para enriquecer a personagem.

Qual foi a pesquisa mais esquisita que já fez para a ficção?

Não tive uma experiênci­a esquisita. A minha preparação é sempre à base de visualizaç­ão de filmes e séries. O monge foi interessan­te porque fui para um templo budista na Ericeira e uma pessoa vai para lá com uma ideia e depois as coisas são muito diferentes.

Qual foi a ideia com que foi para lá? Confesso que fui um bocadinho de pé atrás. Aquilo não é bem uma religião, é um modo de estar na vida diferente do nosso e a pessoa vai sempre de pé atrás. Mas depois vejo que há muitas coisas que fazem sentido na maneira deles viverem. A pessoa tira sempre aprendizag­ens. Aprendi algumas coisas, mas achei bastante estranho.

Sentia algum preconceit­o em relação a essa forma de viver e estar?

Não sentia preconceit­o. É estranho. É uma maneira diferente de ver a vida. Esperava uma coisa completame­nte diferente? Tinha mais ou menos uma ideia.

Sabia que era um pessoal com a cabeça rapada, que meditava muito.

Tinha uma noção daquilo que era porque já vi em muitos filmes e séries. Mas tiram-se sempre coisas boas. Adorei lá estar.

Aproveitou algum ensinament­o para a sua vida? Meditação?

Meditação, não. Mas aquilo que faz mais sentido para mim nesta fase da minha vida é que o lema da vida deles é viver no presente. Isso é importante. Eles não pensam no passado nem se preocupam com o futuro, estão focados no presente e vivem bem o presente.

Pensar assim, para si, aliviou a carga do dia a dia?

Não me aliviou nada. Não havia nada para aliviar. Acho só que faz sentido.

Mas pode estar preocupado com o futuro e isso ser um peso. Obviamente, tenho os meus objetivos, mas não passo a vida a pensar no que vou fazer amanhã. Vivo mais o hoje, o presente.

Tê-lo-á aliviado alguns ensinament­os budistas quando, a seguir ao MasterChef, houve menos trabalho? Era muito solicitado para trabalhos ligados a coisas de cozinha e para poucos como ator.

Nunca tive falta de trabalho. Graças a Deus, tive sempre trabalho.

Mas houve um abrandamen­to nas participaç­ões?

Acho que o máximo de tempo que estive sem gravar uma novela foram sete meses. Tendo em conta a realidade dos atores portuguese­s, isso não é muito tempo. Agora, na altura, fui bastante solicitado para coisas de culinária, e ainda bem. Adorei fazer o MasterChef, correu muitíssimo bem. Fui para lá com as bases normais de uma pessoa que gosta de fazer um bife ou uma massa em casa e saí de lá com outras bases.

Foi tão bom que não paravam de surgir convites para festivais de sopas, showcooks…

[Sorrisos]Sim, ainda fiz alguns showcooks e fui a festivais de sopa e foi muito divertido e na altura fiquei em terceiro lugar no Masterchef. Na cozinha em casa, como é? Melhorou ou já se perdeu tudo?

Posso confessar que dois ou três meses depois do programa andava em modo MasterChef em casa, mas depois fui perdendo o entusiasmo. Adoro cozinhar, mas preciso de estar com tempo. Cozinhar qualquer coisa em meia hora não é para mim. 

“Nunca tive falta de trabalho. Graças a Deus, tive sempre. Acho que o máximo de tempo que estive sem gravar uma novela foram sete meses”

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Isaac Alfaiate namora há três anos com a personal trainer Inês Abrantes e já pensam aumentar a família.
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