“O Goucha mete RESPEITO”
Aos 58 anos a apresentadora da SIC sente-se mais confortável que nunca no seu papel nas tardes da SIC. Não tremeu com a saída de Cristina Ferreira e diz que público não a abandonou nem quando do outro lado estava um programa com “outros recursos”. Vai para 2021 sem medo, mas está atenta ao que a concorrência está a fazer, especialmente o amigo de tantas lutas. A sua maior preocupação é mesmo com a progenitora que sofreu dois AVC. “Isso mexeu muito comigo”, revela em exclusivo
TEXTO HUGO ALVES | FOTOS LILIANA PEREIRA
Eeste ano de 2020 foi um ano em bom para si… Foi um ano excecional. O primeiro ano do Tardes da Júlia foi muito bom mas 2020 serviu para consolidar os espectadores, a nossa oferta, criando um músculo na antena. Temos sido testados, a concorrência tem puxado por nós, e a SIC e o meu programa têm estado ao nível, muitas vezes superando o que não esperavam. Fala do Dia de Cristina? Ela tem recursos que nós não temos e ficávamos sempre oscilantes quando ia para o ar, mas a verdade é que o nosso público ficou connosco. Por isso posso ter algum orgulho e vaidade. Falando de Cristina Ferreira, custou-lhe ela ter saído da SIC de forma tão abrupta? Não faço juízos nem comentários sobre as escolhas profissionais dos outros. A Cristina teve as suas razões. Falo disto porque eram muito próximas… [interrompe] Somos muito próximas. Há uma relação que vem do passado, que se mantém e não é beliscada por esta mudança. Mas do ponto de vista empresarial não digo nada, porque isso não tem nada a ver comigo. Mas nunca pensou: ‘isto vai tramar-nos a todos’? Não. Sabia que nos ia testar, mas tenho muita segurança e uma profunda convicção na capacidade da nossa antena e da forma como o Daniel Oliveira ia reagir. Ele é um líder muito ponderado, prudente mas não em excesso. Vai a jogo, é uma pessoa com uma grande capacidade de mobilização das suas equipas, com um olhar estratégico sobre a antena e sobre as suas apostas, sempre muito certeiras, e eu estava perfeitamente convencida que ele ia acertar e que íamos rapidamente, com qualquer abalo que sentíssemos, voltar ao ponto em que estamos: a liderança. É difícil vencer? Chegar à liderança não é complicado, já ficar lá… Mas nunca fizemos concessões e escolhas menos felizes, a vida está a correr-nos muito bem e no meu
“O Manuel Luís Goucha foi de uma enorme elegância antes de ser formalmente apresentado, informou-me que nos íamos bater
caso não estou nada preocupada com o que aí vem. O que é que fez com quem o público não a abandonasse, nem quando ia para o ar O Dia de Cristina? [pensa] O público entendeu que a nossa oferta é muito diferenciada. E depois acho que estou num momento de vida com uma serenidade que não tive antes, o que ajuda. Ou seja, estou no momento certo, no produto certo, no sítio certo e no formato certo. E tem corrido muito bem. Posso dizer que me dá um grande prazer fazer o Júlia. E ter mais figuras públicas a abrir o seu coração no programa ajuda? Nós arrancámos para este projeto com a ideia de fazer grandes conversas com anónimos e eventualmente ter caras conhecidas. Mas ter conversas com essas pessoas que fossem além do lado artístico e mais conhecido. E às vezes as pessoas não estavam muito disponíveis para isso. Mas nos últimos tempos, talvez por terem a convicção que trabalhamos bem esses conteúdos, as pessoas passaram todas a querer vir. E gradualmente temos conseguido trazer à antena, algumas figuras notáveis saindo da pista confortável e do elogio para ter uma conversa mais íntima, mas sem ser invasiva. E cada vez há mais disponibilidade para isso, das caras da estação e não só. Não sei se tem a ver com o espelho de um programa à americana, mas acho é que finalmente arranjámos protagonistas (risos). Entretanto, em janeiro vai bater-se com Manuel Luís Goucha. Como é que vai ser? Oh, o meu amigo Manuel… Ele vai ser seu inimigo… É a nossa vida. Já não é a primeira vez. Estive oito anos contra ele e a Cristina, vivemos sempre felizes com isso e continuámos amigos. Posso mesmo dizer que do ponto de vista pessoal achamos muita graça a esta “briga”. Cada vez somos mais amigos. Aliás, o Manuel foi de uma enorme elegância, antes de ser formalmente apresentado, informar-me que nos íamos bater novamente. E está com medo? Ele mete respeito (risos). Ele é um excelente comunicador, o homem mais preparado da televisão portuguesa, muito eficaz, e um grande conversa
dor, muito culto, e portanto, estou apreensiva, não nego. Aliás, tenho sempre muito respeito pelo que a concorrência anda a fazer. Tem mais medo da Cristina ou do Goucha? O programa da Cristina é um contentor – que é o tipo de formato que tem tudo lá dentro – e portanto tem muitos elementos que se não estão alinhados devidamente podem não resultar, que foi o que aconteceu em algumas edições do programa. Mas se meteu medo? Meteu… tudo me mete medo (risos). Agora o Goucha vai ser uma oferta continuada e que vai trazer aquele público que o vê para a tarde. [faz uma pausa]. Mas também sei que o público que me vê normalmente não deixa de o fazer mesmo quando a Cristina vinha para o ar. E isso é engraçado. As pessoas que gostam dela é que vão todas para lá, mas o meu público não me abandona. Ela arrasta é um público que normalmente não vê este tipo de programas. Com o Goucha vamos ver o que acontece, que conteúdos apresenta, o formato. Isso quer dizer que o programa Júlia vai mudar? Na sua oferta final não, mas a sua orgânica pode ser mexida. Mas é para continuar a ganhar? Óbvio. Sou uma pessoa convicta. Mas acima de tudo quero fazer um bom produto que é o que estamos a fazer. A SIC, além disso, está num momento ótimo. Tem sido a mulher do daytime nos últimos anos. Não se vê de voltar aos grandes formatos noturnos? De momento estou feliz onde estou. Fazer hoje um formato à noite tem que ser algo mesmo extraordinário porque senão não vale a pena. Para mim, agora, tinha que ser uma coisa avassaladora que me tirasse o fôlego. E confesso não há muitos formatos desses no mundo. Não é um bocadinho falta de ambição? Não. É falta de insistência (risos). Porque se o Daniel me ligasse a vender um formato se calhar atirava-me de cabeça, até porque faço aquilo que me pedem para fazer.
O SEGUNDO AVC DA MÃE
Entretanto é impossível não lhe perguntar sobre os seus embates com a Covid-19. Apanhei um susto… tivemos uma ameaça e achei que podia ter ficado infetada, mas acabou por não ser nada.
Há uma coisa que me ajuda muito [a esquecer o problema de saúde da mãe]. Quanto entra um convidado foco-me unicamente nele”
Mas assusta-a esta realidade? Claro que sim! Para lá de tudo. Mas como tenho esta obrigação de antena tenho sido rigorosíssima nos meus hábitos de vida, pois sei que não sou facilmente substituída e por isso não vou a restaurantes, não estou em encontros com muita gente. E tenho extremo rigor em quem se movimenta em minha casa. Esta doença afastou-a da sua mãe que está num lar . Fizemos um segmento no programa sobre pessoas que estão em lares, casas de acolhimento, o que lhe quiserem chamar… e eu vivo com a minha mãe uma situação idêntica. Como sabem a minha mãe está num destes espaços depois de um AVC. Infelizmente já teve um segundo, durante esta pandemia o que foi muito difícil. Mas vê-a? Atualmente vejo a minha mãe regularmente mas estive dois meses sem o poder fazer, mas ela tem aguentado muito bem, embora note que se foi um bocadinho abaixo recentemente. Ela achava que no Natal já podia vir passar o dia connosco [faz uma pausa]. Há uma ausência física muito forte. E voltando atrás, o dia da reportagem, eu que sou um verdadeiro rochedo, que nunca me vou abaixo, não resisti. Também estou a ficar velha e taralhouca e portanto mexeu comigo. Para a Júlia tudo isto deve ser muito doloroso. Sim, porque depois de ela entrar num hospital não posso estar com ela. Aliás, há um mês a minha mãe teve um coisa complicada cardíaca… e foi difícil. Como é que se aguenta a fazer o programa num dia destes? Nós somos atletas de alta competição. Há dias que custa mais e outros menos. Há uma coisa que me ajuda muito que é quando entra o convidado foco-me unicamente nele, mesmo que depois aquilo tenha um eco na minha vida. Mas estou tão interessada que me perco na conversa. E é assim que se leva, uns dias mais facilmente que outros evidentemente. Tirou lições de 2020? Se tirei. Decidi que não adio mais nada. Por exemplo tinha pensado que quando me aposentasse é que ia tirar lições de piano e já lá estou. Vou continuar com o teatro, e um dia destes vamos ter projetos novos.