ISTO NÃO AUGURA NADA DE BOM...
Longe vão os tempos em que estreava uma novela e eu chegava aqui, em grande entusiasmo e tecia rasgos elogios. Longe vão os tempos em que um primeiro episódio enchia as medidas, tinha de estar “perfeito” e agarrar o espectador imediatamente.
Longe... ou nem tanto assim. Basta recuar um ano e pensar no primeiro capítulo de Terra Brava. Estava lá tudo o que é necessário para fazer um sucesso dentro do género novela popular, com um toque de comédia: os núcleos de personagens bem definidos, a portugalidade com as paisagens nacionais de cortar a respiração e, sobretudo, as interpretações. Depois disso, tivemos Quer o Destino, com um mau primeiro episódio, mas que cresceu e cresceu e cresceu, em história e interpretações que superaram todas as expectativas. Depois, com
Amar Demais atirado para o fim da noite, eis-nos chegados a uma fase na qual a piada fácil, a história escrita para quem não quer pensar um minuto e as banalidades tomam conta do ecrã. Nazaré, esse mega sucesso da SIC, tinha do seu lado uma fotografia fantástica, estilo filtro vivo de Instagram, e uma ingenuidade que acabava por ser comovente. Da concorrente Bem Me Quer e da agora substituta de
Nazaré, Amar Amar, não se pode dizer o mesmo. Bem Me Quer é uma dor no coração. Porque é fácil, porque não tem história, porque o
casting está errado, porque nem sequer percebo o que ali faz São José Correia, Pêpê Rapazote ou Julie Sergeant. Só Bárbara Branco consegue brilhar porque o alegado protagonista, José Condessa, é inexistente. E tudo porquê? Porque não tem texto, não tem história... e não há milagres. Esta semana estreou Amar Amar, na SIC, e pode seguir um caminho semelhante: o do facilitismo. É música popular que está a dar nos programas da tarde (e a todas as horas)? Então bora lá pôr isso em novela. E assim a novela inteira se torna uma comédia. Funciona? Sim. Tem audiências? Sim. É bom? Não. Faz-nos orgulhar do género? Nem pensar. Se o caminho é este, o fácil, isto não augura nada de bom para a ficção nacional. Nem sobre talento de autores, nem sobre um País e o que exige aos canais generalistas.