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OS FILHOS precisam de nós

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Nasci, cresci e fui educada num seio familiar de amor, de cuidado, de aconchego, segurança e confiança, sabendo que nunca os meus pais me iriam falhar em momento algum. Lembro-me de ser pequenina, bem miúda, e de começar a sentir os terrores noturnos, tão típicos das crianças: de fugir para o quarto dos meus pais e saber que ali estaria segura. Ali nunca nada de mau chegaria, ali estaria protegida de tudo. De todos. Do mal, dos maus, como dizemos quando somos miúdos. Hoje, a vida é diferente, sinto. Tudo me parece ser diferente, e para menos bom. Entendo, como mãe, que a nossa maior responsabi­lidade na vida é a de ter filhos e assumir, perante eles e a nossa sociedade, o compromiss­o de lhes dar um lar, amor, cuidados, educação, segurança e fazermos dos filhos as nossas prioridade­s máximas a todos os níveis de entendimen­to e consciênci­as. Percebo, dos dias de hoje, por tantas vezes falar com mães e pais, que, vivendo ou não em conjunto, em muitas situações até, isso não acontece, por, pura e simplesmen­te, um dos elementos sair e, consequent­emente, deixar de estar presente na vida dos filhos. Assumem que, pelo facto de saírem de uma relação conjugal, deixam de assumir a sua quota-parte das responsabi­lidades de pai ou mãe. Infelizmen­te, isto acontece muito mais frequentem­ente do que se pensa e com a maior displicênc­ia possível. Não entendo como o sistema permite que tal aconteça desta forma silenciosa. O que um dia foi uma família, de um dia para o outro torna-se uma parte de uma família, onde só um dos elementos é “obrigado” a assegurar todas as condições que proporcion­em o bem-estar, o equilíbrio, a educação, o dia a dia, a segurança, a atenção e o amor, que em tempos deveria ter sido assumido por dois. Porque... O outro decidiu ter uma outra e nova vida. Houve uma rutura, tem um novo rumo e os filhos deixaram de estar no topo da lista das prioridade­s e, mais grave, das responsabi­lidades de vida. E... Nada acontece. Tudo é permitido como desculpa, os baixos rendimento­s fictícios e inesperado­s, os compromiss­os de trabalho de última hora, que, de repente, não lhes permite assumir o pouco tempo de possibilid­ade de estar com os filhos. Enfim, um sem-número de estratégia­s novas, desconheci­das até então. Os filhos, esses, ficaram para trás, alguém, com certeza, cuidará. Eles não ficarão sem ninguém por perto, alguém que por eles olhe e cuide. Não. Os filhos precisam de nós, de abraços, de mimos, de carinho, de atenção, de dedicação e tudo o que é inerente a fazer destas crianças bons seres humanos, doces, meigos, amados, atenciosos, úteis à sociedade, pessoas felizes e bonitas. É isso que é importante. É só isso, neste nicho de vida e amor. Se, um dia, estas crianças sentirem que algo não os faz sentir confortáve­is, desejados, serão o reflexo de ações desta natureza, de se desrespons­abilizarem de tudo também. Um dia, também eles, se não forem bem cuidados, seguirão facilmente o fácil, o mau. O mau exemplo. E o pior, a justiça permite. É mais fácil permitir do que provar o mau. Se, um dia, duas pessoas quiseram ter um filho, ter uma família, assumam esse compromiss­o para a vida toda, sempre. Os filhos não decidiram cá estar. Os pais, sim. Quando, um dia, decidi construir a minha própria família e decidi ser mãe, percebi a real dimensão do que é ser-se mãe e pai. É realmente o melhor do mundo, nunca se esqueçam disso. Estar com os filhos é um prazer, um usufruto, um direito, nunca deverá ser encarado como um sacrifício, mas, sim, um maravilhos­o privilégio e benefício. Desfrutem e aproveitem, por favor, porque um destes dias... Poderão já não o conseguir fazer de forma nenhuma!

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