TV Guia

O PAÍS QUE TEMOS

- POR LUÍSA JEREMIAS DIRETORA DA TV GUIA

Esta semana, no rescaldo das eleições, a TVI decidiu ir ao “berço” do eleitorado de André Ventura para – digo eu – tentar encontrar respostas para o candidato à Presidênci­a da República ter conseguido uma tão grande votação por aquelas paragens alentejana­s. A reportagem não foi esclareced­ora, mas deixou algumas pistas no ar.

Eu, que vi, percebi que a comunidade cigana está ali fortemente implantada e que, dizem membros da própria, é parcialmen­te suportada por dinheiros do Estado. Dinheiros que, diz, também são recebidos por “não ciganos”. A comunidade (sempre esse conceito lato) vive em casas “fora da lei”, segundo a própria, “sem casas de banho”. Quando a reportagem termina, temos de respirar fundo e engolir em seco. Acabámos de entrar no país real, onde pouco se explica, muitas queixas são apresentad­as e a “culpa” nunca é de ninguém. Ou seja, o poder local não se impõe, não faz cumprir diretivas, os habitantes não se regem por regras de cidadania e boa vizinhança. Sejam eles ciganos, amarelos, polacos, extraterre­stres, o que quer que sejam. Cada um faz o que quer. E o poder central fecha os olhos e segue em frente. Provavelme­nte está aqui, em linhas difusas, a razão do terceiro lugar (quase segundo) de André Ventura nas últimas eleições. O líder do pequeno partido que cresce entre os que acreditam não serem ouvidos encontra aqui terreno. E, como bom orador que é, com a sua capacidade de improvisar, de falar ao coração e dizer aquilo que “o povo” quer ouvir – como numa conversa de café sobre bola –, cresce. E continuará a crescer. Não há que ficar surpreendi­do com os resultados das eleições. Eram previsívei­s. Acontecem no mesmo País que fez jantares de Natal à grande, misturou famílias vindas de diferentes concelhos, e espalhou o vírus por novos e velhos – que agora vê morrer. O mesmo País que fura bloqueios, o que põe as máscaras por baixo do nariz e acha que assim está bem. O que diz que a culpa de tudo é de quem governa e não de quem elege e não exige. O que suporta a corrupção. O mesmo que nos torna o país com maior índice de mortes e infeções por Covid em milhão de habitantes. E que encolhe os ombros sem pensar na recessão que aí vem. Este é o País que temos. Que as eleições – e o que se passa – sirvam de lição e alguém acorde.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal