A VACINA e a política
Aentrevista à SIC Notícias do homem que está encarregue da vacinação em Portugal, sábado à noite, foi a metáfora perfeita do que se está a passar com o combate à pandemia. Muita teoria, pouca prática, nenhum controlo de resultados, fracassos sucessivos, zero responsáveis. Francisco Ramos, chefe da task force, qualificou de forma irresponsável a pergunta, legítima, do jornalista Rodrigo Pratas, sobre se deve ou não ser dada a segunda dose aos que são vacinados abusivamente. Disse Francisco Ramos que obviamente receberiam a segunda dose, e acrescentou: “Essa pergunta explica um pouco aqueles 11 ou 12% nas eleições presidenciais, um espírito vingativo que não me parece que seja muito bom para uma sociedade solidária como a nossa.” O jornalista, atónito, não reagiu de imediato, seguramente estremunhado pela mistura de planos, a política, por um lado, e a vacinação, por outro. Moral da história: o excesso de discurso, já aqui se sublinhou, é um mal que afeta os decisores, levando-os a caírem em contradição, a desgastarem o capital de prestígio e a perderem a confiança da comunidade. Mas uma coisa é o excesso de discurso, outra, mais grave, é um técnico meter-se a comentar eleições para qualificar questões que lhe são postas. Isso ainda não tinha aparecido nesta crise, desqualifica o protagonista para a missão que lhe está atribuída, e que está a cumprir com falhas graves, como se tem visto através do atraso na vacinação.