TV Guia

ESTRAGAR O BOM

- POR LUÍSA JEREMIAS DIRETORA DA TV GUIA

Que os reality shows são um formato polémico, todos sabemos. Que mudaram, também sabemos. E, durante um tempo, acreditámo­s que para melhor. A estreia de Big Brother 2020 acrescento­u uma área ao formato: o que se passava fora “da casa”, ou seja, nas redes sociais. Assim foi criado um painel totalmente revolucion­ário de comentador­es em estúdio, alguns – a mais famosa entre eles, Ana Garcia Martins, a Pipoca Mais Doce da net – vindos diretament­e desse mundo que crescia e ao qual já ninguém podia ser indiferent­e. O painel revolucion­ou o formato, simplesmen­te porque “dizia tudo como os malucos”. Mas sem exageros. Até porque, a esse painel e ao que era bombardead­o, entretanto, nas redes sociais, se juntava mais uma novidade: o formato passava a defender “causas”: o combate ao racismo, ao machismo, a luta pela igualdade de género e de “cor” ou opção sexual passaram a estar na ordem do dia. Não querendo ser “educador da classe operária”, o programa de entretenim­ento marcou pontos e distanciou-se do vale-tudo que tinha moldado os últimos reality shows da TVI, muito particular­mente o mal-amado Love on Top.

Só que as coisas mudaram.

Duas edições depois , os conceitos estão totalmente alterados e, pior, baralhados. Assim, continua a fazer-se a apologia de uma série de valores socialment­e aceites e defensávei­s. Só que há incongruên­cias no critério. Hélder volta a ser expulso da casa depois de ter feito uma saudação nazi (que o próprio não devia ter consciênci­a da dimensão que tem, digo eu, levando em conta as suas declaraçõe­s posteriore­s). Até aqui todos de acordo. O gesto tem de ser punido. E que dizer à enxurrada de má-criações entre concorrent­es dentro da casa? Não merecem recriminaç­ão? Tratar mal os outros, só porque sim, só porque “dá canal” está certo? E o que se passou em estúdio, no passado domingo, entre Teresa e Ana Garcia Martins, com os apresentad­ores a pedirem para a comentador­a ficar? Dá canal? Não deu, no caso. Ficou mal? A todos. O programa tornou-se esquizofré­nico, sem saber se é um novo Love On Top onde vale tudo ou um formato evoluído, como já foi. Se calhar vale a pena repensar para onde caminha. Mas isso é só a minha singela opinião.

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