TV Guia

Explica o que o levou a perder 15 quilos e o que aconteceu depois de perder a mãe “TIVE UMA CRISE DE MEIA-IDADE” “Sou o miúdo palhacinho”,

Bem-disposto, irónico, sempre de riso fácil e piada na ponta da língua, o ator de Bem Me Quer, de 41 anos, parece não envelhecer. diz. Mas nem tudo têm sido rosas. Também viveu momentos difíceis quando a progenitor­a morreu. Uma fase que coincidiu com a ba

- TEXTO HUGO ALVES | FOTOS LILIANA PEREIRA E TOMÁS MONTEIRO

Como estão a correr as gravações de Bem Me Quer? Parece ser um ambiente muito divertido e brincalhão... Está a ser muito giro. Tem sido intenso, é verdade, mas divertido, porque todo o elenco parece estar virado para o mesmo. Já não me divertia assim numa novela há muito tempo. Ao contrário do habitual, embora não seja protagonis­ta, roça quase o papel principal. Estava à espera? Já tinha sido avisado que ia trabalhar muito, mas não esperava tanto [risos]. De facto, o Pompeu não é o protagonis­ta, mas é uma personagem com muita incidência, talvez porque o elenco não é grande, o que leva a que por vezes a ação se centre nele. Mas também porque este rapaz anda por todos os núcleos e tem vários casos amorosos, que levam a que ele surja muito, até onde não deve [risos]. E tudo isto tem sido divertido porque coloca-me em diversos registos, a contracena­r com pessoas diferentes. Mas é mais cansativo. Houve fases, nas quarentena­s, que foi uma chatice, pois sobrecarre­gou quem ficou, e confesso que já não estava habituado à violência de gravar todos os dias, todas as cenas. Mas já calhou a todos por causa da Covid-19. Tive quatro quarentena­s, por isso, também já tramei alguém [risos]. Felizmente, não apanhei nada. Mas ficar em casa aqueles dez dias não foi fácil. Assim, ainda tem muito que sofrer, pois as gravações vão arrastar-se até junho... Estamos todos numa fase complicada na Cultura e é um privilégio ter aparecido este projeto. Por isso, não me importo que a novela continue. Também passei por aquela fase em que estava a fazer mais teatro e a dar aulas, antes da novela e, subitament­e, tudo parou... Só deu para fazer um aniversári­o incrível por Zoom... que este ano não queria repetir [faz anos a 26 de abril]. Temeu ficar sem trabalho? Quem entra para ator já sabe que vai viver para o resto da vida na instabilid­ade, na bela da corda bamba. Mas, na altura, em março [de 2020], fiquei mesmo sem trabalho. Aqueles meses foram difíceis. Vi-me obrigado, como tantos colegas, a candidatar-me ao apoio do Estado, porque somos todos trabalhado­res intermiten­tes e, nessa fase, confesso que andei preocupado. Felizmente, em junho, apareceram uma série de trabalhos, juntamente com este. A isto juntava-se o stress de não ficar infetado para não perder os projetos que ia agarrando. Ou seja... [Interrompe] Deixas de ter vida pessoal e passas a ter outra responsabi­lidade: não estar infetado e continuar a trabalhar. O sentimento de ficar sem trabalho continua tão assustador como quando começou? Afinal, já tem muitos anos de carreira. Nós programamo-nos para lidar com isto, para não ficarmos desgastado­s emocionalm­ente. E, com o passar dos anos, tenho um bocadinho mais de calma, sabendo que poderá sempre aparecer alguma coisa. Antes, ficava desesperad­o, hoje há já alguma maturidade, que me deixa mais calmo, embora haja sempre no cantinho da cabeça uma moinha. E mesmo quando estamos mais folgados, com mais trabalho, essa inseguranç­a ensinou-me a ser mais poupado. Confesso que, nos primeiros anos de televisão e a viver em casa da minha mãe, era mais burguês [risos]. Mas depois, com a idade, aprendi. Fiquei com esta gravada: uma vez pobre, sempre pobre. Mesmo quando tenho mais dinheiro sei que tenho de me programar, porque não será sempre assim. Como reage ao ver tantos colegas seus sem ter para onde se virarem? É impossível ficar indiferent­e. Tenho muitos amigos numa grande angústia, porque são pessoas mais de teatro, custa muito.

ENVELHECER COM DIGNIDADE

Na apresentaç­ão da novela, revelou ter perdido muito peso. O que o levou a essa decisão? Entretanto, já ganhei um bocadito, mas nada descontrol­ado e ainda caibo nas roupas da personagem [risos]. Mas, na verdade, perdi perto de 15 quilos, graças à Pronocal. Já tinha levado na cabeça de familiares e amigos

“Antes de emagrecer, tinha ganho muito maus hábitos alimentare­s e tinha quase deixado o desporto. Cheguei perto dos 90 quilos... coisa que muita gente não reparou”

que me diziam que estava muito forte, pois vingava-me muito na comida quando não estava bem... Até que deixei. De um dia para o outro, deixei de comer coisas cheias de molhos, batatas fritas e doces, passei para legumes cozidos, tanto ao almoço como ao jantar. Por alguma razão? Porque tive uma crise de meia-idade [risos]. Há quem compre descapotáv­eis. Eu, como não tenho dinheiro para isso, vinguei-me na comida. Adoro comer e sabores... Deve ser de ser do signo Touro. Mas a verdade é que, antes de emagrecer, tinha ganho maus hábitos alimentare­s e deixado basicament­e de praticar desporto. Cheguei perto dos 90 quilos... coisa que muita gente não reparou, não sei como. Talvez porque vestisse roupa larga e porque andava sempre de roupa escura. Sentiu mudanças nesta nova abordagem à sua alimentaçã­o? A verdade é que ter emagrecido influencio­u também a nível de elasticida­de. Tinha outra leveza e até a cabeça ficava mais leve, mais rápida, parecia que tinha deixado de estar tão intoxicado [faz uma pausa]. Mas a verdade é que, durante as quarentena­s que fiz, foi muito difícil de viver de legumes e acabei por me vingar nuns chocolatin­hos a mais. Ainda para mais estava sozinho. A trabalhar alimento-me melhor. A autoestima melhorou? Também, também. Fala de crise de meia-idade, porque já tem 41, apesar do ar de miúdo? Miúdo palhacinho [risos]. E surpreendo muito as pessoas quando digo a idade. Mas a verdade é que não sei como é que vou envelhecer. Ando a pensar nisso, especialme­nte porque o quero fazer com dignidade. Sempre disse admirar as pessoas que, com longa longevidad­e, mantêm o espírito jovem. Acho que isso é ganhar o jogo. E eu quero ser assim. Por muito que às vezes seja um bocadinho rabugento, especialme­nte se estiver com fome e sono. Descobri que fico irascível e posso ser mesmo desagradáv­el. Mas, regra geral, sou um tipo divertido, que gosta de passar a felicidade, o que me faz acreditar que cheguei à profissão certa. Sente-se crescido? Quer dizer o cota? Às vezes, sou dos mais velhos nas cenas em que gravo. Acontece. Mas a idade tem outro peso? Responsabi­lidades já tenho há muito tempo. Por isso, se calhar, não, não sei.

Cresci obviamente, mas este tipo de profissão facilitou-me noutra coisa: permanecer jovem mentalment­e. Mais criança, porque isto, na realidade, o que faço, é um jogo de crianças.

SOLTEIRO E BOM RAPAZ

A Covid-19 afastou-o das pessoas que mais gosta? A minha mãe já faleceu há algum tempo, mas a verdade é que afastou-me de outras pessoas. Apesar de ser testado muito regularmen­te nas gravações, também não quis sujeitar ninguém a ser infetado, pois trabalho com dezenas de pessoas. Faço umas visitas mais cuidadosas aos meus primos e amigos próximos, mas o que fiz foi tudo ao longe. Tento não facilitar, mas confesso que já estou como todos nós: desgastado. E confesso que já dei por mim a facilitar num dia, a dar direções a uma senhora. Esqueci-me da máscara e tudo [risos]. Mas depois o teu cérebro parece que muda o chip e confesso que, com esta pandemia, fiquei um bocadinho obsessivo-compulsivo, e até gozam comigo. Tem 41 anos, está solteiro... não quer ter filhos? [Pausa] Gosto de crianças e adoro-as, porque me fazem rir, mas ainda preciso de dar um timing. Necessito de tempo para para mim. Porquê? Não me vou alongar... Como tive de ajudar a minha mãe, durante alguns anos, sinto que preciso de um espaço para mim. Foi um prazer ajudar, porque a minha mãe precisava de ajuda e na altura fui cuidador dela. E, por isso, preciso agora de tempo para mim. É duro? É, por muito que seja compensado­r ao mesmo tempo. Ela já partiu, mas eu tenho uma forte ligação a ela. Sente que ela ainda está consigo? Num sentido mais espiritual? Não sei. Acredito que está presente na minha memória. E, como éramos tão ligados, acho que, de alguma forma, me apoia através das memórias, porque faz parte de mim. Enquanto houver memória sobreviver­á para sempre. E claro na genética. Uma coisa é certa: ela era uma grande colecionad­ora do trabalho jornalísti­co que fizeram de mim. E como está o seu coração? Não se sabe bem o que ele anda a fazer [sorrisos]. Mais a sério, a verdade é que agora estou mais virado para o trabalho e, com a pandemia, tem de se ter cuidado. Pode ter havido uma pessoa especial ou outra, mas a verdade é que quero manter algum segredo. Não quer assentar? Quando aparecer a tal e fizer sentido, assim será. Apaixonado, você é uma pessoa diferente? [Pausa] Boa pergunta. Não sei, veremos no futuro. Depois, respondo a essa pergunta. Entretanto, deu aulas... Sim, de construção de personagem. É uma experienci­a muito gira. Mantenho ainda hoje uma ligação com os meus alunos. O que sentiu? Que estava a passar as minhas experiênci­as. Mas, mais do que isso, ajudou-me a reconquist­ar a paixão pela minha própria arte, pelo meu ofício. E eu adoro isso.

“Foi um prazer ajudar a minha mãe, porque ela realmente precisava de ajuda. E na altura fui cuidador dela [já faleceu]. Por isso mesmo, agora preciso de tempo para mim”

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Ator diz que dar aulas lhe deu mais força ainda para se apaixonar pela representa­ção.
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André Nunes diz que, para já, está solteiro e concentrad­o só no trabalho.

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