A FURIOSA internet
Os números do Relatório de Segurança Interna não deixam margem para dúvidas. Por força da pandemia, dos confinamentos sucessivos, reduziram-se a limites inimagináveis as relações interpessoais. O empobrecimento do espaço público, a desertificação de espaços de convívio e de lazer, a transformação da essência humana para realidades inumanas, a que gente de mau gosto chama o ‘novo normal’, mudou práticas comportamentais, alterou hábitos, obrigando a maior sedentarismo, a crescente solidão, à constante ausência dos corpos no psicodrama social. A clausura voluntária ou forçada reestruturou as nossas vidas. A internet foi alternativa ao silêncio e à ausência de encontro. Modificaram as relações de trabalho com a massificação do teletrabalho. Produziu-se uma alteração profunda no sistema de ensino com recurso à televisão e aulas à distância. O próprio Estado modificou o serviço público intensificando a relação com os cidadãos através da internet. As instituições bancárias acrescentaram tecnologia reconvertendo o atendimento personalizado e presencial. As redes sociais vieram substituir, através dos vários instrumentos de que dispõem, o encontro pela ilusão do encontro. As conversas e as imagens online são a metáfora sobre a ideia de uma presença que é sempre uma ausência. E, como não podia deixar de ser, as atividades criminosas transferiram-se para este território onde a vida se manifesta. Desta forma, dispararam ao longo de 2020 os números da atividade criminosa através da informática. Furtos, burlas, extorsões, violência psicológica, roubo de identidades, assédio sexual e pedofilia, comercialização de drogas e de tráfico de mulheres subiram a níveis nunca vistos nos territórios virtuais da internet. Ficámos mais expostos ao crime. Sobretudo porque a reação policial a este tipo de ilícitos é muito pobre. Não existem recursos, nem pessoal, que assegurem o controlo das práticas criminais nos espaços virtuais. Com algumas agravantes. A principal dela tem como exemplo Rui Pinto, neste momento a ser julgado por pirataria informática. Os verdadeiros génios da informática são jovens. Jovens talentos que jamais ganharão nas Polícias, os valores que lícita ou ilicitamente ganham no mercado virtual. Estamos, assim, dentro de um grande incêndio descontrolado. É urgente que se olhe para esta dimensão da política criminal.