ÓPERA NAS VEIAS, medicina e a irmã famosa
Todos cantam música erudita e têm histórias bem diferentes: um lidou de frente com a Covid, outro viu o pai aos 16 anos pedir-lhe para ser cantor lírico e ainda há o vilão, irmão da jornalista da TVI, Lurdes Baeta
São três jurados de destaque em All Together Now, mas pouco conhecidos do público em geral. Falamos de Hélia Castro, Rui Baeta e Sérgio Sousa Martins, figuras do canto lírico que se viram a avaliar os concorrentes que passam pelo programa da TVI. “Não é fácil julgar exceto quando se gosta mesmo logo. Confesso que houve um ou outro concorrente que me deixou com peso na consciência, mas
era tudo no momento”, justifica-se Hélia Castro, que, para além de cantar…, é médica de família e esteve a tratar de doentes Covid. De resto, o convite para fazer parte do júri surgiu num momento inesperado. “Recebi o convite quando estava dentro do covidário, toda equipada de alto a baixo com aquele fato. Lembro-me de que disse à enfermeira, quando o telefone tocou, que me estavam a contactar do programa e que era estranho. Até disse que não tinha tempo e pedi para me mandarem um e-mail. Porque a ver bem isto foi em janeiro, uma fase muito má da pandemia”, relembra a médica que explica que na altura chegou a trabalhar “15 e 16 horas seguidas”, embora “não tanto” como os seus colegas dos cuidados intensivos. Mas deparei-me com situações graves que me marcaram. Vi filhos perderem os pais, verem as mães nos cuidados intensivos, eles mesmo serem infetados e nem poderem dizer adeus a um ente querido. Foi horrível. Situações que me levaram às lágrimas várias vezes”, recorda muito emocionada à TV Guia.
Hoje, com a situação mais calma, diz que acompanha ainda “muitos casos
graves”, de pessoas débeis em fisioterapia depois de terem estado nos cuidados intensivos. “Alguns ainda estão a fazer oxigénio… é duro. E isto deixa marcas. Por isso o All Together Now foi um balão de oxigénio. Foi a melhor coisa que me podia ter acontecido. Recordo as gravações com um grande sorriso…”, confessa.
O PAI QUERIA QUE ELE CANTASSE ÓPERA
Hélia Castro, porém, não é uma completa estranha a talent shows, pois participou como concorrente no The Voice. Foi inscrita sem saber por Sérgio Martins Sousa, que também subiu ao palco para mostrar os seus dotes líricos. “Na altura, com 36 anos, passava por uma fase em que me sentia estagnado e achei que o The Voice era uma plataforma credível que poderia renovar a minha carreira. E foi o que veio a verificar-se, depois de ter ficado em terceiro lugar”, relembra o cantor que por causa da Covid se viu afastado dos palcos. “Tenho estado basicamente com aulas online. O resto do trabalho está parado. E isso afeta-nos o bolso, especialmente a pessoas como eu que vivem só da música”, sublinha o cantor que vem de uma família toda ela ligada ao mundo artístico. “Desde pequenino que queria ser músico... ou então juiz”, diz a rir. “O meu pai tocou numa banda em Castro D’Aire. E minha mãe cantava fado com a Lenita Gentil e a Maria da Fé. O mais engraçado é que quando tinha 16 anos foi o meu pai, que se chama Lourenço, que se virou para mim e disse que queria que eu fosse cantor de ópera. Na altura tinha outra coisa em mente: gravar discos e ser juiz, mas a música acabou por me chamar”,
“O All Together Now foi um balão de oxigénio no meio da calamidade Covid”
Hélia Castro
diz o cantor lírico. O pai, esse, continua a acompanhá-lo na televisão. “Infelizmente a minha mãe faleceu há sete anos, mas o meu pai, que este ano faz 80, vê tudo. É uma pessoas cheia de energia, que confesso tenho dificuldade em manter em casa, porque ele é muito enérgico”, desvenda.
APOIO DA MANA E DO PÚBLICO
Destes três jurados, o mais conhecido do público é Rui Baeta, irmão da jornalista da TVI, Lurdes Baeta, que já foi jurado em alguns concursos como Operação
Triunfo e coach vocal de Factor X e do Ídolos. “Fiquei contente que me tivessem chamado para este formato, que é incrível”, refere. Apontado como o vilão do concurso, Rui diz achar o título “injusto” mas reconhece fazer uma avaliação “mais técnica” para votar em todos os que “se destacam”.
Um método que tem tido o aval da irmã jornalista. “Ela gosta muito do que digo e apoia-me imenso. A família tem sido um pilar nisto tudo”. Especialmente numa fase tão complicada como a que o mundo artístico atravessa. “Tem sido muito complicado. É incontornável não falar nisso . Ainda consegui fazer concertos no verão, antes da terceira vaga. Agora vou dando aulas online e vou construindo projetos para maio”.