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“Vestia dois e três pares de calças só para ficar MAIS CHEIINHA” “corpo perfeito”

Aos 38 anos, a apresentad­ora da SIC agarrou o seu primeiro projeto profission­al a solo, gravado dentro de casa durante a pandemia. Desvenda como se dividiu entre esta aposta da estação e a família – e como o marido, Samuel, foi fundamenta­l. Sem tabus, fal

- TEXTO CAROLINA PINTO FERREIRA | FOTOS PEDRO CATARINO

Vinte anos depois, a SIC deu-lhe a oportunida­de de ter o seu primeiro programa a solo, o Fica Bem, na SIC Caras. Sente que já merecia esta prova de confiança? Sim, sem dúvida nenhuma. É mesmo um desafio. Gosto imenso de preparar a entrevista, todo o conteúdo, ter voto na matéria na escolha dos convidados... Tudo isso me dá muito gozo enquanto profission­al. Claro que, ao fim de quase 20 anos na SIC, fazer um projeto assim, ainda que em casa porque é um projeto que nasce da pandemia, é um desafio gigante, e ótimo. Adoro!

Sente que é uma responsabi­lidade acrescida?

Sem dúvida, embora seja no cabo. Às vezes, as pessoas pensam: ‘ah, mas é na SIC Caras, é um canal pequeno... As pessoas têm um bocadinho essa ideia dos canais temáticos, mas a verdade é que não deixa de ser um programa de televisão. Se não estiver pronto, com a devida qualidade, não se pode deixar um buraco na emissão e dizer que voltamos mais tarde. O programa é totalmente feito a partir de sua casa. O que é que é mais desafiante? Inicialmen­te, era organizar aqui em casa um estúdio, porque parece fácil mas não é. Preciso de ter câmaras ligadas, ajustar a luz... E isso, sozinha, é muito complicado. Não conseguia ver o plano em que estava. Tinha de pôr a gravar, esperava e depois voltava lá, desligava e via como é que tinha ficado. Isto era stressante. Fui-me aproveitan­do do Samuel [marido], sempre que ele estava em casa. Ainda agora, quando está disponível, deixa-me tudo prontinho. Estamos a falar de um programa de entrevista­s. O que tem aprendido com ele? Há pessoas que nunca entreviste­i pessoalmen­te e isso, às vezes, pode ser um entrave, mas é desafiante saltar essa barreira. Sinto que tenho conseguido tirar para mim um bocadinho de cada pessoa: a forma como veem alguma situação da vida.

Mesmo passadas duas décadas em televisão, sentiu alguma inseguranç­a por ser o seu primeiro projeto sozinha? Inseguranç­a, acho que não! Preparo-me muito bem para as entrevista­s e, para primeira convidada, escolhi uma “peça” com quem me dou muito bem: a Carolina Patrocínio. Sabia que, além de ser uma grande colega, é uma ótima entrevista­da. E seria um bom aqueciment­o. Inseguranç­a, confesso que não sinto, mas talvez um nervoso miudinho, faz parte. Aquilo tem de ficar bem, tem de ficar um bom produto.

Este projeto iniciou-se em plena pandemia. Foi uma companhia para os duros confinamen­tos que vivemos?

Foi. O meu trabalho vive muito de eventos e, de repente, parou tudo! Claro que o facto de poder trabalhar em casa acabou por ser um alívio muito grande. As duas primeiras semanas foram engraçadas. Tinha também o Rodrigo de férias, mas estávamos todos em casa. Claro que era superassus­tador o que se passava lá fora, ninguém percebia nada do que estava a acontecer. E estávamos barricados. Mas acabou por ser engraçado. Estávamos os quatro, a bebé estava a crescer connosco 24 sobre 24 horas. Beneficiou imenso, nesse sentido. Mas depois começaram as aulas online e começou o meu stress. Trabalhar em casa ajudou-me a desanuviar. Ter alguma coisa, para além da casa, para além de nós, era quase como ir à rua fazer uma reportagem e voltar.

Em casa com os filhos, Rodrigo, de 10 anos, e Carolina, de 2, como é que consegui gerir tudo? De repente, tem um programa nas suas mãos e dois filhos que ainda são muito dependente­s... Trabalhamo­s muito em equipa aqui em casa. A minha equipa de trabalho, tanto a nível pessoal como profission­al, foi o Samuel. O Rodrigo já se organiza muito bem sozinho. Percebe que, quando vou gravar, tem de ficar no seu cantinho, que não pode fazer barulho. Quando a irmã está em casa connosco e não está a dormir a sesta, ele toma conta dela. Respeitam imenso o facto de eu estar a trabalhar e, estando o Samuel em casa, ele também põe ordem.

Sente que teve de se reinventar não só como profission­al mas também como mãe?

Não sou daquelas pessoas que dizem que se começaram a conhecer melhor ou que descobrira­m nelas coisas que desconheci­am. Não é novidade para ninguém que não estamos habituados a passar tanto tempo com os nossos filhos. É maravilhos­o estar com eles 24 sobre 24 horas, mas, ao fim de algum tempo, sem saídas à rua, começa a ser muito cansativo. O reinventar passa um bocadinho por aí: descobrir a forma de controlar a nossa impaciênci­a. Eles, coitadinho­s, também já estavam superimpac­ientes. Se eu, que sou a adulta, não me conseguir controlar, a coisa vai descambar.

GOZADA NA ESCOLA

Numa época em que se fala tanto em ditadura do corpo e no alcance do “corpo perfeito”, a Cláudia já confessou que a sua luta é contrária: batalhar contra a magreza. Como é que ultrapasso­u esta fase em que admitiu sentir-se insegura? Acho que é um processo. Nunca frequentei nenhum psicólogo, nem nada disso. Quando falo em inseguranç­a, não quer dizer que tenha tido problemas graves para enfrentar. Se calhar, uma menina de 15 ou 16 anos, hoje, tenta emagrecer... E a minha luta sempre foi para engordar. Eu era muito magrinha,

“Se calhar, uma menina de 15 ou 16 anos, hoje, tenta emagrecer... E a minha luta sempre foi para engordar. Eu era muito magrinha”

gozada todos os dias por ser assim. Vestia dois e três pares de calças só para ficar mais cheiinha. Lembro-me de um dia estar com colegas, na parte de trás dos pavilhões da escola, e de estar um calor abrasador. Só pensava: ‘Porque é que tenho tantas calças vestidas?’ Estava a morrer de calor!

E porque é que o fazia?

Se fosse vestir aquelas calças de ganga sem outras por baixo, já ficavam largas, porque o tecido alargava e depois ainda parecia mais magra. Sempre comi muito bem, mas não engordo, é genético. Hoje em dia, tenho muito mais cuidado com a alimentaçã­o, porque também tenho mais consciênci­a do que é que se deve ou não comer e da forma como o devemos fazer, mas, ainda assim, não sou uma pessoa que engorde. E no meu Instagram há pessoas que fazem comentário­s menos simpáticos, principalm­ente sobre os meus braços, porque são muito fininhos.

E há mais críticas?

Lembro-me de uma senhora dizer que gostava de ser magra, mas nunca tanto como eu. Ótimo, bom para ela. Hoje em dia, estes comentário­s não me afetam, mas, em miúdas de 15 ou 16 anos, tem algum efeito.

Teve em si?

Não sofri, mas lembro-me de que, na minha primeira tentativa de entrar na moda, tinha uns 13 ou 14 anos, era muito magra e não entrei num concurso porque não tinha as medidas certas. Ou seja, as minhas medidas estavam acima daquilo que eles achavam ser o normal.

Como é que se gere essa nega, quando não se lida bem com o corpo, exatamente por achar que é magra demais?

Tenho pais com os pés muito assentes na terra e que nunca fizeram disso um bicho de sete cabeças. Nunca me deixaram

entrar nesse poço. Às tantas começa a ser uma queda gigante. Felizmente, também não tenho tendência para me deixar levar. Mais tarde, acabou por chegar a minha vez. Agora, sambo na cara das inimigas [risos].

Falou de comentário­s depreciati­vos que recebe na Internet. Ainda a magoam? Sim. As pessoas não têm noção de que atrás daquela rede social está outra pessoa. Os comentário­s magoam porque são pouco respeitoso­s. E nada tem a ver com a forma física, mas por não perceberem que aquela pessoa tem família. Sempre disse aos meus filhos que a profissão da mãe deles só é diferente porque ela aparece na televisão. As pessoas ainda vivem muito a achar que a figura publica é como um Deus, uma coisa assim um bocado intocável.

Há muitas mulheres que olham para as figuras públicas como um exemplo desses tão apetecidos “corpos perfeitos”.

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