“Vestia dois e três pares de calças só para ficar MAIS CHEIINHA” “corpo perfeito”
Aos 38 anos, a apresentadora da SIC agarrou o seu primeiro projeto profissional a solo, gravado dentro de casa durante a pandemia. Desvenda como se dividiu entre esta aposta da estação e a família – e como o marido, Samuel, foi fundamental. Sem tabus, fal
Vinte anos depois, a SIC deu-lhe a oportunidade de ter o seu primeiro programa a solo, o Fica Bem, na SIC Caras. Sente que já merecia esta prova de confiança? Sim, sem dúvida nenhuma. É mesmo um desafio. Gosto imenso de preparar a entrevista, todo o conteúdo, ter voto na matéria na escolha dos convidados... Tudo isso me dá muito gozo enquanto profissional. Claro que, ao fim de quase 20 anos na SIC, fazer um projeto assim, ainda que em casa porque é um projeto que nasce da pandemia, é um desafio gigante, e ótimo. Adoro!
Sente que é uma responsabilidade acrescida?
Sem dúvida, embora seja no cabo. Às vezes, as pessoas pensam: ‘ah, mas é na SIC Caras, é um canal pequeno... As pessoas têm um bocadinho essa ideia dos canais temáticos, mas a verdade é que não deixa de ser um programa de televisão. Se não estiver pronto, com a devida qualidade, não se pode deixar um buraco na emissão e dizer que voltamos mais tarde. O programa é totalmente feito a partir de sua casa. O que é que é mais desafiante? Inicialmente, era organizar aqui em casa um estúdio, porque parece fácil mas não é. Preciso de ter câmaras ligadas, ajustar a luz... E isso, sozinha, é muito complicado. Não conseguia ver o plano em que estava. Tinha de pôr a gravar, esperava e depois voltava lá, desligava e via como é que tinha ficado. Isto era stressante. Fui-me aproveitando do Samuel [marido], sempre que ele estava em casa. Ainda agora, quando está disponível, deixa-me tudo prontinho. Estamos a falar de um programa de entrevistas. O que tem aprendido com ele? Há pessoas que nunca entrevistei pessoalmente e isso, às vezes, pode ser um entrave, mas é desafiante saltar essa barreira. Sinto que tenho conseguido tirar para mim um bocadinho de cada pessoa: a forma como veem alguma situação da vida.
Mesmo passadas duas décadas em televisão, sentiu alguma insegurança por ser o seu primeiro projeto sozinha? Insegurança, acho que não! Preparo-me muito bem para as entrevistas e, para primeira convidada, escolhi uma “peça” com quem me dou muito bem: a Carolina Patrocínio. Sabia que, além de ser uma grande colega, é uma ótima entrevistada. E seria um bom aquecimento. Insegurança, confesso que não sinto, mas talvez um nervoso miudinho, faz parte. Aquilo tem de ficar bem, tem de ficar um bom produto.
Este projeto iniciou-se em plena pandemia. Foi uma companhia para os duros confinamentos que vivemos?
Foi. O meu trabalho vive muito de eventos e, de repente, parou tudo! Claro que o facto de poder trabalhar em casa acabou por ser um alívio muito grande. As duas primeiras semanas foram engraçadas. Tinha também o Rodrigo de férias, mas estávamos todos em casa. Claro que era superassustador o que se passava lá fora, ninguém percebia nada do que estava a acontecer. E estávamos barricados. Mas acabou por ser engraçado. Estávamos os quatro, a bebé estava a crescer connosco 24 sobre 24 horas. Beneficiou imenso, nesse sentido. Mas depois começaram as aulas online e começou o meu stress. Trabalhar em casa ajudou-me a desanuviar. Ter alguma coisa, para além da casa, para além de nós, era quase como ir à rua fazer uma reportagem e voltar.
Em casa com os filhos, Rodrigo, de 10 anos, e Carolina, de 2, como é que consegui gerir tudo? De repente, tem um programa nas suas mãos e dois filhos que ainda são muito dependentes... Trabalhamos muito em equipa aqui em casa. A minha equipa de trabalho, tanto a nível pessoal como profissional, foi o Samuel. O Rodrigo já se organiza muito bem sozinho. Percebe que, quando vou gravar, tem de ficar no seu cantinho, que não pode fazer barulho. Quando a irmã está em casa connosco e não está a dormir a sesta, ele toma conta dela. Respeitam imenso o facto de eu estar a trabalhar e, estando o Samuel em casa, ele também põe ordem.
Sente que teve de se reinventar não só como profissional mas também como mãe?
Não sou daquelas pessoas que dizem que se começaram a conhecer melhor ou que descobriram nelas coisas que desconheciam. Não é novidade para ninguém que não estamos habituados a passar tanto tempo com os nossos filhos. É maravilhoso estar com eles 24 sobre 24 horas, mas, ao fim de algum tempo, sem saídas à rua, começa a ser muito cansativo. O reinventar passa um bocadinho por aí: descobrir a forma de controlar a nossa impaciência. Eles, coitadinhos, também já estavam superimpacientes. Se eu, que sou a adulta, não me conseguir controlar, a coisa vai descambar.
GOZADA NA ESCOLA
Numa época em que se fala tanto em ditadura do corpo e no alcance do “corpo perfeito”, a Cláudia já confessou que a sua luta é contrária: batalhar contra a magreza. Como é que ultrapassou esta fase em que admitiu sentir-se insegura? Acho que é um processo. Nunca frequentei nenhum psicólogo, nem nada disso. Quando falo em insegurança, não quer dizer que tenha tido problemas graves para enfrentar. Se calhar, uma menina de 15 ou 16 anos, hoje, tenta emagrecer... E a minha luta sempre foi para engordar. Eu era muito magrinha,
“Se calhar, uma menina de 15 ou 16 anos, hoje, tenta emagrecer... E a minha luta sempre foi para engordar. Eu era muito magrinha”
gozada todos os dias por ser assim. Vestia dois e três pares de calças só para ficar mais cheiinha. Lembro-me de um dia estar com colegas, na parte de trás dos pavilhões da escola, e de estar um calor abrasador. Só pensava: ‘Porque é que tenho tantas calças vestidas?’ Estava a morrer de calor!
E porque é que o fazia?
Se fosse vestir aquelas calças de ganga sem outras por baixo, já ficavam largas, porque o tecido alargava e depois ainda parecia mais magra. Sempre comi muito bem, mas não engordo, é genético. Hoje em dia, tenho muito mais cuidado com a alimentação, porque também tenho mais consciência do que é que se deve ou não comer e da forma como o devemos fazer, mas, ainda assim, não sou uma pessoa que engorde. E no meu Instagram há pessoas que fazem comentários menos simpáticos, principalmente sobre os meus braços, porque são muito fininhos.
E há mais críticas?
Lembro-me de uma senhora dizer que gostava de ser magra, mas nunca tanto como eu. Ótimo, bom para ela. Hoje em dia, estes comentários não me afetam, mas, em miúdas de 15 ou 16 anos, tem algum efeito.
Teve em si?
Não sofri, mas lembro-me de que, na minha primeira tentativa de entrar na moda, tinha uns 13 ou 14 anos, era muito magra e não entrei num concurso porque não tinha as medidas certas. Ou seja, as minhas medidas estavam acima daquilo que eles achavam ser o normal.
Como é que se gere essa nega, quando não se lida bem com o corpo, exatamente por achar que é magra demais?
Tenho pais com os pés muito assentes na terra e que nunca fizeram disso um bicho de sete cabeças. Nunca me deixaram
entrar nesse poço. Às tantas começa a ser uma queda gigante. Felizmente, também não tenho tendência para me deixar levar. Mais tarde, acabou por chegar a minha vez. Agora, sambo na cara das inimigas [risos].
Falou de comentários depreciativos que recebe na Internet. Ainda a magoam? Sim. As pessoas não têm noção de que atrás daquela rede social está outra pessoa. Os comentários magoam porque são pouco respeitosos. E nada tem a ver com a forma física, mas por não perceberem que aquela pessoa tem família. Sempre disse aos meus filhos que a profissão da mãe deles só é diferente porque ela aparece na televisão. As pessoas ainda vivem muito a achar que a figura publica é como um Deus, uma coisa assim um bocado intocável.
Há muitas mulheres que olham para as figuras públicas como um exemplo desses tão apetecidos “corpos perfeitos”.