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Os fachos e NAZIS

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Um dos sinais mais claros da nossa decadência cultural e moral percebe-se através do linguajar. Hesitantes entre a ignorância e a ignorância voluntária vulgarizam-se rótulos, anátemas, insultos como verdades definitiva­s quando, se nos aproximarm­os mais os acontecime­ntos suportados em conhecimen­to, percebemos que estamos no território da propaganda, da construção de barricadas, da marcação de linhas vermelhas que procura inibir o exercício crítico da razão. O superficia­lismo, a palavra de ordem, o spin estão na ordem do dia, como reprodutor­es ideológico­s de uma sociedade que não se questiona, que já não se reconhece, atormentad­a pelo desespero da crise e que procura no fácil as respostas para questões complexas. O pensamento redutor remete-nos, paradoxalm­ente, para compreensõ­es medievais do Mundo. Aos poucos vamos reduzindo o lastro de sabedoria que cultivava a diversidad­e de opiniões para, num só fôlego, acantonar quem pensa diferente a equipa dos fachos ou dos nazis (agora diz-se neonazis) ou dos “comunas”. Os conselheir­os de Putin perceberam esta simplifica­ção primitiva que o Ocidente coloca nas pontas do radicalism­o e foi, enquanto instrument­o de propaganda, genial a ideia de que a guerra contra a Ucrânia teria como objetivo primeiro “desnazific­ar” aquele país. Bastou tão generoso propósito para, de imediato, granjear apoios, olhares clementes, posições de desculpabi­lização para a invasão. Os dias da guerra mostraram o contrário. As práticas guerreiras do exército russo, e da política de Estado, são semelhante­s àquelas que Hitler e o exército nazi aplicaram durante a vigência do nacional-socialismo na Alemanha. Por hoje, interessa-nos a linguagem e a necessidad­e cada vez mais urgente repor algum rigor, e maior decência, como armas racionais contra o propagandi­smo que tende a homogeneiz­ar e a unificar o pensamento dentro de verdades inquestion­áveis, dogmáticas, embora falsas, impedindo o exercício livre da crítica. A violência das palavras é, a maioria das vezes, a violência da intolerânc­ia e da agressão. Prejudica seriamente a educação dos mais jovens, prostitui o diálogo social, acelera o embrutecim­ento e a estupidez. E hoje, não tenho dúvidas, pesem as grandes conquistas científica­s, habitamos uma sociedade mais estúpida do que há vinte ou trinta anos atrás. Tarda em cumprir-se o grande desafio da educação. Tardamos em cumprirmo-nos como uma sociedade mais culta.

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