NA ERA DA TV-PIMBA
Eu não sei como anda o consumo televisivo do meu caro leitor, mas o meu, confesso, anda adoentado, que é como quem diz, acontece graças a uma imensa dose de força de vontade para vencer os obstáculos. Quais? A falta de escolha, por exemplo. Calma, que eu explico. Falemos, como sempre, dos canais generalistas. O que há para ver, diariamente, em horário nobre? Noticiários, claro – tenho para mim que o espectador confunde notícias com novela e gosta de consumir em doses gigantes nas novidades do que se passa em Portugal e no mundo como se de histórias ficcionadas se tratassem (se calhar algumas até têm um travo disso, mas agora não vem ao caso). E a seguir aos noticiários gigantes, chegam as novelas.
Primeiro as cómicas, depois as que se levam um bocadinho mais a sério e finalmente as que já quase ninguém vê. Isto nos canais privados. O cenário “baralhar e voltar a dar” repete-se de manhã e à tarde, com uma grelha decalcada. Se formos para a RTP há algumas alterações pois sempre temos os concursos – sejam eles o Preço Certo ou o Joker.
E algumas séries portuguesas, que oscilam entre o excelente e o “quem é que deu dinheiro para produzir isto?” e das quais, num caso ou noutro, pouca informação se tem. No fim de semana, temos mais do mesmo: tarde “pimba” e noite com reality. E está feito. E a pergunta que se coloca é: então e alternativa, não há? E opção? E por que razão tem de ser tudo igual? Já se pensou que, se calhar, é por isso – e não por parecerem “novelas” – que os noticiários são líderes de audiência? E, já agora, porque razão as novelas têm cada vez mais núcleos cómicos – ou são comédias, num todo – e menos densidade (não confundir com intelectualidade), ou seja, história? É com estes produtos que se querem vencer os prémios Emmy para novela como já aconteceu no passado? Já agora, onde andam os cantores que não vão ao Somos Portugal nem ao Domingão? Resta-lhes virarem júri de concursos de talentos, ou serem convidados para Em Casa d’ Amália
na RTP? Está complicado isto...
Não é que ande desanimada com os generalistas, mas é cada vez mais em esforço que os vejo. E não é que não goste de reality e talk-shows e novelas. Adoro! Mas bons. E é por essas e por outras que o streaming
floresce e o cabo não pára de crescer.