TV Guia

O CINISMO E A HIPOCRISIA

- POR PAULO ABREU CHEFE DE REDAÇÃO

1. “Muitos dos que hoje carpem não quiseram saber”, criticou Manuel Luís Goucha, na sua homenagem a Nuno Graciano. A propósito da morte do ex-apresentad­or, que não resistiu, aos 54 anos, a um AVC, tenho de concordar com o rosto da TVI, embora ele devesse saber, como ninguém, que a hipocrisia e o cinismo andam de mãos dadas, todos os dias, na televisão, onde trabalha há quase meio século. Obviamente que, nestas ocasiões, as de dor, de tragédia e de drama, muitos farrapos – não tenho outro nome – da nossa vida social aproveitam para publicar fotografia­s e mensagens “sentidas”, nas redes sociais, para simplesmen­te aparecer, ganhar likes e, um dia mais tarde, quem sabe?, vir a ganhar dinheiro com publicidad­e. Qual é a surpresa, Manuel Luís Goucha?

“Está morto: podemos elogiá-lo à vontade”, resumiu de forma perfeita, um dia, o malogrado Machado de Assis, nome maior da literatura brasileira, sobre a hipocrisia e o cinismo. É, pois, a miséria humana no seu esplendor, capaz de tudo para vencer na vida, convencida de que a máscara não cairá nunca. E agora, no Natal e na passagem de ano, então, a coisa ganha ainda mais dimensão, onde vale tudo e a cheirar a mentira: um piscar de olho, uma palmada nas costas, um beijo ou uma palavra.

2. “Sei o que é o daytime. Eu e o Goucha, quando começámos, também estivemos dois anos e tal sem ganhar. O daytime não se faz porque se chegou. Faz-se, sim, da companhia e persistênc­ia”, defende-se Cristina Ferreira, em jeito de balanço da sua prestação nas manhãs da TVI, onde está desde 6 de novembro, no lugar de Maria Botelho Moniz. É verdade o que diz, apesar de Praça da Alegria, na RTP1, por exemplo, contrariar esta teoria. A dupla de apresentad­ores, Jorge Gabriel e Sónia Araújo, está junta há 21 anos e pouca empatia passa a quem está em casa. Só um diretor de Programas, como José Fragoso, e uma estação pública dada a pouco rasgo preferem manter tudo como está. Eu não tinha dúvidas em mexer neste horário: era Sónia e Hélder Reis, uma máquina de comunicaçã­o, de simpatia e de genuinidad­e.

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