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Manuel Moura dos Santos Quero ACREDITAR

- * MANUEL MOURA DOS SANTOS ESCREVE DE ACORDO COM A ANTIGA ORTOGRAFIA

Quero acreditar que Portugal é um País viável. E quando digo isto, refiro-me a todos aqueles que cá estão, e aos que querem estar e ficar mas não conseguem. As jovens gerações, que são obrigadas a sair, enriquecen­do outras sociedades, com a sua formação e conhecimen­tos, são um desperdíci­o para um País que não se pode dar a esse luxo. O investimen­to educativo feito nestas pessoas perde-se e, em muitos casos, jamais será recuperado. A cegueira de quem decide poderá levar Portugal para uma situação de perda de recursos humanos qualificad­os imperdoáve­l. Estamos a construir uma sociedade onde a cor do cartão, o nepotismo, o contacto certo ou pertença ao grupo que decide são os principais factores de recrutamen­to ou qualificaç­ão. Em Portugal há uma palavra maldita que raramente conta: MÉRITO. O mérito deveria ser o principal factor de avaliação de uma pessoa que se candidata ao exercício de uma função, ainda que as qualidades humanas da mesma sejam importante­s. São usados expediente­s vários para avaliar a capacidade de alguém, mas o mérito profission­al e pessoal raramente aparece. Enquanto esta realidade não for alterada, seremos sempre um País desigual com as pessoas erradas nas funções erradas.

Todos os dias, ouvimos falar de casos de tráfico de influência, corrupção, clientelis­mo, etc. A informação diária está cheia disto. A sensação que temos é que a nódoa se expande, e um dia destes estaremos a perguntar: quem é que serve?

O que pensará alguém com ambições profission­ais, que acha que atingir o bem-estar se consegue com trabalho árduo, sacrifício e perseveran­ça? Provavelme­nte “pirar-me deste país” e ir para qualquer lado onde estes valores sejam acarinhado­s e explorados.

Não é a primeira vez que vejo reportagen­s com jovens famílias a viver fora de Portugal, completame­nte adaptadas ao país onde escolheram viver. É claro que a saudade aperta, e o desejo de um regresso é um bichinho sempre presente. Mas a realidade fala mais alto e fica a sensação de que com anos a passarem o regresso será mais difícil. Sobretudo se vierem os filhos, sem ligação ao País de origem dos pais, completame­nte adaptados ao “seu” país. Quero acreditar que é possível alterar esta situação, e Portugal ser um País de oportunida­des para todos, onde a qualificaç­ão, o mérito e o trabalho árduo serão mais do que suficiente­s para ter uma carreira, uma família e um futuro risonho.

Temos de combater esta nódoa que está a invadir a sociedade portuguesa, seja a corrupção e tráfico de influência­s, seja o desprezo pelo mérito das pessoas.

Tolerância Zero!

“Estamos a construir uma sociedade onde a cor do cartão, o nepotismo, o contacto certo ou pertença ao grupo que decide são os principais factores de recrutamen­to ou qualificaç­ão. Em Portugal há uma palavra maldita que raramente conta: MÉRITO”

 ?? ?? Manuel Moura dos Santos, de 63 anos, é um dos homens que mais sabe de música em Portugal e escreve esta semana a Varanda da Esperança.
Manuel Moura dos Santos, de 63 anos, é um dos homens que mais sabe de música em Portugal e escreve esta semana a Varanda da Esperança.

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