DA FOME À BALADA

Fazia sete dias que o tecto me fugia. Não o via porque não o queria ver. Dieta. De vez em vez, é preciso ficar com a fechadura sem a chave lá dentro. Mensagens, telefonemas, até batidas à porta em sinal de desespero. Nada. Quando não apetece é impossível estar pronta. Que fique bem claro, preto no branco, que tudo corre às mil e uma maravilhas no que à intimidade diz respeito. Até vos digo, prezados leitores, terei a mais, e tenho que chegue para umas quantas que andam aí aos caídos, coitadinhas. Uma semana a pensar no infinito, para quem, como eu, é uma rotunda sempre aberta, pode parecer muito, mas não é assim tanto. Para que a coisa possa saber bem e que não haja coisa que a substitua, o melhor é descansar. Fechar fémures e usar a boca para o batom. É como ter muito apetite para comer um bacalhau de coentrada, e na hora do prato, preferir sopa. Estive, sim, a sopas.

O verbo estar no passado está correto. O jejum foi partido. Um prazer novo, na agenda, quis saber o que faço aqui, em casa. Parece parte do refrão de Paulo Carvalho, mas é só parecenças. O que ando a fazer, não se explica por palavras. São ações. E fortes. Não lhe adiantei pormenores. Nem precisei. Posso ir? Pergunta de calouro. Pode. E veio. É certo que, depois de não dar de beber à fonte, as consequências da seca no lugar esperado revelaram-se intensas e desnorteadas. Coitado. Julgo que no início, antes de o bombom Mon Chéri mostrar a ginga, ter-se-á assustado. Ainda que lhe passasse pela moleira de cima querer fugir, não lhe restava hipótese nenhuma. Apanhado por todos os lados, o homem, que aparenta ter menos do que tem, mostrou-se um especialista nas zonas onde nasce a chuva. Chamei-o de muitos adjetivos. Devo ter dito frases, em jeito de ordens, que não se dizem. E ele, tão obediente e mãos largas na execução, não se importou. E repetiu.

UMA SEMANA A PENSAR NO INFINITO, PARA QUEM, COMO EU, É UMA ROTUNDA SEMPRE ABERTA, PODE PARECER MUITO, MAS NÃO É