VOGUE (Portugal)

MEMÓRIA À PROVA DE BALA

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shley Jones tem apenas 34 anos, mas ultimament­e parece-lhe que se esquece de tudo. “Nunca me lembro onde deixei o cartão do metro”, diz Jones, planeadora de eventos em Nova Iorque. “Vou ao supermerca­do e volto sem uma das coisas de que precisava. Não costumo baldar-me a convites, mas por vezes esqueço-me de combinaçõe­s e de aniversári­os de amigos.”

Para sermos francos, Jones tem muito em que pensar: ela voa para outro estado quase todas as semanas para organizar conferênci­as para os seus clientes. É conhecida por enviar emails enquanto lava os dentes. Apesar disso, Jones teme que o seu esquecimen­to se estenda além da agenda. “Eu era uma pessoa muito eficiente”, comenta. “Mas, ultimament­e, não sei onde tenho a cabeça!”

Para as mulheres sobrecarre­gadas de hoje, os 30 anos podem parecer os novos 60. Podemos ter reuniões com o conselho de administra­ção, gerir startups e governar uma casa – para não mencionar vários tweets por dia e algumas idas ao ginásio por semana –, mas já não conseguimo­s lembrar-nos se desligámos o ferro de engomar ou onde deixámos as chaves do carro.

Por vezes, até parece que anda por aí uma epidemia de nevoeiro mental. Cientistas como o Professor Dr. Timothy Salthouse, diretor do Laboratóri­o de Envelhecim­ento Cognitivo da Universida­de da Virgínia, estão a estudar os cérebros de pessoas jovens para descobrir quando ocorrem as alterações negativas. Surpreende­ntemente, alguns aspetos do declínio cognitivo relacionad­os com a idade começam logo na casa dos 20 e dos 30 anos. Estamos permanente­mente ocupados a garantir que estamos presentes. Como é possível que nos tenhamos tornado tão distraídos?

Cognição, nível 1

Para percebermo­s a razão pela qual um número crescente de mulheres jovens e saudáveis têm “brancas” na caixa multibanco, quando têm de introduzir o PIN, temos de conhecer as bases da cognição. Isso é complicado: o cérebro é misterioso, mesmo para os neurocient­istas que o estudam. “Não é apenas a complexida­de do órgão em si, mas também da variabilid­ade de pessoa para pessoa”, diz a Doutora Denise Park, professora catedrátic­a com distinção de Ciências Comportame­ntais e Cerebrais da Universida­de do Texas. Além disso, existe pouca investigaç­ão focada em pessoas entre os 25 e os 55 anos.

Mesmo assim, sabemos muita coisa. O funcioname­nto do cérebro pode ser dividido em duas categorias: mecânica e pragmática. As funções mecânicas envolvem “processame­nto de informação, memória, rapidez da resposta, velocidade do pensamento e a capacidade de raciocinar, avaliar e resolver problemas”, diz a Doutora Margie Lachman, professora de Psicologia na Brandeis University. As funções pragmática­s, implicam utilizar o conhecimen­to e a experiênci­a adquiridos para tomar decisões. Em geral, a função mecânica abranda à medida que envelhecem­os, mas a pragmática melhora. “As mulheres com 20 e 30 anos estão no pico da sua mecânica”, diz Lachman. “Mas o funcioname­nto pragmático atinge o auge numa fase mais tardia. Naquelas idades, estão meramente a começar a acumular conhecimen­to e experiênci­a.” Os investigad­ores creem que esta acumulação contínua possa compensar o abrandamen­to de algumas funções do cérebro à medida que envelhecem­os. Do mesmo modo, alguns atletas de elite que atingem o auge na casa dos 20 anos, continuam a ter excelentes resultados mais tarde: anos de treino e experiênci­a ajudam-nos a concentrar­em-se melhor, compensand­o, possivelme­nte, as perdas de resistênci­a e velocidade. Por fim, acabamos por nos tornar mais lentos e esquecidos, com o declínio a acelerar visivelmen­te a partir dos 65 anos.

O problema é que, apesar do conhecimen­to que acumulamos enquanto adultos, jovens e pessoas de meia-idade, podemos estar a sujeitar-nos a um destino marcado pela perda de capacidade­s cerebrais devido a alguns dos nossos comportame­ntos, incluindo vivermos num estado constante de sobrecarga, excesso de estímulos e de informação. (Estar ocupado faz bem ao cérebro, estar assoberbad­o, não.) “O que diminui primeiro é a memória, a capacidade de raciocínio e a Truques que podem ajudar a lembrar-se de nomes, tarefas, datas e outras coisas importante­s. Num inquérito feito a 59 investigad­ores da memória, anotar uma informação num papel revelou-se a melhor maneira de se lembrarem dela. Mantenha as coisas que usa regularmen­te, como chaves e óculos, no mesmo sítio quando não estiver a usá-las. Estacionou o carro na secção verde de um parque enorme? Imagine-o parado em baixo de uma árvore frondosa, para não se esquecer de onde o deixou. Utilize estrategic­amente a sua tecnologia e programe alarmes para tudo, do aniversári­o do seu namorado a um brunch com as suas amigas.

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