Fusão vagabunda
Uma mulher, uma guitarra e mais nada. Isto ao longo de duas décadas, durante os quais Lula Pena lançou apenas dois álbuns combinando poesia e letras intimistas com uma paleta de géneros incluindo o fado, a bossa nova, a canção francesa, o flamenco e o tango. Transposto para concerto, este programa tendia a descolar para uma espécie de esquecimento do mundo ou de mergulho profundo na interioridade, um processo de metamorfose anímica que agora culmina em Archivo Pittoresco. Ainda há letras e poemas, de resto muito variados, todo um caleidoscópio de referências e de pontas soltas, mas Lula Pena consegue ao terceiro álbum fazer da sua peculiar conjugação de voz grave e sussurrada, infinita tapeçaria de cordas e idiossincrático tamborilar de ritmos uma espécie de feitiço ou de transe hipnótico, tão eficaz como terapia relaxante e passaporte para a transcendência.