VOGUE (Portugal)

COLEÇÃO privada

-

É a primeira exposição individual de Nathalie Du Pasquier em Portugal, um rasgo entre o real e o imaginário.

Por Ana Murcho.

s três caixas abertas, coloridas, que ocupam uma das paredes da Kunsthalle Lissabon, são “o corpo” de Nathalie Du Pasquier: a cabeça, as pernas e o coração. Estas esculturas, que funcionam como representa­ções mais ou menos abstratas do interior da artista, são feitas em madeira, totalmente transportá­veis, e é a partir delas que nasce o título da exposição. “As caixas chamam-se ‘coleções privadas’ porque fecham e funcionam como uma pequena parte de cada um de nós. São, ao mesmo tempo, uma peça [de arte] e uma caixa, e eu gosto dessa ideia de coisa portátil.” Collezioni Private é a primeira exposição individual de Nathalie du Pasquier em Portugal. Em vez do patchwork de tons e padrões a que estamos habituados na obra da francesa, o que aqui encontramo­s é uma nova série de desenhos a preto e branco que convive harmoniosa­mente com as esculturas/caixas, porque “as coisas nem sempre acontecem a cores. Penso que no último ano tive muita vontade de fazer coisas a preto e branco. Acho que estes espaços cinzentos são muito estimulant­es”.

Nathalie Du Pasquier, nome maior da arte contemporâ­nea – foi, nos anos 80, uma das designers do grupo Memphis, junto a George Sowden e Ettore Sottsass –, é exímia na execução de naturezas-mortas e há no seu trabalho um fascínio por formas e uma exploração constante entre as superfície­s planas e a ilusão da perspetiva. Não se considera, no entanto, obcecada por nenhuma destas variantes: “Sou pintora, por isso é normal interessar-me por formas, cores e espaços, mas acho que as cores podem ser uma coisa muito instintiva, nem sempre uso as mesmas, depende do mood, da luz, depende de uma série de coisas. E às vezes não uso cores de todo.”

Não foi o caso da coleção-cápsula que desenhou para a American Apparel, em 2014. Entre roupa e acessórios, foram 43 peças, numa colaboraçã­o cujo saldo foi altamente positivo. “A American Apparel queria fazer um revival dos meus prints dos anos 80. A stylist era uma pessoa muito simpática, demo-nos muito bem, num mês o trabalho estava feito. Depois demorou mais tempo a produzir a coleção, claro. Eles até fizeram um vídeo superdiver­tido em que a música é de um disco que eu fiz na década de 80. Foi muito interessan­te, porque eu não sabia nada sobre a American Apparel e, de repente, faço uma coisa para eles e fico na moda entre os jovens, o que foi muito bom!” [Risos]

Na sua passagem por Portugal, Du Pasquier aproveitou para se inspirar, e antecipar coleções (e exposições) futuras. “Fico a maior parte do tempo no meu estúdio, por isso não vejo grande coisa. Mas hoje dei um belo passeio por Lisboa, fui ao Museu do Azulejo, por isso vi muitas coisas que de certeza me vão inspirar no futuro. Talvez as minhas próximas pinturas tenham azulejos.”

Nathalie Du Pasquier, Collezioni Private, na Kunsthalle Lissabon até 15 de abril.

 ??  ??
 ??  ?? Vista da exposição: le mie gambe, Stanze grigie per Lisbona: III e Collezioni private: la mia testa, todas de 2016. Ao lado, a artista Nathalie Du Pasquier.
Vista da exposição: le mie gambe, Stanze grigie per Lisbona: III e Collezioni private: la mia testa, todas de 2016. Ao lado, a artista Nathalie Du Pasquier.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal