ATRÁS DE PABLO NERUDA
Filmar um mito chileno, neste caso um mito do mundo. Mas Neruda, de Pablo Larraín, não é bem uma biografia sobre o homem ou o artista. É uma reimaginação do seu lugar na iconografia de um país. Larraín vai mais longe, mostra o lado vaidoso, os seus vícios, a propensão para a burguesia. Nesse aspeto, é tudo menos reverente, sobretudo porque esta história é sobre um período muito concreto: os tempos em que foi perseguido pelo regime fascista que subiu ao poder no Chile. A ação, que não quer ser rigorosa, percorre a sua fuga por ter assumido a sua filiação comunista. O dispositivo nasce de uma fantasia do cinema, neste caso a personagem de Gael García Bernal, um inspetor da polícia fascinado e obcecado por apanhar Neruda. Um inspetor que nunca existiu e que pretende ser uma metáfora de um regime que quis calar o poeta herói do povo. É um Gael como nunca o vimos: transforma-se, mesquinho, lascivo. Papel da sua vida? O filme é já um dos grandes sucessos dos últimos tempos do cinema da América Latina e confirma todo o talento de Larraín.