VOGUE (Portugal)

Definindo O TOM

- Por Ellie Pithers.

Igual, mas diferente: vestir a mesma cor dos pés à cabeça é a abordagem cromática mais inteligent­e desta estação. o que diz respeito às teorias sobre o uso da cor, Barbara Cartland tinha uma maneira de pensar muito própria. Pessoas fortes gostam de cores fortes, pessoas beges gostam de bege, e nenhuma mulher inglesa deve usar bege ou castanho porque a faz parecer uma batata assada, disse a autora de livros românticos ao Observer, em 1983. Ela, como se sabe, foi adepta do “cor-de-rosa Cartland” durante grande parte da sua vida: um tom de coral que usava dos pés à cabeça, incluindo nos lábios. Resista ao impulso de fazer troça. Embora vestir-se integralme­nte da mesma cor possa parecer tão antiquado como sugerir que as mulheres inglesas não devem usar bege, é um estilo que está a ganhar terreno esta estação. Só que agora chamamos-lhe look tonal.

Nos desfiles de outono, entre lantejoula­s, bordados e volumes exagerados, havia raparigas vestidas dos pés à cabeça com ligeiras variações de uma só cor. Foi impossível não reparar nesse pormenor na coleção da Gucci para a primavera, onde as modelos usaram azul-pálido e amarelo-canário com chapéus, malas, óculos, collants e sapatos a condizer. Em Céline, o efeito foi mais subtil: viram-se variações de preto (cetim, croché e lona, tudo preto, junto numa única composição) e azul-petróleo (casaco de cabedal, calças e camisola de gola alta em caxemira). Entretanto, em The Row, a dominante foi a cor de papa de aveia com algum caramelo à mistura. Quando Guinevere van Seenus entrou na passerelle com um vestido cor de pedra, um casaco castanho-amarelado e sapatos em castanho-bronze, a primeira fila pensou duas coisas: Primeira, o bege não fica maravilhos­o tom sobre tom, usado dos pés à cabeça? Segunda, não parece simples?

Com efeito, para Gabriela Hearst, o look tonal nasce do pragmatism­o. “Quem me dera que fosse uma ideia criativa de génio, mas na verdade não há nada mais fácil do que juntar todos os tons de uma mesma cor”, disse a designer, no seu estúdio em Nova Iorque. O tom sobre tom é uma componente fundamenta­l da sua estética. “Temos de misturar texturas e apostar nas cores clássicas – eu uso constantem­ente azul-marinho – mas, dito isto, temos um macacão vermelho na coleção de primavera que está a vender-se muito bem.” Natalie Kingham, diretora de aquisições da Matchesfas­hion.com, concorda e sugere que as consumidor­as estão a aderir ao look tonal por insinuar um à-vontade luxuoso. Ela menciona Ryan Roche, “que é especialis­ta em looks de malha integrais e aposta em

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