Seria estúpido não ver...
As sugestões que apresentamos ultrapassam o parvo, o mindfuck ou o idiota. O caminho pelo espectro da estupidez vai desde o propositadamente imbecil ao inexplicavelmente bom. Prometemos que vai desanuviar, e sentir uma certa “vergonha alheia”, dos filmes
Não sabemos se havemos de rir ou de chorar — é assim que estes filmes nos fazem sentir. Muitos deles lembramnos aquelas piadas secas que os pais dos nossos amigos adoram fazer, por serem “muito divertidas”: são tão idiotas que até têm graça. A estupidez está em todo o lado, até na sétima arte. Aliás, talvez faça sentido começar esta viagem pelas produções dedicadas exclusivamente ao culto do estúpido. Assim sendo, haverá melhor ponto de partida do que Jackass - the Movie (2002)? O filme segue o mesmo raciocínio da série da MTV que lhe deu origem, e que foi um sucesso estrondoso a nível mundial por elevar a estupidez a níveis nunca antes vistos. Na versão cinematográfica, uma espécie de documentário caseiro sem qualquer guião prédefinido, as partidas e acrobacias (“executadas por profissionais”) mantêm-se, e foi isso que fez dela um sucesso. Algo semelhante aconteceu com Sausage Party (2016), que merece uma menção especial. As personagens em desenho animado enganam os mais inocentes, que com certeza não imaginam o escárnio e a malvadez se a comida tivesse alma — sim, mesmo a processada e enlatada. O estúpido também pode ser algo acidental: um enredo mal fundamentado ou resultado de low budget, o nosso favorito. Attack
of the Killer Tomatoes (1978) foi feito com um orçamento de cerca de 90 mil dólares, uma ninharia para os meandros de Hollywood, e é exatamente o que o título sugere. Na mesma onda, Attack of the
Killer Donuts (2016) conta a história de donuts mutantes assassinos, transformados por um desastre químico. Mas o epítome da sci-fi feita com três tostões, por assim dizer, é o insólito e inconfundível
Sharknado (2013), que deu início a uma série de oito filmes sobre um furacão que provoca uma série de tornados e… tubarões, que desatam a cair do céu. Sim, leu bem. Alguém conseguiu escrever mais do que uma versão dessa “história.” Adiante. Ainda na categoria de ficção científica gone wrong, temos Rubber (2010), a história de um pneu assassino. O produto final é algo de extraordinário, mas provavelmente não na maneira como foi imaginado. Já no que ao cómico profundamente idiota diz respeito, The Gods Must be Crazy
(1980) é, sem sombra de dúvidas, o filme de culto por excelência.
Foi ele o responsável por mudar a narrativa da estupidez, e seria ele o ponto de partida para obras como Weekend at Bernie’s (1989). No outro lado do espectro temos aquilo que, de alguma forma, consegue ser conteúdo de qualidade, como The Great Dictator
(1940), uma sátira ao nazismo e uma das maiores obras-prima de Charlie Chaplin, Being John Malkovich (1999), um filme cuja sinopse é demasiado complicada para explicar em duas linhas — mas imagine que está dentro da cabeça de John Malkovich e a coisa fica lá perto — The Lobster (2015), um hino ao nonsense e ao sentido da vida, e
Swiss Army Man (2016), em que Daniel Radcliffe – sim, Harry Potter – interpreta um cadáver. Terminamos esta viagem com a mais recente produção estúpida: Inside (2021), do comediante Bo Burnham, que é um retrato preciso do que a estupidez do confinamento de 2020 fez a cada um de nós. Podíamos continuar esta lista indefinidamente, só que não temos espaço, por isso deixámos o melhor para o fim.
Monty Python’s Flying Circus (1969-1974), provavelmente uma das mais brilhantes séries de TV de todos os tempos, onde pequenos episódios do quotidiano são encenados em pequenos sketches, com altas doses do mais rebuscado, e refinado, humor negro.