VOGUE (Portugal)

CALZEDONIA

- Sofia Lucas Diretora da Vogue

The Nonsense Issue é dedicado ao absurdo, à falta de bom senso (também conhecida por falta de noção), ao despropósi­to, e também à estupidez... Tudo embrulhado num imenso arco-íris nonsense que achámos fazer sentido durante a silly season, mais silly do que season, neste verão absurdo que vivemos.

Aestupidez não é apenas estúpida, é extraordin­ariamente útil e até necessária (além de extremamen­te destrutiva). Alimenta penitenciá­rias e todo um sistema criminal e jurídico, indústria médica, media, publicidad­e, cosmética e até a Moda, ou as modas. Sustenta grandes setores da nossa população com empregos remunerado­s. É protagonis­ta nos cenários políticos e económicos. Já Napoleão Bonaparte defendia: "Na política a estupidez não é um handicap." Vivemos rodeados de tantas idiotices óbvias... conduzir sob efeito de álcool, fumar (pessoalmen­te, tenho imensa dificuldad­e em parar), andar de bicicleta sem luz à noite, fazer canoagem sem colete salva-vidas, enviar mensagens de texto enquanto se conduz, iniciar-se no mundo do crime (que pode compensar, mas é uma ocupação com altas taxas de insucesso), falhas na reciclagem, tanto pessoais quanto políticas... a lista pode ser intermináv­el, sinta-se à vontade para adicionar as suas próprias experiênci­as e favoritos. Porque há idiotices que não fazem mal a ninguém, pelo contrário, servem para tornar mais leve o nosso lado mais terra-a-terra. Existem as faltas de sentido inofensiva­s, interligad­as a uma liberdade e a um prazer que não sabemos explicar. "I like nonsense, it wakes up brain cells", afirmou Dr. Seuss. Porque todos nós somos idiotas de vez em quando. Talvez a idiotice menos óbvia e mais comum seja a capacidade de julgarmos a estupidez alheia, e de muito raramente nos incluirmos na lista.

Por que razão adoramos o nonsense? Porque adoramos o humor dos Monty Python e a sua inquisição espanhola que ninguém esperava? Ou porque nos rimos até às lágrimas, sem saber porquê, só por ouvirmos as gargalhada­s contagiant­es de alguém? Porque emitimos os sons mais estranhos ao saborear o que mais nos delicia ou gritamos e experienci­amos o pânico numa montanha russa onde entramos voluntaria­mente? Existe um absurdo glorioso e essencial que está no coração do mundo, mesmo que não leve necessaria­mente a lugar nenhum. Parece que apenas em momentos de insight e iluminação incomuns é que entendemos isso e descobrimo­s que o verdadeiro sentido da vida pode não fazer sentido, que o seu propósito não é propósito. Ainda assim, queremos usar a palavra "significat­ivo." Isto é um absurdo significat­ivo? É uma espécie de absurdo que não é apenas caos, que não é apenas uma baboseira tagarela, mas que contém em si um ritmo, uma complexida­de fascinante e uma espécie de talento artístico para viver. É nesse tipo de falta de sentido que chegamos à simplicida­de mais pura e ao significad­o mais profundo. Talvez o nonsense seja tão preciso porque o senso comum sem ele é tão limitado.

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 ??  ?? "STUPIDITY IS INFINITELY MORE FASCINATIN­G THAN INTELLIGEN­CE. INTELLIGEN­CE HAS ITS LIMITS WHILE STUPIDITY HAS NONE." Claude Chabrol
"STUPIDITY IS INFINITELY MORE FASCINATIN­G THAN INTELLIGEN­CE. INTELLIGEN­CE HAS ITS LIMITS WHILE STUPIDITY HAS NONE." Claude Chabrol
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