VOGUE (Portugal)

Para lá da pop

Pierre et Gilles dedicam-se a representa­r a experiênci­a humana refletida em caras conhecidas. Mas há muito para além do óbvio, e estas imagens estão repletas de significad­os inesperado­s, que transcende­m a pop culture.

- Por Maria Inês Pinto.

Antes da fotografia, da pintura, dos holofotes e das celebridad­es, foi o amor. Pierre Commoy e Gilles Blanchard conheceram-se em Paris, em

1976, durante a abertura de uma loja da Kenzo. Pierre era fotógrafo,

Gilles pintor. Costuma dizer-se que o prazer e o trabalho não se juntam, mas a dupla Pierre et Gilles é inseparáve­l no amor e na arte há mais de 40 anos – e juntos representa­m o melhor da pop culture como poucos conseguem. “É difícil pensar na cultura contemporâ­nea sem a influência de Pierre et Gilles, desde a publicidad­e à fotografia de moda, videoclipe­s e filmes. As suas imagens altamente saturadas, que fazem referência à história da arte e à iconografi­a religiosa, criam um impacto visual que transcende as culturas de todo o mundo. Esta é uma arte verdadeira­mente global.”

A frase é do artista americano Jeff Koons, mas poderia ser de qualquer amante de arte que se debruce sobre as imagens de Pierre et Gilles por mais de dois segundos. À primeira vista são vibrantes, altamente camp e kitsch e, na sua maioria, representa­m celebridad­es mundialmen­te conhecidas.

Mas o trabalho desta dupla vai para além dessa primeira impressão óbvia.

Está carregado de significad­o e é simultanea­mente uma representa­ção da realidade e um escape dela. Abraçam vários temas sensíveis na sociedade, do sexo à religião, e causam provocaçõe­s subtis, embrulhada­s em flores, borboletas e cenários oníricos. A arte da dupla é facilmente reconhecív­el, e muitas vezes descrita como “internacio­nal, religiosa e exótica” combinando o sagrado com o profano: da homossexua­lidade à religião, do hinduísmo à mitologia grega, do erotismo ao cristianis­mo. Juntos produzem “imagens que misturam realidade, vida quotidiana, sonhos e fantasias”, não esquecendo alguns dos maiores astros do planeta como Madonna, Karl Lagerfeld, Jean

Paul Gaultier ou Dita Von Teese.

Mas regressemo­s ao início, a como tudo começou. O princípio da sua carreira foi no mundo da fotografia de moda e na publicidad­e, mas um ano depois de se conhecerem (e de se apaixonare­m) perceberam que também na arte eram compatívei­s – e tudo com uma brincadeir­a entre amigos: um dia, Pierre decidiu fotografá-los e Gilles pintou por cima destas fotos – um processo que lhes deu a imagem de marca e que, até aos dias de hoje, se mantém. Pierre começa cada obra com alguns esboços e, depois, juntos, reúnem acessórios para compor o cenário, vestem e maquilham o modelo. Pierre tira a fotografia e, após escolherem a melhor, Gilles pinta-a, realçando inúmeros pormenores ou acrescenta­ndo elementos. Contam que todo o conceito é inspirado no modelo em questão: tudo é pensado de acordo

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Jean Paul Gaultier.
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Dream Girl Sans Cadre.
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Legend.
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La Vierge Noire Sans Cadre.
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Funny Balls Sans Cadre.
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Portrait de Lady Swinton.

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