VOGUE (Portugal)

Divindade olfativa

Os nossos sentidos são portas para encontrar o que escapa aos limites do humano. Com a sua nova fragrância, Gaultier Divine, Jean Paul Gaultier explora o feminino como sinónimo do divino.

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Ofeminino é frequentem­ente pensado como um mero adjetivo, uma palavra que descreve um mundo de expectativ­as e regras. Mas, por detrás das correntes da racionalid­ade, encontra-se escondido o verdadeiro valor dessa palavra. A feminilida­de é sinónimo do divino. Ainda que muitos permaneçam ignorantes a este facto, existem outros que embarcam na missão de realçar essa conexão, quase espíritual. Jean Paul Gaultier encontra-se no último grupo. O designer francês fez da sua carreira uma homenagem ao feminino. Desde 1976 que Gaultier veste algumas das mulheres mais divinas do planeta, celebrando o poder mitológico da sua presença. Mas não foi apenas com ícones como Madonna ou Arielle Dombasle que o designer partilhou o seu carisma. Através das suas fragrância­s, Gaultier consegue transmitir a mesma mensagem de empoderame­nto através de uma simples borrifadel­a. Com a mais recente adição à sua (crescente) família de perfumes icónicos, Gaultier Divine, não há espaço para dúvidas: o feminino é divino.

Em 1993, Jean Paul Gaultier lançou a sua primeira fragrância, um clássico no Olimpo de fragrância­s, apropriada­mente intitulado de Classique. Para além do cheiro, inspirado nas mulheres que educaram o designer, este foi também a estreia da silhueta clássica das fragrância­s da maison. A forma do corpo feminino é elevada ao nível artístico através do icónico frasco, uma decisão que ultrapassa a mera objetifica­ção da mulher e comenta o valor da essência que habita dentro do corpo. O formato das fragrância­s de Gaultier permanece, mesmo após trinta anos do seu lançamento, e é reinventad­o com Gaultier Divine. A mitologia do feminino não informa apenas o exterior da fragrância, é também a fonte de inspiração para o seu cheiro. Criado pelo icónico perfumista Quentin Bisch, Gaultier Divine explora a tensão entre perfumes tradiciona­lmente femininos e novas interpreta­ções desta mesma categoria. A um tom floral provenient­e de um bouquet de lírios, suavemente doce como um merengue, é adicionada a complexida­de de uma brisa marítima. É com o sabor de sal marinho na boca que nos surgem imagens d’O Nascimento de Vénus, de Sandro Botticelli, uma comparação intenciona­l num perfume que é uma ode à feminilida­de.

A reformulaç­ão de um clássico, como um perfume floral, não é surpreende­nte por parte de uma marca que se define pela capacidade de reinventar o passado. O frasco de Gaultier Divine alude ao ADN de Jean Paul Gaultier, adornado com um espartilho e o icónico cone bra. O espartilho, uma das imagens da marca, foi interpreta­do durante séculos como um elemento de opressão feminina, mas através da visão do designer francês, foi revolucion­ado e a peça tornou-se num símbolo da liberdade e sexualidad­e da mulher. Auxiliado por ícones como Madonna, Gaultier fez do espartilho uma alegoria ao poder divino da feminilida­de. É mais que apropriado que este esteja presente como elemento decorativo de Gaultier Divine, uma ode olfativa ao género feminino. Com um tom dourado hipnotizan­te, o frasco da fragrância é por si só um manifesto. É pelo respeito a este objeto artístico que Jean Paul Gaultier oferece a possibilid­ade de adquirir refills. Para além de se estabelece­r como uma materializ­ação do compromiss­o para reduzir o seu impacto ecológico, a iniciativa é também uma forma de transmitir o valor de Gaultier Divine. O frasco da fragrância parece angariar energia solar, tornando-se vibrante, mesmo na escuridão. Um feixe de luz que evoca divindade feminina. ●

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