Torcello
Vale a pena resistir a fazer escala nas ilhas intermédias e só desembarcar mesmo em Torcello. São muitas as distrações consumistas pelo caminho e boa parte dos potenciais visitantes acabam por nem pôr os pés nesta ilha na ponta nordeste da lagoa, a coisa de uma hora de vaporetto da cidade. Melhor para os resistentes, quando o lugar dimana uma atmosfera única que só se aprecia em pleno longe das multidões. Torcello é Veneza antes de Veneza e, ao mesmo tempo, um caso sério de involução, ou melhor, de devolução de uma cidade à natureza, deixando de pé pouco mais do que um par de testemunhos do seu passado glorioso.
Primeiro destino de povoamento da lagoa, Torcello tinha dez mil habitantes no século X, mas o recuo das águas e a malária condenaram-na ao despovoamento e quase completo desmantelamento. Resistiram a prodigiosa Basílica de Santa Maria da Assunção (do ano 639), na fotografia à esquerda, prendada com majestosas colunas gregas e sumptuosos mosaicos bizantinos, a igreja que guarda as relíquias de Santa Fosca (dos séculos XI-XIII) e o original cadeirão de mármore onde a lenda diz que se sentava Átila, rei dos Hunos. A verdade é que Átila nunca aqui aportou e o banco era usado pelos representantes da justiça na época de maior esplendor de Torcello.
Entre o vaporetto e a basílica há uma Ponte do Diabo, na fotografia à esquerda, onde toda a gente se detém para se fazer fotografar e espantar superstições, mas quase tudo o resto em volta é mato. As igrejas e as relíquias ancestrais, toda a mística mais o enlevo do verde invasor convergem para fazer de Torcello um dos locais mais encantadores da lagoa.