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Capital das segundas oportunida­des

- TEXTO CATARINA PIRES

Osorriso despachado de Kosjenka – que diz, num português divertido, aprendido pela internet, que podemos chamar-lhe Maria porque até para os conterrâne­os o seu nome, vindo de um conto tradiciona­l croata de que a mãe gostava muito, é peculiar – apagou a má impressão que a noite anterior, a da chegada à capital da Croácia, tinha deixado dos zagrebinos. Nessa noite, que era de sexta-feira, tinha sido missão quase impossível encontrar, no centro de Zagreb, um restaurant­e que servisse jantar às dez da noite. Impossível mesmo foi encontrar quem o fizesse com simpatia, e diante da nossa estranheza, um empregado de mesa mal-encarado explicou, num inglês arrevezado: «Estamos nos Balcãs.» O que, verdade seja dita, não explica nada, uma vez que era já o quinto dia na Croácia, com passagem por Opatija, Nin, Zadar, Trogir e Split, e foi a primeira vez que demos de caras com más energias. A digestão exigia um café, mas isso, depois das onze, só no multinacio­nal McDonald's. Na cidade dos corações, um museu dedicado às relações falhadas é, há seis anos, uma das grandes atrações turísticas. Podia ter sido essa a minha história com Zagreb: a de uma desilusão. Mas não. Valeu a pena dar-lhe uma segunda (e terceira) oportunida­de.

A manhã, ajudada pela guia Kosjenka Firak, ou Maria, trouxe nova luz sobre Zagreb, mais de 900 anos de história, outrora dividida em duas colinas – a secular Gradec e a religiosa Kaptol, hoje, parte alta e parte baixa da cidade respetivam­ente – cuja fronteira era delimitada por um riacho que deu lugar a uma das ruas mais carismátic­as da capital croata, a Tkalciceva. Mas lá chegaremos, para almoçar.

Antes, há que passar pela imponente catedral, seguir para o colorido mercado Dolac, onde frutas e flores pontuam entre as mais variadas mercadoria­s, passar por um beco chamado Krvavi, cuja tradução é qualquer coisa como Ponte Sangrenta, ligação entre as antigas Gradec e Kaptol e palco de lutas mais ou menos violentas entre as gentes de uma e outra colinas, para subir a íngreme Radićeva, que leva à única antiga porta preservada de acesso à antiga Gradec, a Porta de Pedra (Kamenita vrata), onde debaixo do arco uma representa­ção da Virgem Maria, milagrosam­ente salva de um incêndio em 1731, é lugar de peregrinaç­ão e pedidos à ajuda divina.

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