Capital das segundas oportunidades
Osorriso despachado de Kosjenka – que diz, num português divertido, aprendido pela internet, que podemos chamar-lhe Maria porque até para os conterrâneos o seu nome, vindo de um conto tradicional croata de que a mãe gostava muito, é peculiar – apagou a má impressão que a noite anterior, a da chegada à capital da Croácia, tinha deixado dos zagrebinos. Nessa noite, que era de sexta-feira, tinha sido missão quase impossível encontrar, no centro de Zagreb, um restaurante que servisse jantar às dez da noite. Impossível mesmo foi encontrar quem o fizesse com simpatia, e diante da nossa estranheza, um empregado de mesa mal-encarado explicou, num inglês arrevezado: «Estamos nos Balcãs.» O que, verdade seja dita, não explica nada, uma vez que era já o quinto dia na Croácia, com passagem por Opatija, Nin, Zadar, Trogir e Split, e foi a primeira vez que demos de caras com más energias. A digestão exigia um café, mas isso, depois das onze, só no multinacional McDonald's. Na cidade dos corações, um museu dedicado às relações falhadas é, há seis anos, uma das grandes atrações turísticas. Podia ter sido essa a minha história com Zagreb: a de uma desilusão. Mas não. Valeu a pena dar-lhe uma segunda (e terceira) oportunidade.
A manhã, ajudada pela guia Kosjenka Firak, ou Maria, trouxe nova luz sobre Zagreb, mais de 900 anos de história, outrora dividida em duas colinas – a secular Gradec e a religiosa Kaptol, hoje, parte alta e parte baixa da cidade respetivamente – cuja fronteira era delimitada por um riacho que deu lugar a uma das ruas mais carismáticas da capital croata, a Tkalciceva. Mas lá chegaremos, para almoçar.
Antes, há que passar pela imponente catedral, seguir para o colorido mercado Dolac, onde frutas e flores pontuam entre as mais variadas mercadorias, passar por um beco chamado Krvavi, cuja tradução é qualquer coisa como Ponte Sangrenta, ligação entre as antigas Gradec e Kaptol e palco de lutas mais ou menos violentas entre as gentes de uma e outra colinas, para subir a íngreme Radićeva, que leva à única antiga porta preservada de acesso à antiga Gradec, a Porta de Pedra (Kamenita vrata), onde debaixo do arco uma representação da Virgem Maria, milagrosamente salva de um incêndio em 1731, é lugar de peregrinação e pedidos à ajuda divina.