ISTO (NÃO) É A AMÉRICA
O que é que as cidades de Dallas, Fort Worth ou Austin têm em comum? Nada. E tudo: oTexas. Eis o relato de uma viagem de carro pelo segundo maior estado norte-americano, com direito a noite passada num rancho. Se ainda não acredita que a realidade pode se
Se forem ao dicionário informal das viagens procurar o significado da expressão lugar comum vem lá a palavra Texas. Podem ir confirmar. As botas e os chapéus à cowboy, os ranchos, os Mustang, as carrinhas Ford de caixa aberta, as paisagens a perder de vista, os mexicanos, os poços de petróleo no fundo do quintal, está tudo aqui. Ainda assim, é difícil não abrir a boca de espanto. «O final de uma história deve ser, simultaneamente, surpreendente e inevitável», dizia Germain Germain, professor de francês em Dentro de Casa, filme de Francois Ozon. Já usei a frase em diversas circunstâncias, dá sempre jeito levar uma citação na mala de viagem, mas em poucas terá feito tanto sentido como aqui.
«Aqueles poços são mesmo de petróleo?», pergunto à menina da receção do Wildcatter Ranch, o rancho-hotel onde ficaremos alojados esta noite, a duas horas de carro de Dallas e a quatro de Austin. Há pequenas bombas de extração por todo o lado, à beira da estrada, como nos filmes, se bem que quando a cena cheira demasiado a Hollywood o viajante desconfia. «São mesmo poços de petróleo», responde, sorrindo da nossa ignorância. «De petróleo ou de gás», continua. E funcionam? – insisto. «Alguns estão desativados, porque o preço do barril está em baixo. A extração fica muito cara, mas quando o preço sobe a maioria das pessoas volta a ativá-los.» Kandera fala com conhecimento de causa. «O meu pai tinha um poço de petróleo na propriedade. Não sei como é que conseguiu chegar a velho com os dedos todos. É como no filme There Will Be Blood, viram?» Fala de Haverá Sangue, filme de 2007 realizado por Paul Thomas Anderson, com Daniel Day Lewis no principal papel, ele que ganhou o Óscar de melhor ator. A história passa-se na Califórnia, no final do século e início do século mas podia ter-se passado aqui. Passou-se aqui. A descoberta do ouro negro, as lutas fratricidas, as terras que se tingiram de vermelho porque os laços de sangue nunca poderiam comprar a prosperidade e a fortuna, apenas ameaçá-la. O coração estava na ponta da arma. «Benvindos ao Texas», dispara Kandera, com um sorriso.
O TEXAS é um estado gigante, maior do que a Alemanha e Polónia juntas. Tem a dimensão dos grandes filmes de Hollywood, dos grandes clássicos da literatura. Às vezes não parece, mas é real.