Volta ao Mundo

MANUEL DE OLIVEIRA NOBRE

MARINHEIRO, PILOTO, CAPITÃO (?-1850)

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Ponto

prévio: Manuel de Oliveira Nobre não fez nada sozinho. Ainda que «homem de uma intrepidez a toda a prova», como evocou José Agostinho Macedo no poema-crónica O novo argonauta, a viagem que comandou – «caso único na história naval de todos os povos» , nos escritos do cronista – foi empreendim­ento de uma tripulação de dezasseis homens, algarvios como ele. Manuel de Oliveira Nobre morreu cavaleiro da Ordem de Cristo, segundo-tenente da Armada e com o cargo de capitão do porto de Olhão. Até 1808, porém, era apenas um piloto experiente, um homem do povo, tanto quanto se sabe. Acontece nesse ano a revolta de Olhão, em que a população expulsa o exército francês, acendendo o rastilho para outros levantamen­tos que puseram o invasor em fuga. Quando o governo provisório de Faro decide comunicar a boa notícia à família real, refugiada no Brasil, começa a viagem de Oliveira Nobre e dos seus pescadores e marinheiro­s.

Foi num modesto caíque, o Bom Sucesso, que se fizeram ao mar – embarcação de pesca de vinte metros de compriment­o por quatro de largura. Fizeram escala na Madeira, para reabasteci­mento, e aí recolheram mais um tripulante. Apesar da experiênci­a, o piloto olhanense não tinha prática na carreira do Brasil, pelo que navegou com base na observação do rumo das correntes. O primeiro avistament­o do continente americano dá-se diante da Caiena Francesa. Rumo ao sul, o Bom Sucesso vê-se ao largo de Pernambuco, de onde navega até à baía de Guanabara, a 22 de setembro – menos de três meses após a partida. Perante o tamanho da embarcação e a inexperiên­cia da tripulação, o espanto da população é geral. Incluindo do príncipe regente D. João (depois, D. João VI), que os brinda com honras, cargos e compensaçõ­es monetárias, mas também com um iate para o regresso. O Bom Sucesso, esse ficou do lado de lá do Atlântico, um monumento à coragem dos homens – mas há uma réplica ancorada em Olhão, visão arrepiante ao imaginar a viagem que o original cumpriu.

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