A TERRA QUE NINGUÉM QUER
21°54’46”N 33°37’19”E BIR TAWIL, EGIPTO/SUDÃO
Nos mapas egípcios, pertence ao Sudão. Nos sudaneses, fica em território egípcio. Ninguém quer estes dois mil quilómetros quadrados de deserto encaixados entre os dois países. Ou melhor: há quem os queira, já surgiram vários reis e presidentes de micronações autoproclamadas com aspirações a reclamar o território. Mas nada de levar demasiado a sério. Afinal, Bir Tawil fica a duzentos quilómetros da estrada mais próxima, no meio de paisagem inóspita, desprovida de solo arável, população fixa ou cursos de água. Na verdade, pouco mais há ali do que areia, rochas e o ocasional gangue armado. O motivo para o seu impasse geopolítico prende-se com a definição da linha de fronteira. Linhas, aliás: uma desenhada em 1899, a régua e esquadro, e outra de 1902, com maior sensibilidade às ligações ancestrais a cada pedaço de terra, entregando Bir Tawil, a sul, ao Egito, e o Triângulo de Hala’ib, a norte, ao Sudão. Aí reside a disputa: ambos os países, um baseado na fronteira de 1899 e o outro na de 1902, querem Hala’ib (e a sua riqueza em minério). Quem aceitar Bir Tawil estará a reconhecer o traçado que não lhe convém e a abdicar do pedaço mais rico de terra. Portanto, ambos os países continuarão a esforçar-se ativamente por não ocupar Bir Tawil. Uma espécie de guerra, mas ao contrário.