Volta ao Mundo

O TEMPO NÃO PAROU, MAS ANDA MAIS DEVAGAR EM SÃO VICENTE. O RESTAURANT­E DA MODA OU O BAR DE PRAIA CONVIDAM A DESFRUTAR.

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no Quintal das Artes. Para a pintura mural que está a fazer e dispõe-se a mostrar o local que esteve abandonado até 2013 e que antes servira de esquadra e quartel. Polo conta que foi o primeiro artista a ocupar o espaço e que hoje conta com uma companhia e escola de teatro, vários artistas plásticos e músicos. Depois de entrar no espaço, hoje cheio de adereços de teatro e de carros alegóricos do Carnaval, Polo foi buscar artistas plásticos como Maiúca, um soldador exímio, que além de estruturas para o teatro monta a bateria do Carnaval do Mindelo. Os tambores e os timbales do grupo Mindel Samba, feitos a partir de bidões, são ali guardados mas, todos os sábados, saem para o terreiro do Quintal das Artes para ensaiar até aos dias de Carnaval.

Leila é outra das artistas residente. Ela é costureira, especialis­ta em trajes para o desfile do Carnaval e, sobretudo, de trajes de Mandinga, uma figura que recupera o passado continenta­l dos habitantes da ilha – os Mandingas pintam a pele de preto, envergam fatos de palha como se fossem guerreiros africanos e desfilam aos domingos, no mês que precede o Carnaval, pelas rua do Mindelo.

Polo Lima interrompe o que faz e leva-nos pela cidade. O Mindelo está mesmo a ponto de mudar, com o aparecimen­to de novos hotéis, restaurant­es e lojas de design africano, mas ainda há espaço para as típicas tascas, os barbeiros de navalha, as vendedoras de peixe e de fruta na rua e as casas de pasto como a Picapau. O letreiro à porta ostenta o ano de 1974, data em que o Sr. Lima (pai de Polo Lima) abriu o restaurant­e depois de ter trabalhado em Lisboa, Londres, São Tomé e Angola. Aos 82 anos ainda é ele quem dirige o restaurant­e, tanto na sala como na cozinha, e afirma que este «foi o primeiro restaurant­e do Mindelo. Continuo aberto porque junto a qualidade ao preço mais baixo do que os meus colegas», afirma. A casa está repleta de recados plasmados nas paredes que, em várias línguas, afinam pela mesma bitola de elogios à lagosta e à cachupa.

A caminho do Picapau passamos pelo mercado do peixe, mesmo em frente ao Quintal das Artes, onde todos os dias os pescadores descarrega­m atuns, bonitos, bicas, albacoras e charrocos em grande quantidade, que ali mesmo é arranjado por homens e mulheres a pedido. Há uma autêntica linha de montagem de amanhar o peixe e o povo junta-se, muitas vezes, apenas para ver este espetáculo diário. Logo ali ao lado, vemos a Torre de Belém do Mindelo, réplica da de Lisboa, que alberga hoje o Museu do Mar e que antes fora a capitania do porto. Mais adiante na Avenida Marginal, conhecida pelas gentes como a rua da Praia, passaremos pela Casa da Morna, também irmã da da capital portuguesa, onde Tito Paris é proprietár­io e artista pontual, a par de outros músicos e cantores locais. Nesta fileira estão algumas das melhores casas civis de arquitetur­a colonial, com as suas grandes janelas viradas ao mar e os varandins de sacada no primeiro andar, enquanto o rés-do-chão ostenta amplas portas para o comércio.

AO ESTADO PERTENCEM também outros dos edifícios mais bonitos e bem conservado­s – o já falado Palácio do Povo, levantado no topo da rua central do Mindelo com uma clara vocação para albergar os órgãos de poder

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