UM COPO ENTRE BONS MALANDROS
No grande ecrã, Boston é repetidamente retratada pelos olhos de mafiosos, polícias mais ou menos corruptos e rufias de pacotilha – a uns e outros nunca falta um bar de esquina onde reunir as tropas e matar a sede (ou algo mais). Eis um breve roteiro, percorrendo quatro filmes incontornáveis, para uma fictícia noite de copos entre Whitey Bulger, Frank Costello, Will Hunting ou Doug McRay.
implementadas normas de segurança de construção que ainda hoje vigoram. O melaço, esse levou várias semanas a ser limpo das ruas. O seu cheiro açucarado, diz-se, perdurou por décadas. Um cheiro enganador: doce, porém amargo na memória.
A Newbury Street fica longe dali, no bairro bem-posto de Back Bay, a um par de quilómetros do North End – coisa para trinta minutos de caminhada, cruzando novamente o Common e o Public Garden. É pouco provável que esse persistente aroma de melaço ali tenha chegado. No entanto, outro cheiro enganador enche as narinas de quem passa nas imediações do número 279. Cheira a bolos a sair do forno e isso não só desperta a gula como faz reparar na
e nos toldos com um queque e duas pás de forno cruzadas, ao estilo de bandeira de piratas – uma pastelaria com espírito punk, diria a lógica do óbvio. Mas em Boston nem tudo é o obviamente lógico.
Entra-se e não há ninguém. Apenas uma sala acanhada de chão xadrez, uma mesinha à janela e um forno gigante. A medo, abre-se a porta do forno e entra-se numa câmara semissecreta. É, afinal, uma loja de T-shirts disfarçada de pastelaria. T-shirts de autor, colecionáveis, ilustradas com mão e humor certeiros pelo próprio Johnny, ora brincando com figuras da cultura popular ora jogando com símbolos da cidade (portanto, souvenirs imbatíveis), sempre com um trocadilho pasteleiro e um cupcake encaixado algures na ilustração. As peças estão expostas em frigoríficos e são embrulhadas em caixas armadas, como se se tratasse de bolos a sério. Uma inesperada delícia.
Embora haja quem venha à Johnny Cupcakes em peregrinação (e mesmo quem acampe à porta) sempre que está para sair uma nova edição limitada de T-shirts, não é o único motivo para ir à
A rua já é de si um mimo, um alinhamento de brownstones, moradias oitocentistas de tijolo burro, com lojas a ocupar os pisos térreos porta sim, porta não. Coisas tão variadas como uma casa especializada em Harry Potter, rãs de chocolate incluídas (Fairy Shop, 272), outra que vende «ferramentas para nómadas», uma maneira pomposa e afetada de dizer acessórios práticos, presentes catitas e uma boa secção de literatura para maravilhar viajantes incorrigíveis (Topdrawer, 273), e uma loja de segunda mão que promete rock ‘n’roll clothes, nomeadamente um grande sortido de botas, casacos de cabedal e chapéus de cowboy (Rick Walker’s, 306). Isto sem esquecer a Newbury Comics (348), poiso inevitável para toda a sorte de geeks, dedicada à BD, ficção científica, séries de televisão e cinema,
com livraria, T-shirts, posters, bonecada e demais merchandising, bem como uma secção de discos de vinil escolhida com critério. É fácil perder aqui um bom par de horas.
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