“COMUNIDADE INTERNACIONAL INVESTE MAIS NO CONSUMO DO QUE NA PESQUISA. AGORA VAI HAVER MAIS ATENÇÃO À SAÚDE DOS VIAJANTES.”
celadas por parte dos clientes. Consequentemente, também não foram efetuadas novas reservas para o Verão de 2020 o que seria expetável nesta altura do ano.” É pois, um tempo de luta este: “O maior desafio que temos pela frente é que o cliente volte a sentir segurança em viajar para o estrangeiro. Claro que, isso não vai depender de nós agência, mas sim de diversas circunstâncias que se prendem com as formas de prevenção que venham a ser implementadas contra o Covid 19, nomeadamente a criação de uma vacina. Mas também outras circunstâncias, como a abertura de fronteiras e a retoma das rotas por parte da aviação.”
Neste quatro casos, acautelados os compromissos com os clientes e parceiros, o passo seguinte foi a reinvenção da oferta, à semelhança do que tem acontecido desde início de março com a sua revista de viagens. A Internet assumiu um papel ainda mais fundamental. Criação de novos conteúdos, comunicação personalizada dirigida aos clientes e o lema “Não Cancele, Adie” foram as pedras de toque para semanas, meses complicados.
Em nome da The Wanderlust, Miriam Augisto recorda os passos dados: “Alterámos o plano de comunicação porque as pessoas ficavam extremamente ofendidas com o facto de haver uma promoção de uma viagem. Então apostámos em continuar a estimular o wanderlust que há nas pessoas, mas não com o intuito de vender. No Instagram temos lançado alguns desafios, para as pessoas partilharem histórias de viagem, vídeos e fotos. É também uma forma de criar interação com quem nos segue. Vamos tentando manter algum engagement, mas isto exigiu uma reestruturação rápida.”
Para David Coelho, a rapidez de resposta também foi fundamental - “Estamos em permanente contacto com o nosso universo de clientes. No online, disponibilizamos toda a informação e conteúdos, conhecimento, cultura, momentos de partilha. Estamos a aproveitar todos os nossos especialistas, enólogos, escritores, historiadores e temos feito vídeo-conferências, sendo a maioria delas gratuitas.” A Tryvel prepara-se para abrir um novo espaço físico, como confirma David: “Temos prevista uma loja em Lisboa com 900m2. Uma agência com o seu espaço social, enoteca, espaço gourmet, exposições, antiquário, lounge, cinema e livraria. Um espaço fantástico,combinado com o conceito para uma loja interativa que temos no Porto e usando o canal online neste sentido.” E conclui: “Estamos todos a reinventar, é um desafio interessante. E eu gosto. Como disse
Charles Darwin, os que sobreviverão não serão os mais inteligentes ou mais fortes, serão os que melhor se adaptarem.”
Adaptação é também a ideia defendida por Artur Pegas. Limitadas as deslocações ao estrangeiro, é tempo de olhar para a proximidade - “Estamos a criar um conjunto de novos produtos em Portugal e em Espanha. Estamos a voltar ao início da Papa-Léguas, quando tínhamos programas de um e dois dias, caminhadas, descobertas, viagens fotográficas. Internacionalmente estamos a pedir preços para 2021. Quanto a coisas novas ainda este ano, o que vamos tentar pôr é Europa e, dentro da Europa, vamos virar-nos para Leste. Há países que vão ser as novas jóias da coroa. A Eslovénia já é, mas Bósnia, Sérvia, Montenegro ou Albânia também estão na calha. Vamos tentar inovar.”
Quanto a Nuno Castro e à Mercado das Descobertas, sempre com foco no turismo sustentável, cultural e criativo, a estratégia é diferenciada: “A nossa aposta em produto próprio no âmbito do turismo sustentável no nosso país, é sem dúvida a forma de darmos resposta às preocupações e necessidades dos clientes neste momento.” A preocupação ambiental e nacional da agência está evidenciada, por exemplo, na escolha de materiais para decoração de cada um dos seus espaços - “Privilegiamos marcas e empresas portuguesas no fabrico de todos os materiais usados”. Além disso, foi elaborado um plano de contingência, bem como a regulamentação das regras de proteção e higienização. “Tudo de acordo com as orientações da Direção Geral de Saúde e do Turismo de Portugal”, informa Nuno, acrescentando que já lhe foi “atribuído o selo Estabelecimento Clean & Safe”.
Vivem-se dias invulgares no mundo das viagens, conclui David Coelho: “O setor que está afetado em todo o mundo. Não há um turista em lado nenhum do mundo. Não há paralelo na história.” E coloca o dedo numa ferida social também: “Há cinismo da comunidade internacional, que investe mais no consumo do que no setor da pesquisa. Agora vai haver mais atenção à saúde dos viajantes.” Mas a pandemia também poderá trazer outros problemas, como o controlo ou mesmo encerramento de fronteiras, a exigência de comprovativo de saúde, o aumento dos preços e o medo do desconhecido. Cabe a cada um dos viajantes, amadores e profissionais, encontrar o caminho mais seguro e resiliente. Para já, estas quatro, e tantas outras agências e operadores em Portugal, não estão de braços cruzados. E isso faz toda a diferença.