SER FELIZ EM SÃO TOMÉ
Esta é A VIAGEM DA MINHA VIDA - onde quem faz a VM destaca um destino das suas memórias. Este mês com a nossa Produtora a aconselhar São Tomé.
Quando se é produtora numa revista de viagens, viaja-se mais no papel do que na realidade, mas de cada vez que alguém regressava de reportagem em São Tomé, crescia a vontade de lá ir. Ninguém voltava indiferente. O Nuno Mota Gomes estava até envolvido com o país como membro ativo da associação Sonha, Faz e Acontece, que dá apoio a estudantes da ilha do Príncipe.
Desta vez foram eles, o Ricardo Santos e o Nuno, a produzir, e seguimos muitas das suas recomendações. Primeiro São Tomé porque, depois de se visitar o Príncipe, parece não ter o mesmo impacto. Não sei ainda que mais impacto é preciso porque São Tomé já me ficou entranhado. Desta vez não chegámos ao Príncipe, mas já prometemos que havemos de lá ir.
Tenho, por defeito profissional, alguma compulsão em escolher os hotéis, guias ou transferes, mas depois deixo a coisa correr.
Queríamos, numa semana, ter tempo para tudo, descansar, comer, apanhar sol, aprender, passear, desligar. E houve tempo para tudo. O tempo tem outra medida. Rende mais. Leve-leve é o cliché ao qual não se pode escapar.
Ajuda o facto de, à chegada, o calor e a humidade nos lembrarem que já não estamos em Lisboa. O corpo e a cabeça percebem e desaparecem preocupações ou manias de horários.
Na cidade, onde ficámos três noites, o tem- po foi passado nos restaurantes Papa Figo, na Casa da Teté, com peixe grelhado, calúlu, búzios e muitas garrafas geladas de Rosema (a cerveja nacional), ou no mais tranquilo Omali Lodge, numa noite mais cosmopolita, mas em modo São Tomé.
Houve tempo para ir à procura de camisolas da seleção de São Tomé no mercado, para descobrir o bar Pico Mocambo e suas deliciosas gravaninhas e deixar a preguiça instalar-se.
Um dia inteiro foi dedicado a conhecer parte da ilha, até Neves para comer uma santola, tal como a redação nos tinha recomendado – obrigada! -, ou na Casa Almada Negreiros, perdida na região da Roça da Saudade, onde fomos apanhados numa intensa chuva tropical que tornou o almoço ainda mais especial. Pelo caminho comprou-se framboesas e fez-se uma visita à Roça Agostinho Neto, onde o amigo do Cau, o guia que nos devia ter acompanhado, tinha nascido. A visita marcou-nos para a vida.
Atravessámos parte da ilha até Inhame, pelo caminho fala-se sobre a vida na ilha, sobre as plantações intensivas de palma, sobre o consumo excessivo de álcool, os problemas de saúde. Nem tudo é perfeito no paraíso. Perfeitos são os sorrisos, abertos, daqueles em que os olhos também sorriem – bons para estes tempos de máscaras.
À nossa espera estavam bungallows em madeira, do Praia Inhame Eco-Lodge, a metros do mar, quilómetros de praia deserta, coqueiros e água quente. No terraço comum tomava-se o pequeno-almoço (que saudades da papaia), almoçava-se, jantava-se, ouvia música ao vivo e dançava-se. Durante quatro dias foi assim, com um passeio a pé até à praia Jalé, e de barco até ao Ilhéu das Rolas para fazer de turista no marco do Equador – e ter a certeza que éramos felizes mesmo sem o conforto do buffet do hotel de cinco estrelas. E sim, tudo aconteceu numa semana. Foi difícil regressar. Valeu-me a festa de anos cheia de amigos.
Às vezes uso o papel de produtora e volto, com a ajuda dos quatros episódios do programa de televisão na RTP3, que o Ricardo Santos, o Nuno Mota Gomes e o Luís Lopes trouxeram, poucos meses antes. João, o Príncipe ainda está à nossa espera.