Volta ao Mundo

SER FELIZ EM SÃO TOMÉ

Esta é A VIAGEM DA MINHA VIDA - onde quem faz a VM destaca um destino das suas memórias. Este mês com a nossa Produtora a aconselhar São Tomé.

- TEXTO E FOTOS CLÁUDIA CARVALHO

Quando se é produtora numa revista de viagens, viaja-se mais no papel do que na realidade, mas de cada vez que alguém regressava de reportagem em São Tomé, crescia a vontade de lá ir. Ninguém voltava indiferent­e. O Nuno Mota Gomes estava até envolvido com o país como membro ativo da associação Sonha, Faz e Acontece, que dá apoio a estudantes da ilha do Príncipe.

Desta vez foram eles, o Ricardo Santos e o Nuno, a produzir, e seguimos muitas das suas recomendaç­ões. Primeiro São Tomé porque, depois de se visitar o Príncipe, parece não ter o mesmo impacto. Não sei ainda que mais impacto é preciso porque São Tomé já me ficou entranhado. Desta vez não chegámos ao Príncipe, mas já prometemos que havemos de lá ir.

Tenho, por defeito profission­al, alguma compulsão em escolher os hotéis, guias ou transferes, mas depois deixo a coisa correr.

Queríamos, numa semana, ter tempo para tudo, descansar, comer, apanhar sol, aprender, passear, desligar. E houve tempo para tudo. O tempo tem outra medida. Rende mais. Leve-leve é o cliché ao qual não se pode escapar.

Ajuda o facto de, à chegada, o calor e a humidade nos lembrarem que já não estamos em Lisboa. O corpo e a cabeça percebem e desaparece­m preocupaçõ­es ou manias de horários.

Na cidade, onde ficámos três noites, o tem- po foi passado nos restaurant­es Papa Figo, na Casa da Teté, com peixe grelhado, calúlu, búzios e muitas garrafas geladas de Rosema (a cerveja nacional), ou no mais tranquilo Omali Lodge, numa noite mais cosmopolit­a, mas em modo São Tomé.

Houve tempo para ir à procura de camisolas da seleção de São Tomé no mercado, para descobrir o bar Pico Mocambo e suas deliciosas gravaninha­s e deixar a preguiça instalar-se.

Um dia inteiro foi dedicado a conhecer parte da ilha, até Neves para comer uma santola, tal como a redação nos tinha recomendad­o – obrigada! -, ou na Casa Almada Negreiros, perdida na região da Roça da Saudade, onde fomos apanhados numa intensa chuva tropical que tornou o almoço ainda mais especial. Pelo caminho comprou-se framboesas e fez-se uma visita à Roça Agostinho Neto, onde o amigo do Cau, o guia que nos devia ter acompanhad­o, tinha nascido. A visita marcou-nos para a vida.

Atravessám­os parte da ilha até Inhame, pelo caminho fala-se sobre a vida na ilha, sobre as plantações intensivas de palma, sobre o consumo excessivo de álcool, os problemas de saúde. Nem tudo é perfeito no paraíso. Perfeitos são os sorrisos, abertos, daqueles em que os olhos também sorriem – bons para estes tempos de máscaras.

À nossa espera estavam bungallows em madeira, do Praia Inhame Eco-Lodge, a metros do mar, quilómetro­s de praia deserta, coqueiros e água quente. No terraço comum tomava-se o pequeno-almoço (que saudades da papaia), almoçava-se, jantava-se, ouvia música ao vivo e dançava-se. Durante quatro dias foi assim, com um passeio a pé até à praia Jalé, e de barco até ao Ilhéu das Rolas para fazer de turista no marco do Equador – e ter a certeza que éramos felizes mesmo sem o conforto do buffet do hotel de cinco estrelas. E sim, tudo aconteceu numa semana. Foi difícil regressar. Valeu-me a festa de anos cheia de amigos.

Às vezes uso o papel de produtora e volto, com a ajuda dos quatros episódios do programa de televisão na RTP3, que o Ricardo Santos, o Nuno Mota Gomes e o Luís Lopes trouxeram, poucos meses antes. João, o Príncipe ainda está à nossa espera.

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