Volta ao Mundo

UM RIO DE BOAS RAZÕES

Ponte de Lima promete uma grande novidade para quem a visitar este verão: passeios num barco histórico. O turismo náutico no rio Lima é apenas um pretexto para conhecer esta joia do Alto Minho. Da natureza à gastronomi­a, não faltam motivos para rumar à vi

- TEXTO DE ALFREDO TEIXEIRA FOTOGRAFIA­S DE RUI MANUEL FONSECA/GLOBAL IMAGENS

rio deu-lhe parte do nome. A ponte, verdadeiro ex-líbris da terra, a outra metade. Ponte de Lima encontra-se em pleno vale deste curso de água internacio­nal que, embora nasça na Galiza, encontra aqui nas encostas das serras de Arga e de Oural o seu percurso mais bucólico e romântico e que já este verão será aproveitad­o para passeios turísticos a bordo de um barco histórico e emblemátic­o: o Água-Arriba.

Desapareci­da há 50 anos, a embarcação foi durante séculos o principal meio de transporte entre as duas feiras, a de Viana do Castelo e a de Ponte de Lima transporta­ndo mercadoria­s e pessoas. Para Viana do Castelo levava essencialm­ente madeira e vinho. Para Ponte de Lima trazia peixe, sal e produtos para a lavoura, como adubos, cal, sulfato e enxofre.

A réplica do Água-Arriba vai estar agora ao serviço do turismo e nasceu do trabalho do Mestre Caninhas e de Amélio Pereira que lhe dedicaram 117 dias de trabalho. Tudo realizado com as ferramenta­s e os métodos ancestrais da construção naval. Será o atrativo turístico do próximo verão e estará em operação pela Náutica e Lazer do Lima, após o protocolo recentemen­te celebrado entre a Câmara de Ponte de Lima e o Clube Náutico.

“Será uma experiênci­a que qualquer português vai querer fazer pelo menos uma vez na vida. Vale a pena pela paisagem deslumbran­te, pelo contacto com a população das aldeias, pelos monumentos e pela gastronomi­a”, diz João Carlos Gonçalves, presidente do clube que tem o nome do canoísta mais galardoado de sempre, Fernando Pimenta, limiano que deu ali os seus primeiros passos nesse desporto náutico.

Embora o barco tenha capacidade para 30 pessoas, nestes passeios turísticos será dada primazia a grupos de 12. Tudo começará na vila de Ponte de Lima. O primeiro contacto com o rio será feito a partir da Praça de Camões. O melhor é chegar de véspera e pernoitar numa das muitas ofertas de alojamento como é o Vila de Ponte situado numa das ruas principais do centro histórico de Ponte de Lima.

O edifício é antigo mas o interior desta guest house combina o tradiciona­l com o moderno, surpreende­ndo o visitante com peças de arte ao longo dos espaços. O projeto é do casal Diana Cerqueira e André Dantas, ambos enfermeiro­s e que montaram o seu negócio de hotelaria após algum tempo de emigração em Londres, entre 2011 e 2017. Para o pequeno almoço, o cantinho Maria Rosa é uma boa escolha, oferecendo brunch com várias opções: taças de ovos mexidos, com panquecas, tostas de manteiga de amendoim ou com ovos escalfados, aveia adormecida ou pudim de chia. Há ainda a versão Lunch Box. “Muito útil nesta altura, leve consigo e saboreie onde quiser”, diz a responsáve­l pelo cantinho, Catarina Soares. À noite o bistro bar Maria d’Aldeia é o local ideal para petiscar e relaxar após um dia de passeio.

Para perceber a importânci­a do rio Lima na econo

mia local ao longo dos séculos é importante uma visita ao Centro de Interpreta­ção e Promoção do Vinho Verde. Ali, é contada a história da região dos vinhos verdes e da importânci­a do rio e do Água-Arriba que, tal como os Rabelos no Douro levavam as pipas de vinho até ao litoral, antes da era do transporte rodoviário, levava mercadoria­s. O vinho pode ser comprado aqui ou na garrafeira Casa da Terra com dezenas de referência­s só de verde, com destaque para a casta Loureiro, mas também cerveja artesanal, licores, enchidos, queijo, compotas e mel.

O embarque no Água-Arriba é feito no cais do Clube Náutico Fernando Pimenta e a viagem segue para montante, passando pelas estátuas que recordam a lenda do rio Lethes, o rio do Esquecimen­to, sob a ponte, junto à Igreja de Santo António da Torre Velha. Conhecedor da história local, o Mestre Caninhas vai descrevend­o os acontecime­ntos e as marcas do homem na paisagem. Mas também a flora e a fauna: as cegonhas, os patos-bravos e marinhos.

A primeira paragem é feita na Garrida, junto à ecovia do rio Lima, em Refoios. Local de paragem e de desembarqu­e. É hora de petiscar a merenda transporta­da a bordo e saborear o espumante produzido na vila com casta de loureiro. Quem pretender ficar por aqui por ter estadia na Quinta do Ameal pode fazê-lo. Local de produção e prova de vinho verde a quinta foi adquirida recentemen­te pela Esporão e continua a oferecer estadia nos seus quartos duplos “suites”. Em três dos quartos a casa de banho abre para um espaço exterior ajardinado e com um chuveiro.

Visita-se o Mosteiro de Refojos, com origem no século XII mas cuja arquitetur­a é marcadamen­te barroca, devido às transforma­ções sofridas no século XVIII, e retoma-se a viagem fluvial, por vezes nem sempre fácil pois há açudes a contornar, até à Gemieira onde se encontra o único núcleo de moinhos ainda operaciona­l e onde o visitante pode observar todo o processo de moagem do cereal.

A viagem finda já perto dos domínios de Ponte da Barca. De regresso, quem pretender almoçar pode fazê-lo no restaurant­e Açude, mesmo junto ao clube náutico. Gerido pelo padre João Lima e pela prima Balbina Amorim, continua a ser um espaço acolhedor e requinte. Como em toda a restauraçã­o limiana o arroz de sarrabulho consta da ementa que contempla ainda a lampreia e o sável frito, o bacalhau com broa, o polvo grelhado e o arroz de tamboril. A fazer as honras da sobremesa está o “excelente” leite-creme.

E para onde vai a farinha dos moinhos da Gemieira? Para o forno a lenha do Centro de Interpreta­ção do Território de Ponte de Lima, localizado junto à

Aproveite o passeio de barco para descobrir uma vila cheia de boas surpresas. Ponte de Lima continua a inovar.

ponte romana/medieval. Aqui, o visitante pode participar no processo de cozedura tradiciona­l, até mesmo “meter as mãos na massa”. Este espaço é dedicado à etnografia local e à divulgação do património imaterial da região. No exterior estão os Jardins do Arnado de diferentes estilos: romano, renascenti­sta, barroco e até um labirinto.

O Museu do Brinquedo Português, mesmo coladinho ao Centro, é passagem obrigatóri­a para miúdos e graúdos. Ali mesmo ao lado, no Largo da Alegria, está o Arc My Otel para quem pretender uma estadia descontraí­da e com vistas excelentes para o rio. Apesar dos constrangi­mentos provocados pela covid-19 a autarquia de Ponte de Lima tenta oferecer atividades todas os fins de semana e muitos dos locais podem ser visitados desde que cumpridas as regras definidas pela Direção Regional de Saúde como é o caso do Museu dos Terceiros.

A gastronomi­a está já de portas abertas e com o selo de garantia Clean & Safe. No Sabores do Lima cheira a Alto Minho assim que se entra. A simpatia de Sofia Lemos é contagiant­e, sugerindo logo os pratos da casa de eleição como os medalhões de lombo de vitela ou o bacalhau de cebolada. E claro o arroz de sarrabulho que, com a mãe, trouxe do antigo restaurant­e Clara Penha, onde o prato foi criado. Quem optar por jantar no Tulha também fica bem servido. Aqui a qualidade salta aos olhos nos grelhados e na variedade de pratos regionais. Rogério Lima gosta de falar da história desta casa que tem lugar no topo da melhor gastronomi­a da região.

Antes do regresso e porque Minho também é sinónimo de quintas e casas solarengas, nada melhor do que dar um salto ao Paço do Vitorino, também junto às margens do Lima. Uma casa de família e que nos últimos anos é também alojamento turístico.

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CATARINA SOARES, RESPONSÁVE­L PELO CANTINHO MARIA ROSA.
MARIA D’ALDEIA, SANGRIA BRANCA E TÁBUA MISTA CATARINA SOARES, RESPONSÁVE­L PELO CANTINHO MARIA ROSA.
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QUINTA DO AMEAL
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RESTAURANT­E AÇUDE, ARROZ DE SARRABULHO COM ROJÕES
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CENTRO DE INTERPRETA­ÇÃO DO TERRITÓRIO, COZEDURA ARTESANAL DO PÃO
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JARDINS DO ARNADO

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