Rui Peres O MUNDO TODO EM CASA
Como uma ida à Bolívia fez recordar as conversas com o avô em Trás-os-Montes. A pandemia adiou-lhe uma volta ao mundo, mas não o impede de contar histórias.
NNo início deste ano, Rui Peres resolveu dar uma volta à sua vida. E outra ao mundo. Largou uma carreira na área das telecomunicações e fez-se à estrada. Era um desejo que já andava a ganhar forma há anos e as viagens não eram uma novidade. Afinal, já tinha perto de 100 países visitados no currículo. Desta vez, Rui queria estar um ano fora, mas em março tudo mudou. Estava no Chile quando a pandemia atacou, restringindo movimentos a milhões de pessoas em todo o planeta. Para trás já tinha deixado Argentina, Uruguai e Antártida, mas teve que voltar a casa, mais especificamente a Picote, Miranda do Douro, em Trás-os-Montes, a aldeia dos seus pais. Foi ali que nasceu, em 1982. E foi naquelas paragens de paisagens impressionantes e gente forte que aprendeu a falar mirandês, a segunda língua oficial de Portugal. Adiado o plano de dar a volta ao mundo, Rui concentrou-se na escrita e na fotografia que já lhe alimentavam o site mal-parado.com e a conta de Instagram @mal.parado. É nessas plataformas que mostra o mundo aos seus olhos e foi com esse desejo de partilha que chegou ao site da revista Volta ao Mundo (voltaaomundo.pt), onde as suas crónicas e sugestões podem ser lidas. São relatos pessoais, aliados ao desvendar de lugares isolados em Portugal, como os miradouros escondidos do Planalto Mirandês. De escrita direta e emotiva, com imagens poderosas e abrangentes, o trabalho de Rui é fruto da paixão pelo que nos rodeia. Este mês, Rui Peres é o olhar em destaque na edição em papel. A fotografia que escolheu foi tirada a meio do dia no Salar de Uyuni, na Bolívia. E tem um significado especial, que vem lá de trás no tempo: “Eu tinha 6 anos, mal sabia escrever. E o meu avô também não. Ele sentava-se comigo depois do seu dia de amanho da terra. Foram tantas as vezes que já éramos parte integrante do padrão de cores da mesa de estar. Eu queria ser grande, como todos os adultos, para poder viajar. Mas, antes disso, ele insistia: 'primeiro aprende as bandeiras dos países'. Continuo a aprender”.