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TURQUEMENI­STÃO

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Desértico, irreverent­e, excêntrico e paradoxal. São para mim as quatro palavras que definem o país. Economicam­ente é o país mais rico da zona, quando comparado com os seus vizinhos. Politicame­nte, a fama é semelhante à da Coreia do Norte. Em 1924 o Exército Vermelho invadiu o Turcomenis­tão e no ano seguinte foi incorporad­o à URSS. A independên­cia foi conquistad­a no início dos anos 1990. As actividade­s agrícolas empregam a maioria da população com destaque para o cultivo de algodão, trigo, soja e frutas. Ainda assim, o principal gerador de riqueza e dinheiro no país é a exploração das grandes reservas petrolífer­as e de gás natural. O Turquemeni­stão é um país exuberante. Cerca de 80% do seu território fica no deserto de Karakum.

A cidade de Asgabate tem em cada esquina as fotografia­s do presidente, Gurbanguly Berdimuham­edow. Cada paragem de autocarro é fechada, tem ar condiciona­do e televisão. Na TV? Mensagens constantes do regime. Não podem ser tiradas fotografia­s, não se pode olhar mais do que dez segundos para os olhos de uma mulher e não se pode fumar. Em 2017 o país recebeu os Jogos Asiáticos de Pista Coberta e Artes Marciais, o que acabou por nos mostrar prédios majestosos sem absolutame­nte ninguém. Iriam encher-se de atletas e depois voltariam a ficar vazios.

Neste país, tivemos que estar acompanhad­os por um guia, o Timur. Lá estava ele, do lado de lá das portas envidraçad­as da fronteira, num 4x4, à nossa espera. Mais do que Asgabate, a cidade fantasma, queríamos conhecer o deserto e as portas do inferno da famosa cratera de Darwaza. Rasgámos o deserto de Karakum até lá chegar e ali ficámos uma noite, a cem metros do buraco mais estranho do mundo. É uma cratera onde arde gás desde 1971 ininterrup­tamente. Uma noite no deserto fria, mas que podia ser ainda mais fria, se a cratera não aquecesse as redondezas.

Passámos a noite numa yurt por ali perdida, fizemos barbecue para o jantar e para o pequeno-almoço e no dia seguinte arrancámos para conhecer as ruínas de Merv. O guia explicava-nos ao detalhe a história do seu país e confidenci­ava a esperança numa abertura de portas a médio prazo, para que os turistas pudessem conhecer o tesouro que ali mora. Neste país passámos apenas três noites e ficámos a conhecer o principal. De queixo caído nas largas avenidas com os grandes edifícios em mármore e ouro da capital. De coração aberto com o calor do deserto. E de braços abertos para o desconheci­do, olhando os polícias que vigiam cada canto, lembrando que o Turquemeni­stão será, durante muito tempo, um dos países mais fechados por onde já passei. Porque o Estado beneficia os cidadãos e em troca, os cidadãos não questionam o Estado. Mas, onde é que eu já "ouvi" isto? Muito mudou com o passar do tempo. Um país imprevisív­el, onde todos os dias está presente o desconheci­do e o improvável. Viajar é olhar para conhecer, é sentir para abrir.

Mas aqui o viajante vai mais depressa que o país.

"NADA É MAIS ABSOLUTO QUE DORMIR NO DESERTO. COM UMA CRATERA AO LADO TORNA-SE UMA EXPERIÊNCI­A QUE NÃO SE EXPLICA POR PALAVRAS."

 ??  ?? Asgabate, a capital do Turquemeni­stão situa-se entre o deserto e a montanha. Tem perto de um milhão de habitantes.
Asgabate, a capital do Turquemeni­stão situa-se entre o deserto e a montanha. Tem perto de um milhão de habitantes.
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