É A GEOGRAFIA QUE NOS UNE
UM JOGO DE TELEMÓVEL COM PERGUNTAS DE GEOGRAFIA. TODOS OS DIAS 50 MIL PESSOAS RESPONDEM A QUESTÕES SOBRE O PLANETA: POPULAÇÃO, CAPITAIS, BANDEIRAS, MAPAS, RELIGIÃO, CHEFES DE ESTADO, IDIOMAS, MOEDA, ÁREA, PONTOS CULMINANTES, PRODUTO INTERNO BRUTO, ESPERANÇA DE VIDA OU LEMA DO PAÍS, ENTRE MUITAS OUTRAS OPÇÕES. FOMOS JOGAR E PERCEBER QUEM SÃO OS JOGADORES DO WORLD GEOGRAPHY,
ONDE ESTÃO, O QUE RECOMENDAM NOS SEUS PAÍSES E DE ONDE VEM ESTE AMOR PELA GEOGRAFIA
Ojogo World Geography – Geografia Mundial foi criado em janeiro de 2016 e descarregado mais de 10 milhões de vezes. Tem cerca de um milhão de jogadores com a aplicação instalada e cerca de 50 mil pessoas de todo o mundo jogam-no diariamente nos seus telemóveis. Podia ser apenas mais um jogo online de cultura geral, mas é muito mais do que isso. E já há uma comunidade, grupos nas redes sociais e interação entre gente de todos os continentes. Sem radicalismos e com bom humor. O processo para jogar é simples e gratuito. Basta ir a uma das lojas de aplicações online e procurar por World Geography Game. Depois, é começar a jogar, desde o nível mais baixo, respondendo às perguntas e ultrapassando desafios. À medida que as etapas são cumpridas, vão sendo desbloqueados novos temas. E o nível de dificuldade aumenta. Para cada pergunta há várias opções de resposta, que podem ir sendo reduzidas utilizando ajudas conquistadas durante o processo de jogo. A coisa começa simples, com identificação de países no mapa, capitais dos países ou estados, população, bandeira, emblema ou religião. Depois vêm os nomes e altitude dos pontos culminantes, a religião ou o idioma. E quanto mais pontos se ganham, mais cadeados são abertos para possibilitar novos temas e desafios. Nos níveis mais elevados, o grau de conhecimento vai até expetativa de escolaridade, terra arável, produto interno bruto nominal, chefe de Estado ou fertilidade.
Martin é um dos responsáveis pelo jogo e pela gestão das redes sociais e contacto com os intervenientes. Criou um grupo de desenvolvimento do jogo, juntamente com alguns jogadores que estão no topo da classificação. Um deles é Yeshua, que Martin destaca como “um homem surdo de Espanha, muito humilde e educado, um autêntico nerd da Geografia desde a infância que gostaria de ser professor de Geografia para alunos surdos. Estava à procura do seu emprego de sonho pelo mundo, andou a viajar durante dois anos, tem uma história muito interessante.” Atrás de cada nickname ou nome há uma realidade e, claro, também não faltam portugueses (além do editor da Volta ao Mundo) que se renderam ao World Geography Game. Nuno Massano é um deles - “Adoro jogos de Geografia e este é, de longe, o melhor de todos, é super completo.” Confessa-nos ainda que esta paixão surgiu do seu amor pela aviação. Pedro Gomes, outro jogador luso, diz ser “muito
NA COSTA ATLÂNTICA DOS EUA, UM DOS LOCAIS ACONSELHADOS É O ESTADO DE MAINE, TERRA DE MARISCO DE ALTA QUALIDADE.
O PARQUE NACIONAL DE COTOPAXI
FICA A CERCA DE 50 KM DA CAPITAL DO EQUADOR, QUITO. O VULCÃO QUE LHE DÁ NOME ELEVA-SE A 5897 METROS DE ALTITIDE.
curioso pelos países e suas culturas”, enquanto Nuno Reis, da cidade do Porto, diz viajar “mais do que a média das pessoas, passando um mês por ano fora de casa”. Começou por se entreter com o Sudoku, mas acabou por mudar e agora, “neste 2020 de ficar em casa”, quer “saber mais coisas sobre os locais que surgem no jogo”.
Ainda em português, mas do outro lado do Atlântico, está Lucas Anselmo Pereira, brasileiro morador em Madrid há 11 anos. “Desde menino gostava de saber os nomes dos países e suas capitais. Com o tempo comecei a aprender idiomas e a minha vontade de viajar aumentou.” Já visitou mais de 120 países e tem uma opinião clara sobre o objetivo deste tipo de passatempo: “Jogos como esse aguçam a nossa curiosidade para conhecer, respeitar e preservar um mundo tão bonito e diverso como o nosso.” É por esta linha de pensamento que os criadores do jogo também vão: “Há muita confusão criada pela Política, mas este jogo não é uma ferramenta política, e sim uma ferramenta educacional com o objetivo de entreter pessoas que gostam de Geografia. É por isso que este jogo contém não apenas membros das Nações Unidas, mas também muitos países e territórios parcialmente reconhecidos”. E quanto às fontes de informação utilizadas para realizar os diferentes questionários, a variedade é considerável: Wikipedia, CIA, FBI, UNESCO ou PEW Research Center.
Lançámos o desafio no grupo de Facebook do jogo para que os jogadores escolhessem o que de melhor se pode visitar, ver, fazer, comer, experimentar nos seus países e estados. E não faltaram sugestões. Jaroslav Ramos Smrz, da Chéquia, destaca o centro histórico de Praga e uma PilsnerUrquell gelada, “a melhor cerveja do mundo”, de acordo com as suas palavras. Já o compatriota Oldrich Kraus defende a cidade de Brno, dizendo que “agora já ninguém vai a Praga, está demasiado cheia de gente”.
Nos Estados Unidos da América, Andrea Vazquez elege o Parque Nacional Acadia e a bela lagosta do estado de Maine, enquanto Ewan Macdonald opta pelo Texas - “Um verdadeiro barbecue texano e Hill
O MATTERHORN, OU MONTE CERVIN, É UMA IMAGEM DE MARCA DA SUÍÇA. SEM ESQUECER O FONDUE DE QUEIJO, COMO REFERE UM DOS DOS JOGADORES.
Country, a linda região de campo onde o churrasco tem origem”. Ainda nos imensos EUA - 9 933 517 km2 de área, segundo os dados do jogo, atualizados periodicamente -, Terry Osbergy escolhe o lago Okoboji “e os 15 mil acres [6,070 hectares] de lagos glaciares no noroeste do Iowa”.
Já no Equador, Natalia Castro elege o Parque Nacional de Cotopaxi e llapingachos, um prato tradicional da montanha. Ainda em espanhol, mas do Uruguai, Edison Pereira Haedo recomenda o chivito assado e a sobremesa Chajá. Palacio Salvo em Montevidéu, as praias de Punta del Este e Punta del Diablo ou maravilhas naturais como o Valle Edén e as serras de Minas. Edison sugere ainda outro programa: “um clássico de futebol entre Nacional e Peñarol no estádio Centenário, o estádio construído para a primeira final de um Campeonato do Mundo”, em 1930.
Jogadores da Europa também há muitos. Das mais variadas proveniências e com dezenas de sugestões para as próximas viagens. O suíço Patrick Kurzen elege um dos cartões-postal do seu país: o monte Cervin ou Matterhorn, sem esquecer o fondue de queijo. Ali perto, na Alemanha, a jogadora Claudia Neutzer aponta para a região de Ostfriesland - Frísia Oriental, na fronteira com a Holanda,
A NÃO PERDER NA ALEMANHA ESTÁ TAMBÉM A FLORESTA NEGRA. CAMINHADAS, VINHOS E HISTÓRIAS DE ENCANTAR PARA VIAJANTES DE TODAS AS IDADES.
onde as caminhadas, o marisco eo chá são boas formas de passar o tempo. E Kay Niehaus, também da Alemanha, escolhe um passeio de teleférico até ao topo do Zugspitze, uma viagem pela Floresta Negra e as boas cervejas e salsichas da Baviera.
No centro da Europa há também jogadores da Eslovénia, como Biserka Vovk. A jogadora aconselha uma visita a Postojnska, uma caverna famosa onde mora um ser especial, o proteus anguinus, o chamado peixe-humano. De Inglaterra, Xavier Black destaca a cidade de Norwich, com o castelo, a catedral e o mercado local. E junto à costa vai ter que arranjar tempo para provar o marisco. Peixe e batatas fritas é um clássico inglês, por isso Natalia Evans optou por esta escolha referindo ainda a cidade de Blackpool. Diz ela que “para a experiência ser completa, uma gaivota deve roubar-lhe o peixe das mãos”. Ainda em inglês, mas na Irlanda do Norte, Alannah Greenlees escolheu o programa de visitar um pub tradicional com música ao vivo, visitar o percurso na natureza The Gobbins Cliff Path, a norte de Belfast.
Todos os dias, mais um desafio, mais uma série de perguntas, de pontos amealhados e de bónus conquistados. Gente de todo o mundo que se encontra num jogo online para telemóvel. Professores e alunos, velhos e novos, militares e civis, viajantes e sedentários, das mais variadas profissões e estratos sociais. Querem competir, saciar a curiosidade, aprender um pouco mais sobre o planeta em que vivemos. Kevin Madlener, um dos 50 mil que todos os dias acedem ao jogo Geografia Mundial, não tem dúvidas: “Adoro aprender sobre o mundo e todos os seus factos. Acredito que essa é uma grande razão para ter desenvolvido uma mente aberta, apesar de não viajar”. A canadiana Shannon Mowat Enns vai no mesmo caminho: “Acredito verdadeiramente que estamos todos ligados neste planeta e quanto mais sabemos menos teremos que enfrentar estereótipos sobre as diferentes culturas e os diferentes países.” Ou como escreve Toula Dodopoulou num dos grupos das redes sociais: “A
Terra parece-me mais pequena quando viajo através dos olhos dos meus colegas jogadores. Não tinha conhecimentos de Geografia até ao dia que comecei a jogar”.
A CIDADE COSTEIRA INGLESA DE BLACKPOOL É CONHECIDA PELA DIVERSÃO E PELA PRAIA. MAIS UMA DICA DOS JOGADORES DO WORLD GEOGRAPHY.