“Saber estar e romper a tempo, correr os riscos da adesão e da renúncia, eis a política que vale a pena” Francisco Sá Carneiro
OS PROMETEDORES
No fim-de-semana passado começou a campanha eleitoral, no rescaldo das eleições internas do PS. De um lado e do outro, ou seja, do PS e PSD, sucedem-se promessas variadas, declarações vazias, acusações recíprocas, muito pouco de substancial e bastante de palavreado mais ou menos oco. Olho para as trocas de galhardetes entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro e imagino que estou a ouvir os pregões dos vendedores de carros usados que ficam um em frente ao outro, nos dois lados de uma estrada. Parece tudo uma disputa entre partidos já gastos, em segunda mão. De um lado, oito anos de uma governação recente que atirou Portugal para a cauda da Europa e, do outro, silenciosos sinais de que não se sabe bem que caminho seguir. É certo que até ao lavar dos cestos prosseguirá a vindima dos votos, mas parece que a vinha da política foi atacada pelo míldio e ficou frágil e quebradiça.
Gostava de ver programas eleitorais concretos em vez de promessas de despesas e milagres que se desfazem ao fim de pouco tempo. Gostava de ver ideias em vez de conversa fiada. Gostava de não sentir que na política estamos rodeados de mediocridade, de uma mediania nebulosa e anestesiante, perdidos entre teses da moda e ecos do passado.
Não ouço nos protagonistas destas eleições o reconhecimento do presente nem o caminho do futuro. Só vejo ideias gastas, sem energia para conterem as muitas ameaças que espreitam. À minha frente vislumbro uma parede esburacada que é o retrato do estado a que chegou o sistema político português, sem partidos confiáveis, com corrupções distribuídas de forma equitativa, com demagogos emergentes e outros reincidentes. É por isto que o número de eleitores que não sabem em quem votar é tão grande nas sondagens que têm aparecido. Os partidos que se propõem ser governo vivem de uma batota eleitoral que estimula que existam votos que não têm tradução prática na escolha final.
Como aqui escrevi há semanas, nada da Lei Eleitoral foi alterado desde há décadas. Cinquenta anos depois do 25 de Abril, os partidos do chamado arco da governação protegem-se mutuamente para manter um sistema que protege os grandes, dificulta os partidos mais pequenos e, mais grave ainda, divide os eleitores entre duas categorias – os que têm um voto que elege e os que votam mas não elegem ninguém –, aqueles votos desperdiçados graças ao método de Hondt. Nas eleições legislativas mais recentes, aproximadamente 13% dos votos expressos não serviram para eleger ninguém: caíram no limbo. E houve mais de 40% de abstenção. Querem que acreditemos nos políticos que mantêm este sistema?