AS MENTIRAS A QUE O estilo Carmen Miranda no Carnaval da política
Vem aí o Carnaval, período durante o qual ninguém leva a mal não importa o quê, embora eu não precise do respaldo destas datas específicas para ser inconsequente, irritante e até ligeiramente abusivo.
Pois que está aí, ao alcance de todos, esta data foliona, mas os corsos, travestidos de debates entre líderes políticos, já ocuparam a pantalha. As mensagens surgem, travestidas de matrafonas, embora uns se julguem tão sedutores quanto as porta-bandeiras das escolas de samba brasileiras. Ou até reencarnações de Carmen Miranda, capazes de dançar equilibrando um cabaz de fruta em cima da cabeça.
Todavia, um tipo normal como eu sente-se completamente sem chão quando lê notícias que confirmam a sua santa ignorância. Por exemplo: “Francisco Monteiro troca Márcia por Joana e leva fãs à loucura”, “Carlos Sousa compreende desistência de Miguel Vicente” e “Catarina Siqueira refaz vida amorosa com neto de Ruy de Carvalho”. Não faço a mínima ideia de quem são estas peças (à exceção, claro está, de Ruy de Carvalho), mas devem ser relevantes por serem notícias. E se são notícia e não sei quem são é porque estou a falhar no exercício da minha atividade de “Espona” (Especialista em porra nenhuma).
E, assim sendo, será que tenho préstimo para ajuizar o que se passa neste nosso Portugal, a começar por assuntos extraordinariamente impactantes tais como saber o método escolhido por Cristina Ferreira para dividir a fortuna e o dinheiro no casamento com João Monteiro, embora ainda não exista data marcada para a boda, ou perceber que a PSP (apesar dos protestos) cumpre com eficácia a sua missão, tendo conseguido deter, no Porto, um homem de 43 anos que havia furtado um estetoscópio, uma raquete de padel e um aparelho de medir a tensão, presumindo-se que este último se destinasse a perceber o estado do coração depois de praticar a referida modalidade.
Portanto, o melhor é voltar ao território da política, na medida em que um tipo pode verbalizar as maiores asneiras sem que ninguém se incomode, porque, afinal, o Carnaval vai durar pelo menos até 10 de março.
Do meu promontório observo um fenómeno interessante. Vejamos, muitas pessoas criticam os programas desportivos alegando que os mesmos falam de tudo menos do futebol jogado. Ora, agora temos os debates televisivos entre líderes políticos e logo a seguir a análise dos ditos a cargo de tudólogos encartados que são praticamente idênticos aos programas desportivos na forma e também na manifestação de algum clubismo envergonhado.
No fim de contas, a pretensão é tratar os espectadores como pessoas com dificuldades de entendimento que precisam de um percetor para lhes explicar o que efetivamente disseram os líderes durante o debate. Do género: “vocês ouviram as linhas, nós revelamos as entrelinhas”. É por estas e outras que indivíduos como Mestre Umar, astrólogo, grande médium vidente “com um dom hereditário e especialista em todos os trabalhos ocultos”, começam a ter dificuldades em encontrar clientes, derivado da concorrência destes tudólogos.
Já alguém perguntou ao Mestre Umar o que irá acontecer nas eleições de 10 de março. Pois é. Têm medo. Vai-se a ver ainda acerta mais do que as sondagens e depois arranja-se um grande problema, sendo provável que as TV fiquem pejadas de especialistas em búzios, tarô marselhês, borras de cafés, estrelas, magia negra, magia branca, amarrações e afins.
Felizmente, há circunstâncias que raramente mudam. Este ano podemos voltar a ter um Carnaval molhado, os marchantes pouco vestidos a tiritarem frio e os organizadores a lamentarem o azar que é chover no inverno.
Logo a seguir vamos ter outra festança, a campanha eleitoral, com muitos carros alegóricos repletos de candidatos a deputados a distribuírem brindes, sendo que muitos prometem rasgar as vestes a bem do país. É como no Carnaval. É só gente a fazer de conta e ninguém os leva a mal por isso. É uma questão de hábito.
Tenha um bom fim de semana e aproveite o Carnaval se for caso disso. Se não for, aproveite na mesma. E obrigado pelo seu tempo.